edição 34 | janeiro 2022
Por Eduardo Pimenta*
A volta da ocorrência de cavalos-marinhos para a Lagoa de Araruama (RJ) exemplifica a aparente recuperação de sua população para esse ecossistema lagunar como também efetiva a recuperação dessa lagoa.
Um signo icônico da zoologia que reúne características de vários animais. Os gregos denominaram-no de hipocampo, que quer dizer cavalo (hippos) e lagarta (campe). Observando melhor, é possível perceber que reúne outras características. Seus olhos se deslocam independentes nas órbitas, como os dos camaleões. Também é deles a principal característica de sua pele, que muda de cor de acordo com o ambiente. Sua cauda é preênsil, como a do macaco, e a barriga é similar à do canguru, sendo a fêmea responsável por introduzir os ovos na região ventral do macho, responsável por incubar a prole.
Todas essas características fazem com que esse peixe ósseo chame a atenção de quem tem o prazer de observá-lo, preferencialmente em seu habitat natural. Nesse caso, a Lagoa de Araruama, de águas tranquilas, rasas e repletas de pequenas larvas de camarões, moluscos e outros pequenos animais, que fazem parte da dieta alimentar dos cavalos-marinhos.
Estão ameaçados de extinção por ser considerados iguaria, uso medicinal, perda de habitat, poluição, captura incidental e comercialização para aquariofilia. São protegidos pela Portaria 445 do Ministério do Meio Ambiente.
Outrora presente na Lagoa de Araruama, desapareceu na década de 90 quando a lagoa colapsou em razão da eutrofização decorrente dos despejos de efluentes em seu interior, oriundos dos municípios de seu entorno. Para muitos pescadores e pesquisadores, o fator determinante para o seu reaparecimento foi a melhoria da qualidade da água da Lagoa de Araruama, por ser ultrassensível e estar presente somente em águas limpas e livres de poluição.
A Prolagos, concessionária de água e esgoto que assumiu a gestão do saneamento a partir da privatização dos serviços, vem se esforçando para contribuir com a recuperação lagunar. A lagoa oferta serviços ecossistêmicos de importância social, econômica e ambiental à população, gerando externalidades positivas, emprego e renda. A degradação do passado havia colocado em risco todo esse potencial. Em particular, as ações do Consórcio Intermunicipal Lagos São João (CILSJ), e da concessionária, recuperaram a lagoa, uma região conhecida mundialmente como das mais belas do mundo.
Com a chegada da concessionária, o tratamento do esgoto passou de 0% para 80% e vem sendo ampliado com cinturões construídos no entorno lagunar, interceptando efluentes e evitando sua chegada in natura ao corpo hídrico. A partir daí, a população da Região dos Lagos (RJ) vem avistando a ocorrência de centenas de cavalos-marinhos. Um relatório emitido este ano pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) aponta que a lagoa está com 85% das praias com águas próprias para o banho.
Essas aparições chamaram a atenção de pesquisadores do Projeto Cavalos-Marinhos, do Rio de Janeiro, que monitoram a Lagoa de Araruama. Entre maio e setembro deste ano já foram catalogados mais de 200 animais, segundo a coordenadora do projeto, Natalie Freret-Meurer. A espécie ocorrente é o Cavalo-Marinho do Focinho Longo, muito comum na costa brasileira.
De acordo com a pesquisadora: “O fenômeno ‘La Niña’ pode estar influenciando na entrada desses animais na Lagoa de Araruama. Mas só o tempo vai poder esclarecer essas questões, ainda é muito cedo para podermos afirmar, o estudo ainda está no início. Mas pra gente está bem claro que eles acharam um nicho disponível, se adaptaram e estão até se reproduzindo na lagoa” – ressalta.
Outrora sua ocorrência se restringia à primeira fração da lagoa que sofre maior influência da água oceânica, conhecida como áreas 1 e 2. Segundo os pescadores, nunca haviam visto cavalo-marinho na área 3 lagunar.
A Universidade Veiga de Almeida, em parceria com a Prolagos, executa desde janeiro deste ano o Projeto Imersão, com objetivos de analisar os parâmetros físico-químicos da água, fomentar ações de educação ambiental, levantar a avifauna e promover mutirões de coleta de microlixos das praias lagunares.
Eduardo Pimenta é coordenador de Engenharia Ambiental da Universidade Veiga de Almeida (RJ). Biólogo, ambientalista e ex-secretário de Meio Ambiente de Cabo Frio (RJ), desenvolve trabalho de monitoramento da Lagoa de Araruama com alunos de diversos cursos.