edição 38 | 2023 | janeiro a março
Eduardo Mendes,
diretor de Tecnologia da Aegea.
Por Eduardo Mendes, diretor de Tecnologia da Aegea
Ter um planeta mais verde, mais azul, requer tecnologia em vários aspectos. “A contribuição vem com o uso de tecnologias desde os temas mais conhecidos e explorados, como os que dizem respeito à detecção de vazamentos, até os mais sofisticados, que estamos implantando agora na Aegea, que dizem respeito a conhecer com mais precisão a quantidade de água necessária para se extrair dos mananciais e rios, a fim de se ter um ciclo da água mais equilibrado, ou seja, a água que eu estou extraindo da natureza é a água que eu trato, que eu distribuo e que, após usada, a maior parte volta a ser coletada como esgoto, e este, após tratado, é devolvido para a natureza. Quanto mais equilibrado for este ciclo, mais próximos estaremos de um ciclo autossustentável.
Atualmente o problema é que o ciclo não é equilibrado, pois extraímos da natureza mais do que necessitamos, isso para poder compensar as perdas, os gatos, etc. E este adicional pode acabar prejudicando a fauna, a flora e todo o ecossistema que também precisa da água. Começando de trás para a frente, com ferramentas tecnológicas que ajudam na previsibilidade do consumo, e usando esses dados em ferramentas de simulação hidráulica, trabalhando em paralelo na redução de perdas, estamos chegando cada vez mais próximos desse equilíbrio. Todo este processo, de forma integrada, só é possível por meio de ferramentas tecnológicas avançadas, que usam inteligência artificial e uma alta capacidade de processamento para juntar não apenas os dados dos sistemas internos, mas também dados climáticos, demográficos, populacionais, etc. Estamos também conversando com startups e universidades para nos ajudarem em toda esta modelagem.
A tecnologia consegue ajudar em vários fatores, mas existe a questão do aculturamento. Pessoas ainda deixam a torneira pingando. Aqui no Brasil isso é ainda mais sério porque o país é conhecido por ter fartura de água doce, então algumas pessoas acreditam, equivocadamente, que a água nunca vai acabar. Além disso, é um país continental, com uma discrepância de disponibilidade hídrica enorme entre os municípios, alguns com rios enormes como Manaus, onde moradores acham que dificilmente vai faltar água por causa do tamanho do rio, ao passo que temos outros municípios que estão praticamente na seca, e temos de captar água de lugares muito distantes.
A tecnologia está dividida em duas grandes vertentes – a das empresas, trazendo melhor monitoramento e eficiência na captação de água, e a de consumo, que não depende de empresas, mas está baseada em comportamentos, em saber qual o uso que as pessoas fazem da água. Tem uma startup na Alemanha que consegue medir se a duração do banho de uma pessoa é a mesma dos vizinhos dela, da mesma faixa etária. E aponta quantos minutos a mais ou a menos cada uma fica no banho. Visa à conscientização. A pergunta é: quanto eu, cidadão, consumo de água? Será que estou consumindo mais do que eu deveria?
A primeira, a tecnologia empresarial, vai ajudar as empresas a serem mais eficientes. A segunda, de conscientização, vai ajudar as pessoas a saberem se estão fazendo bom uso daquilo que a natureza oferece. Na Aegea, a tecnologia já está ajudando a empresa a se tornar mais sustentável e gerar mais sustentabilidade.
A tecnologia tem ajudado a Aegea a expandir os serviços para mais pessoas com maior rapidez e mais respeito ao meio ambiente. O equilíbrio é justamente assim: a empresa está fazendo com que mais pessoas tenham acesso à água mais rapidamente, sem deteriorar as fontes naturais de água? Pois a água não é infinita, nossa busca é por fazer a distribuição correta para todas as pessoas, sem impacto ao meio ambiente, pois a água se torna cíclica se ela passa pelo ciclo inteiro.
A Aegea tem investido muito em ampliar o acesso à água tratada e à coleta e ao tratamento de esgoto com um olhar muito voltado para essa circularidade do processo, investindo na redução de perdas, no aumento da eficiência energética, em sistemas mais inteligentes, com maior entrega. Estamos também investindo em ferramentas de monitoramento de consumo, para definirmos melhor o perfil de demanda, e com isso ter maior precisão no volume captado da natureza. E tudo isso tem muito a ver com tecnologia.
