edição 31 | abril 2021

Cuidar da saúde mental deve ser exercício diário

Por Graziella Budacs Sanchez, exclusivo para a Revista Aegea. 

A mente é responsável por produzir pensamentos e gerenciar a forma como reagimos às situações da vida. A máquina que faz a mente funcionar é chamada de cérebro, e é uma mente saudável que proporcionará saúde e qualidade para o funcionamento cerebral.  

No passado, saúde era entendida apenas como ausência de doença, mas atualmente a Organização Mundial da Saúde (OMS) a define como o estado de completo bem-estar físico, mental e social, ou seja, saúde é ter qualidade de vida.

PRECONCEITO TEM DE SER COMBATIDO

Mesmo com todas as evidências de que a saúde da mente deve ser tratada como prioridade, ainda é uma área que recebe pouca atenção. Um dos principais motivos são o tabu e as crenças errôneas transgeracionais, ou seja, afirmações erradas que passam de geração para geração como sendo verdades absolutas. Alguns exemplos dessas crenças são: “isso passa sozinho”; “depressão é coisa de gente fraca da cabeça”; “te falta fé”; “psicólogo e psiquiatra é coisa de louco”; “mude o pensamento e seja mais positivo”, entre tantas outras que certamente você já ouviu ou até mesmo falou.  Esses pensamentos limitam nossa qualidade de vida.

A fonte primária do preconceito é a ignorância, portanto para combatê-lo é essencial falar sobre o tema e compartilhar informações de fontes confiáveis.

OS TRANSTORNOS MAIS COMUNS

Os mais comuns são transtornos de ansiedade, que incluem Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), Transtorno do Pânico e Ansiedade Generalizada (TAG); e os transtornos depressivos do humor, comumente chamados de depressão. Neste último, o Brasil ocupa a segunda colocação mundial, ou seja, 5,8% da população.   

Um estudo feito pela pesquisadora Sara Evans-Lacko, da London School of Economics, aponta que o Brasil perde 78 bilhões de dólares por ano com a queda de produtividade causada pela depressão. 

É preciso desconstruir o tabu e prestar atenção nos sintomas: o corpo fala!

VOCÊ TEM ALGUM SINTOMA?

O sintoma costuma sinalizar que algo dentro de nós não vai bem e precisa ser cuidado. Metade dos casos de transtornos de ansiedade e depressão teve seus primeiros episódios por volta dos 14 anos. Geralmente começa com um estado de estresse e evolui cada vez que os recursos internos se esgotam.   

A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que 96,8% das pessoas que tiraram suas próprias vidas tinham um transtorno mental não acompanhado. Isso não quer dizer que todas as pessoas com transtorno mental vão tentar contra a própria vida, mas, se não tratados de forma correta, pode haver uma evolução drástica.  

Por isso é essencial buscar ajuda assim que os primeiros sintomas surgirem e eles podem ser: 

– Alteração do humor sem motivo aparente, como irritabilidade frequente ou choro constante;  

– Alteração do sono, tendo vontade de dormir além do normal ou episódios frequentes de insônia;  

– Alteração de peso, como ganho ou perda relacionados a compulsão alimentar ou ausência de apetite;  

– Angústia no peito e necessidade de isolamento social constante;  

– Perda da vontade de atividades que antes proporcionavam prazer; 

– Diminuição da libido.   

O suporte profissional deve ser imperativo! O psicólogo possui ferramentas científicas para investigar a origem e o gatilho dos sintomas, que ajudam na ressignificação de crenças disfuncionais que causam sofrimento e proporcionam ferramentas para o enfrentamento de crises.

O psiquiatra é o médico que faz o diagnóstico diferencial, ou seja, investiga os sintomas que estão sendo gerados por uma doença de causa orgânica, como hipotireoidismo, que pode desenvolver estados de depressão e torpor, ou o hipertireoidismo, que pode causar sintomas de ansiedade.

O psiquiatra também poderá prescrever medicação adequada, caso seja necessário. Cabe ressaltar que as medicações para o tratamento de transtornos mentais evoluíram nos últimos anos e seus efeitos colaterais, em sua maioria, são mínimos.   

