“Em um país onde negros e pardos são os que mais frequentemente vivem sem acesso adequado a serviços essenciais, como saneamento, segurança e moradia digna, as mudanças climáticas, somadas à injustiça social e ao racismo ambiental, aumentam a vulnerabilidade dessa população aos riscos ambientais.”
O trecho acima faz parte de uma pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), do Observatório de Clima e Saúde da Fiocruz e da Universidade de Lisboa.
Os dados mostram que as populações mais vulneráveis são mais impactadas pelas mudanças climáticas e que o aumento da mortalidade é maior entre pessoas pretas e pardas do que entre brancas.
Entender que o racismo, ainda que seja considerado crime no Brasil, se apresenta em nosso dia a dia de maneira estrutural, é um passo importante na busca de uma sociedade mais justa e igualitária. A Aegea dedicou uma semana para refletir sobre a questão sob vários pontos de vista, durante os dias 18 e 22 de novembro. O período foi escolhido por incluir o Dia Nacional da Consciência Negra, considerado feriado no país todo pela primeira vez.
“O momento ainda é de muita reflexão e de muito respeito. É uma maratona, pois tivemos mais de 350 anos de escravidão, as mazelas ainda estão aí”, afirmou o diretor da Aegea, Josélio Alves Raymundo, na abertura.
Um dos responsáveis pela implantação do Respeito Dá o Tom, em 2017, o diretor lembrou das conquistas e avanços do programa de diversidade, igualdade racial e de gênero da Aegea. “A Companhia foi pioneira ao começar um programa quando quase ninguém falava sobre o tema”, disse.
“É uma honra ter participado desde o início e ver a evolução que o programa tem tido, diminuindo as distâncias para proporcionar um ambiente cada vez melhor para a nossa sociedade, pois o Respeito Dá o Tom não é um programa de negros, é um programa de todos”, lembrou.
“O Respeito Dá o Tom é o programa mais transversal da Aegea e ele se tornou um dos ícones de atração de novos talentos, principalmente entre os trainees”, afirmou Márcia Costa, vice-presidente de Gestão de Pessoas.
“O respeito transcende a questão racial, é um tema de Direitos Humanos, e quando falamos em brasicidades, que é um dos talentos da Aegea, de respeitar as diversidades, estamos cumprindo grande parte dessa temáticas”, disse Édison Carlos, presidente do Instituto Aegea e diretor de Sustentabilidade da empresa.
Márcia Costa mostrou a importância de cada um para fazer a mudança necessária na sociedade brasileira. “Nós temos um papel muito importante no processo. Como líderes, temos que jogar uma pedrinha todos os dias para influenciar quem está ao nosso redor”, destacou a VP.
No segundo dia da semana, 19 de novembro, o tema foi Diversidade, Uma Potência para o Crescimento. A reflexão contou com a participação do diretor-executivo do Pacto de Promoção da Equidade Racial, Gilberto Costa e de outra convidada, a presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB, Silvia Souza.
A pergunta norteou o painel com a participação de Luana Preto, diretora-executiva do Instituto Trata Brasil e Benilda Brito, ativista pelas mulheres negras.
A partir dos dados publicados pelo Instituto Trata Brasil e apresentados pela Luana, ficou evidente que a população negra, especialmente as mulheres, sofre mais com a falta de saneamento no Brasil.
Benilda então refletiu sobre os dados com as lentes do racismo ambiental e justiça social. Fez um retrato dos diversos racismos enfrentados pela população negra brasileira, com menos acesso também à saúde, educação de qualidade e oportunidades de trabalho.
“As atividades que cada um de nós realiza na nossa rotina de trabalho, em qualquer área da empresa, contribuem para que essa situação seja superada, para reduzir as desigualdades raciais e sociais no nosso país”, disse Marina Rodrigues, gerente de Sustentabilidade na Aegea e do Instituto Aegea.