A pessoa vive sem telefone, sem energia, sem gás, mas não sem água. Ela toma banho, faz sua higiene, sua comida, e temos usado várias ferramentas e inteligência artificial para ter uma melhor precisão de quanto se tem de produzir, armazenar e distribuir de água para que as pessoas tenham a quantidade que necessitam em suas casas.
O segundo item mais importante do que ter acesso é: em qual quantidade. Todos têm os mesmos direitos, não podemos ter pessoas com muito acesso e outras com pouco. Quanto colocar de água na torneira de cada casa tem sido um dos principais temas que a Aegea está estudando e, em contrapartida, quanto eu capto de água dos rios e mananciais de forma que não prejudique aquela fauna, aquela flora, que também dependem daquele manancial para sobreviver?
Já está sendo implantado, e a Aegea vai começar a utilizar em 2023, o Monitoramento dos Mananciais via Satélite. Nós vamos conseguir olhar ao longo de todo o ano, de hora em hora, como o manancial está se comportando para saber o quanto será captado, pois o manancial é vivo. Alguns têm uma oscilação de volume enorme, então tem meses em que vale a pena captar e reservar, outros em que se deveria captar menos e usar a quantidade que foi reservada para que não prejudique o manancial, nem a fauna e a flora.
A ferramenta de monitoramento está sendo implantada, deve começar a operar pelos mananciais sujeitos à estiagem mais severa e depois ser estendida aos outros.
A segunda novidade é de mais cuidado com os clientes. Investimos bastante em ferramentas de customer experience, para que todos os canais – lojas de atendimento, sites, aplicativos – estejam muito mais integrados e amigáveis, para que as pessoas se sintam acolhidas e atendidas. A pessoa vai lá para resolver um problema e queremos que ela tenha o seu problema resolvido da forma mais rápida e mais simples possível. Estamos trabalhando muito nessa linha de entender e atender as necessidades do cliente. Queremos estar nos municípios para ter uma proximidade maior com nossos clientes. Vamos continuar investindo muito nisso.
A empresa está passando por uma verdadeira transformação digital, mas está sendo feita por pessoas e para pessoas. Quando a gente fala em transformação digital, não podemos nos esquecer de que ela passa por pessoas. Eu posso colocar a tecnologia que for, se a pessoa não estiver apta ou não entender o porquê daquela ferramenta, não vai usar. Se ela não usa, não tem transformação. Então estamos fazendo um aculturamento com muito treinamento e incentivo para que as pessoas busquem novas soluções, busquem inovação.
Mais do que um diretor de Tecnologia, sou um diretor de pessoas. Qualquer projeto de tecnologia precisa envolver as pessoas, pois somos uma empresa de pessoas que prestam serviços para outras pessoas. A Aegea não só fomenta a inovação como a transformação digital por meio do aculturamento e do incentivo às pessoas para buscarem inovação e tecnologias. Não tem sustentabilidade sem tecnologia e aculturamento das pessoas.
Ele lembra que existem ótimas tecnologias que estão aí há bastante tempo que nunca conseguiram decolar porque as pessoas não compraram a ideia. A torneira é um ótimo exemplo de tecnologia a serviço do saneamento – se a pessoa não fechar, deixar pingando, a tecnologia simples e funcional de fechamento da torneira não serve para nada. Tecnologia para um planeta mais verde temos muitas, o que falta ainda é conscientização, é enxergar que os recursos são um bem finito.
Para acompanhar as mudanças e ajudar o planeta a ser mais sustentável precisamos nos transformar, parar de olhar para trás e olhar para a frente. Vai voltar a estudar? Estude algo diferente do que aprendeu na faculdade. Temos de buscar o que é novo e isso nem sempre está nas escolas, nas universidades, está nas ruas, em outras pessoas, nos livros, nos sites, precisamos estar mais abertos, mais atentos, olhar mais, buscar mais, entender mais, conversar mais, entender que o próprio modelo de negócios está mudando.
Outra dica é interagir com outros colaboradores, com os profissionais que estão chegando à empresa. A Aegea é uma empresa supernova, só tem 12 anos, uma empresa que cresce por aquisições, incorporações e, a cada ano, temos muitas pessoas diferentes chegando, que podem trazer novos olhares. Temos oportunidade única de trocar, de ouvir, de aprender. Temos de aproveitar este crescimento, trocar e aprender. O conhecimento precisa constantemente ser rejuvenescido, senão envelhece. Se estivermos abertos a ensinar e a ouvir, vamos evoluir muito mais rápido.