Importante: nestes tempos de demandas para a saúde mental, há pessoas se dizendo especialistas de comportamento humano que prometem ferramentas milagrosas e resultados rápidos para tratar transtornos mentais. Cuidado! Apenas o psicólogo e o psiquiatra são profissionais habilitados e capacitados para cuidar da saúde da sua mente.

DICAS PARA CUIDAR DA SUA SAÚDE MENTAL

No dia a dia você pode praticar alguns cuidados que impactam na qualidade da sua saúde mental.   

Tenha horários na sua rotina e saiba quando parar. A obstinação pode nos levar a esgotamento e adoecimento. Portanto, aprenda a dizer e ouvir não; nosso corpo tem limites e precisamos saber respeitá-los.  

Inclua exercícios físicos no seu dia a dia: eles ajudam na oxigenação do cérebro e liberam hormônios que causam bem-estar, como endorfina, que proporciona sensação de alegria e alívio das dores.  E dopamina, que age como tranquilizante e analgésico para o corpo. A meditação também libera esses mesmos hormônios, além de melhorar a atenção e o foco.   

A motivação para essas atividades não é nata, ou seja, não nasce conosco, mas com persistência pode se tornar parte da nossa rotina. Depois que o corpo se habitua a receber essa chuva de remédios naturais e o cérebro encontra prazer nessas novas atividades, elas se tornam necessárias. Portanto, comece devagar, mas comece!   

Alimente-se de forma saudável e hidrate seu corpo. De acordo com um estudo realizado pela neurocientista Tara Swart, do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT), uma boa alimentação ajuda na saúde do cérebro e contribui para tomarmos boas decisões.  

Cuide da qualidade do seu sono. Duas horas antes de dormir se desligue de redes sociais e programas televisivos, que podem excitar o funcionamento mental. O mindfulness ajuda nesse relaxamento, pois estimula a atenção plena no momento presente. Há diversos aplicativos que podem auxiliar nessa prática.  Procure fazer uma alimentação leve à noite para que a digestão seja fácil e não impacte na qualidade do seu sono.  

Desligue-se das notícias ruins. É certo que precisamos de informações, mas evite que elas sejam a principal atração do seu dia. As emoções são influenciadas pelo ambiente externo e, se ele está repleto de medo, essa será a emoção predominante em nós.  

Relacionamentos saudáveis: busque se aproximar, mesmo que virtualmente, de pessoas que lhe fazem bem.  Somos seres sociais e precisamos uns dos outros. O estudo mais antigo da história da ciência, realizado pela Universidade de Harvard, conclui que o que nos mantém saudáveis e felizes enquanto passamos pela vida são os relacionamentos saudáveis. Invista neles.  

Cuide de si mesmo e se proporcione “prazer positivo”, aquele que lhe faz bem e não tem consequências desagradáveis. Você é a pessoa mais importante da sua vida, cuidar de você e da sua saúde mental não deve ser visto como egoísmo e sim como prioridade. Aprenda a dizer “sim” para coisas que lhe fazem bem.

COMO AJUDAR?

Se alguém que você conhece está passando por sofrimento psíquico, você pode ajudar por meio de uma escuta ativa, empática, acolhedora e, principalmente, sem qualquer julgamento.   

Tenha muito cuidado com as palavras, elas podem ser gatilhos para a piora dos sintomas, e jamais compare dores! Como diriam os Titãs: “Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração”, e quando temos a nossa dor comparada, um sentimento de angústia e culpa nos invade.  

O mais seguro e recomendável é você repassar informações de fontes confiáveis e encorajar a pessoa a buscar ajuda profissional. Este é um caminho importante para a quebra do tabu. 

Lembre-se: transtorno mental não é loucura, não é doença. É uma mente em sofrimento, que precisa de ajuda para enxergar novas formas de viver com qualidade.  Quando a mente está em transtorno, a vida perde o sentido e o colorido.

Seja gentil com as pessoas e consigo mesmo. Todos enfrentamos batalhas e temos vulnerabilidades. Em tempos de tantas adversidades, qualquer dose de gentileza é um bálsamo para a alma.  

Graziella Budacs Sanchez  

@psicograziellabsanchez 

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