edição 36 | julho 2022

POR MAIS DIVERSIDADE

AÇÕES CONTRA O RACISMO

Lives, campanhas, debates e treinamentos ampliam conscientização

Texto: Rosiney Bigattão

O depoimento de Salomon Kayer, haitiano que está no Brasil e trabalha como agente de saneamento na Aegea de Santa Catarina, na live promovida em 3 de junho pelo Programa Respeito Dá o Tom, Juntos Contra o Racismo, poderia ter sido embalada pela música “Haiti”, na voz de Caetano Veloso: o Haiti é aqui, o Haiti não é aqui. Pelo depoimento de Salomon, o Haiti não é aqui, não. “Logo ao chegar descobri que o racismo é bem forte no Brasil. Lá no Haiti o preconceito é muito baixo, a população é muito religiosa e aqui comecei a ver as coisas de maneira diferente, cheguei a pensar em voltar, mas fico focalizando nos meus objetivos, pois é um país que também dá muitas oportunidades de aprendizado. E segui em frente”, disse ele.

Salomon contou na live que a Aegea abriu as portas para ele, para trabalhar, estudar e aprender. “A Aegea é como uma família, todo mundo se juntando para fazer o melhor, daí ficou mais fácil esquecer o que eu passei antes de chegar aqui”, disse. Juntar trabalho, estudo e aprendizado tem sido a estratégia do Respeito Dá o Tom para lutar contra o racismo e ampliar as oportunidades para um Brasil mais igualitário. Além do programa, a Aegea conta com o Instituto Aegea, a área de Gestão de Pessoas, de Recursos Humanos, da Academia Aegea e outras áreas da empresa, que dão suporte e toda a estrutura, para que as ideias se concretizem em ações que resultam em mais diversidade e igualdade.

Mais oportunidades em programas afirmativos

O modelo adotado pela Aegea foi elogiado pelo consultor de diversidade Theo van der Loo, o ex-CEO da Bayer que ficou conhecido pelo seu envolvimento com as questões raciais. “Ao invés de usar a inteligência para ficar justificando, eu passei a atuar. Tinha muito medo de errar e fui conversar com as pessoas negras. O protagonismo dessa causa tem de ser de uma pessoa negra, mas uma pessoa branca como eu tem de ser uma apoiadora, pois quem criou essa situação de racismo não foram as pessoas negras. Quem trouxe os negros da África, escravizados, foram os brancos. Precisamos ter esse tipo de conversa com mais pessoas brancas para mudar alguma coisa lá na frente”, afirmou.

Segundo ele, não dá para modificar o que foi feito, mas daqui para a frente dá para melhorar bastante esta questão dando mais oportunidades em programas afirmativos. “É preciso tocar o coração das pessoas que têm os privilégios, das pessoas brancas, para começar a mudar esta situação e avançar nesta questão”, disse Theo em sua participação na live (leia também artigo dele na seção Opinião). Este tem sido o caminho escolhido pelo programa de igualdade racial da Aegea. “Temos tido muitos eventos sobre racismo estrutural e tem sido muito gratificante ver o engajamento de todos, principalmente da diretoria”, explicou a coordenadora do Respeito Dá o Tom, Keilla Martins, que fez a mediação da live.

Avanços que se sentem na pele

“Percebo que o novo executivo precisa se envolver cada vez mais com esses temas. Temos divulgado esta postura antirracista da Aegea, temos empoderado nossos negros para que se sintam valorizados, entendo que nossos líderes precisam apoiar quando colaboradores sofrem racismo nas ruas. Isso é fundamental, essa energia de reação, pois precisamos mostrar para a sociedade que não somos racistas. Sempre que eu participo de live aprendo mais e mais e estamos juntos, esta é uma luta lenta, mas na Aegea temos avançado bastante, tenho sentido esse avanço na pele”, apontou Reginalva Mureb, diretora-presidente das unidades da Aegea em Santa Catarina.

Reginalva contou um pouco de sua trajetória. “Sou de família bastante humilde, hoje tenho um cargo bastante importante dentro da Aegea, temos outros executivos negros e sempre contaremos com mais e mais na empresa, principalmente agora, com as metas sustentáveis (veja mais na matéria anterior). Theo comentou sobre as metas. “Para atingi-las não tem piloto automático: precisa tocar corações e não apenas mostrar cifras. Vindo do coração será mais perene”, disse o consultor. Luana Santos Braguin, coordenadora do Comitê do Respeito Dá o Tom da Ambiental Metrosul (RS), que também conta sua trajetória ao falar das metas, foi uma das convidadas da live, que teve mais de 300 participantes.

“Parabéns pelo evento, mais de 300 pessoas nos enche de esperança de que não estamos sozinhos. Em relação à questão racial, o único risco que existe é o de não fazer nada. Melhor seguir um caminho como o escolhido pela Aegea, de determinar as metas; com certeza vocês vão chegar lá antes disso”, afirmou.

Líderes bem treinados

Para aumentar ainda mais o engajamento da diretoria, a área de Recursos Humanos, o Respeito Dá o Tom e o Instituto Identidades do Brasil, o ID_Br, se juntaram na capacitação Treinamento de Lideranças. O objetivo foi gerar reflexão nas pessoas que ocupam cargos de liderança na Aegea para que possam ser referência na ação e promoção da igualdade racial. “Foram momentos de trocas e ricos em aprendizagem e partilhas”, disse Keilla Martins, coordenadora do Programa Respeito Dá o Tom.

“O treinamento foi essencial para que todos entendam o Programa Respeito Dá o Tom, a importância do tema e a responsabilidade de cada um em reduzir e quem sabe, um dia, eliminar o racismo na nossa sociedade”, disse Marcos Valério Araújo, diretor-executivo da Águas do Rio (RJ). Para Valdir Junior, coordenador de Operações da Aegea no Espírito Santo (ES),  o treinamento foi um marco. “Esse tipo de capacitação é essencial para disseminação de conhecimento e nivelamento de informações”, afirmou.

Um viés de atuação importante para a conscientização tem sido as Rodas de Conversas, como a realizada em 25 de julho, quando se comemorou o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, pelo Comitê do Respeito Dá o Tom da Ambiental Serra (ES).

“São ações assim, que promovem a conscientização acerca de temas ligados à diversidade e à igualdade racial, que proporcionam um ambiente livre de racismo e qualquer tipo de discriminação. Além disso, destacam a necessidade de promover equidade nas oportunidades profissionais da Aegea. Todos os colaboradores, dos mais jovens aos mais experientes, de distintas regiões, são convidados a refletir e descobrir como ambientes ricos em diversidade são mais criativos, inovadores, e como contribuem para melhores resultados”, disse Fábio Arruda.