No painel que discutiu o papel de todos na promoção da igualdade, Theo van der Loo, ex-CEO da Bayer, falou sobre seu engajamento em diversidade racial e integração ao longo de quase uma década. Abordou a necessidade de ações concretas para promover a inclusão social.
“A falta de oportunidades para uma gama diversificada de indivíduos no local de trabalho faz com que muitas pessoas talentosas não sejam incluídas nas discussões e decisões das empresas”, afirmou.
“A luta contra o racismo é uma responsabilidade coletiva e todos devem refletir e agir para promover a igualdade racial e de gênero”, disse.
O executivo expressou preocupação com o que foi ensinado no passado e o que precisa ser corrigido hoje, questionando as omissões na educação.
“Todo executivo deve fazer uma reflexão pessoal sobre suas contribuições para a diversidade e inclusão”, indicando a necessidade de responsabilidade individual na promoção de um ambiente mais plural.
Nalva Moura, fundadora da Consultoria Yalode, mencionou que um dos principais desafios é reconhecer a questão estrutural da escravização e suas consequências para os descendentes de africanos.
“O Brasil teve mais de 350 anos de escravização e cerca de 5 milhões de africanos foram trazidos ao país, o que impacta a estrutura social atual”, lembrou.
Para ela, as empresas demoram a entrar na discussão sobre racismo, apesar de ser um tema sensível e necessário para a transformação da sociedade.
“Apenas 0,4% das posições de CEO nas 500 maiores empresas são ocupadas por mulheres negras, e somente 8% das posições de liderança são ocupadas por negros, o que evidencia a desigualdade racial no mercado de trabalho”, disse.
Ela sugere que as organizações devem implementar programas de desenvolvimento e metas para aumentar a presença de negros em posições de liderança, reconhecendo a necessidade de ações afirmativas.
Fabianna Strozzi, diretora de Gestão de Pessoas da Aegea, mencionou que a empresa está no caminho certo em suas iniciativas de inclusão e diversidade, refletindo um compromisso de sete anos com o respeito a esse tema pelo RDT.
Lembrou ainda dos objetivos atrelados à emissão dos bonds sustentáveis. A companhia se comprometeu a aumentar de 32% para 45% as mulheres em cargos de liderança e de 17% para 27% os negros, também nas mesmas posições, até 2030.
O diretor de EHS da Aegea, Wagner Vicente Felix Ferreira, expressou preocupação com a invisibilidade das pessoas no mercado de trabalho, que resulta em falta de voz e pertencimento, tornando o ambiente menos seguro. Os participantes concordaram que é fundamental romper as barreiras do preconceito e da invisibilidade para promover um lugar mais inclusivo.
O foco do encerramento foi a importância da inclusão e equidade dentro da Aegea. Foram evidenciadas as ações preparadas na promoção da empregabilidade e no desenvolvimento de colaboradores negros, além da sensibilização e letramento de todos que atuam na Companhia. Vanessa Favareto, gerente de Educação Corporativa da Aegea, mediou a conversa.
Foram apresentados os processos de preparação e as iniciativas de diversidade da Aegea, que incluem os programas de mentorias. Os participantes enfatizaram a importância das consultorias, a relevância delas para o crescimento da carreira, destacando que é uma possibilidade de aprimorar competências e fazer a diferença na comunidade.
Outro aspecto levantado durante o painel é a necessidade de treinamento e seleção eficazes dos trainees para garantir que a dedicação para uma sociedade com mais justiça racial seja mais impactante.
A semana foi concluída com o compromisso de diálogo e colaboração contínua para aprimorar os esforços de diversidade e inclusão, juntamente com o reconhecimento dos desafios enfrentados na liderança para o engajamento dos colaboradores.
Todos os debates foram transmitidos ao vivo para os colaboradores da Aegea. Além disso, todas as regionais da Companhia, por meio dos Comitês do Respeito Dá o Tom, trabalharam fomentando a pauta da luta contra o racismo nas unidades, com os parceiros de negócios e com a comunidade, reforçando ainda mais a cultura que sustenta a Aegea.