edição 38 | 2023 | janeiro a março
Édison Carlos,
presidente do Instituto Aegea e diretor de Sustentabilidade da Aegea.
Texto: Rosiney Bigattão
Será que vai chover? A pergunta, que era considerada falta de assunto, é hoje uma das principais preocupações em qualquer evento nacional ou internacional sobre questões ambientais, pois falar de mudanças climáticas vai além da falta ou do excesso de chuvas, mas se trata de tentar entender o que está acontecendo com o planeta e sobre o futuro dele. Um assunto que sempre teve importância para a Aegea e ganhou relevância ainda maior nos últimos anos.
“A Aegea tem uma atuação muito voltada para as questões ESG e cuidar do meio ambiente está intrínseco em sua atividade fim, pois os benefícios do tratamento da água e do esgoto para as pessoas e para o meio ambiente são bastante conhecidos. Geramos tantas externalidades positivas com o dia a dia das nossas operações, ao tratar o esgoto e não deixar o esgoto in natura ir parar no meio ambiente, não poluir um rio, não poluir uma praia, por exemplo. São muitos impactos positivos à natureza, mas também temos de minimizar ao máximo os impactos de nossas operações”, explica Édison Carlos, diretor de Sustentabilidade da empresa e presidente do Instituto Aegea.
“Faz parte de nossa responsabilidade ambiental”, afirma ele. Diante disso, a Aegea vem reforçando o trabalho para usar energia cada vez mais limpa, mitigar as suas emissões e a geração dos resíduos. Quanto às emissões, a empresa ganhou no ano passado um reconhecimento: o Selo Ouro do Programa Brasileiro GHG Protocol, a mais alta categoria entre os inventários que visam dar transparência às emissões de gases de efeito estufa (GEE). A certificação é gerenciada pelo FGVces, o Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV, que tem como objetivo apresentar os números e o esforço dos programas internos das empresas pela melhor gestão de carbono.
“A Aegea está caminhando, primeiro, para conhecer profundamente todas as suas emissões, com todos esses inventários que está fazendo, com a publicação do GHG Protocol identificando os processos de tratamento e todos os gases gerados. É um ponto de partida importante; nós estamos sendo muito criteriosos com a análise do nosso quintal, com certificações externas, nossa engenharia fazendo os cálculos, uma consultoria como a KPMG referendando os números e uma outra grande consultoria, que é a Bureau Veritas, certificando. São três instâncias de aprovação dos nossos números para sabermos o tamanho do nosso desafio”, diz Édison.
Segundo o executivo, quando vemos o balanço de emissões do Brasil, por exemplo, as emissões da Aegea ou mesmo as emissões do setor de saneamento são comparativamente pequenas perto de outros setores, no entanto precisamos fazer nossa parte. “Se olharmos para o tamanho das emissões do Brasil, o que vem do desmatamento ou do agronegócio, por exemplo, são muito superiores, mas isso não nos isenta. Sendo parte do problema, por menor que seja, temos de encontrar formas de mitigar. Temos muitas externalidades positivas, mas isso não nos exime de fazer o trabalho de reduzir as emissões, e acredito que todas as empresas devem pensar assim, pois tudo que se refere ao meio ambiente requer ações colaborativas”, argumenta o diretor de Sustentabilidade da Aegea.
Além da certificação dos números, a Aegea trabalha em outra frente: levantamento de tecnologias de reaproveitamento dos gases. “Uma frente liderada pela nossa Engenharia de Baixo Carbono, com um olhar muito atento do Comitê ESG, liderado pelo próprio CEO, está pesquisando formas de reaproveitar os gases gerados. A partir daí, vamos verificar quais os compromissos públicos que podemos assumir de forma a reduzir ao mínimo os gases de efeito estufa. O objetivo é estar alinhados aos objetivos internacionais.”, explica Édison Carlos.
Na Aegea, o desafio só aumenta, pois a empresa não para de crescer. “Brincamos que é um ‘alvo móvel’, pois quando você mira o tamanho do desafio ele já mudou, entrou uma nova concessão e os números mudaram. O crescimento da empresa naturalmente faz crescer também os desafios, mas o positivo é saber do comprometimento da Aegea em enfrentar esses desafios e continuar gerando mais e mais impactos positivos para as pessoas e o país. Estamos colaborando para que o Brasil cumpra com as metas do novo Marco Legal do Saneamento, e assim sairmos dessa situação incômoda de conviver com falta do que há de mais básico ao cidadão”, argumenta ele.
“Todos estão conscientes de que o nosso esforço precisará aumentar à medida que a empresa cresce, então novas tecnologias precisarão ser incorporadas, mais ações voltadas à natureza, parcerias estratégicas com atores especializados, tudo visando mitigar esses novos impactos. Com a Corsan, por exemplo, o leilão que a Aegea venceu recentemente para ampliar a atuação no Rio Grande do Sul, serão mais 317 municípios, ou seja, mais estações de tratamento de água e de esgoto funcionando no nível Aegea de eficiência, então já estamos trabalhando em formas de melhorar processos, a partir do momento da assinatura do contrato”, exemplifica.
Outro ponto levantado por ele é que a preocupação de qualquer empresa com a emissão dos gases e do carbono de forma geral se tornou uma moeda no mercado de investimentos. “Quando você vai falar com investidores, a primeira coisa que eles perguntam é: como a empresa está lidando com os desafios do clima e da água, o que está fazendo para mitigar carbono e demais gases de efeito estufa. Estes temas tendem a tomar cada vez mais espaço nas pautas de discussões, não apenas ambientais, mas financeiras. Isso tudo está chegando com muita força e só aumentará nos próximos anos, e o Brasil tende a ser uma vitrine para o mundo. Tudo o que a gente puder fazer para estar do lado certo dessa moeda nos agrega imagem, recursos, relações institucionais, são portas sendo abertas com investidores nacionais e internacionais, então a Aegea já está preparada para perseguir esse caminho”, pontua.
Quanto aos resíduos, a Aegea percorre o mesmo caminho. “Estamos na mesma pegada quanto ao lodo, ou seja, ampliando a cadeia da economia circular, conversando e fazendo pilotos com parceiros especializados em gerar compostos úteis para a agricultura, como fertilizantes, por exemplo. Isso, no entanto, corre paralelo às pesquisas de uso do lodo para obter biogás e geração de energia elétrica. No Rio de Janeiro, onde a Aegea tem uma escala de tratamento de esgoto muito grande, nossa Engenharia de Baixo Carbono está pesquisando várias formas de reaproveitar o lodo, o que ajudará sobremaneira a nossa contabilidade ambiental”, afirma Édison Carlos.
Com o conflito na Europa, o mercado mundial de fertilizantes mudou e o lodo, material rico em nutrientes orgânicos que resulta do processo de tratamento da água e do esgoto, passou a ser muito procurado, especialmente pelo setor agrícola. “Com a redução dos fertilizantes no mundo, o lodo brasileiro está sendo olhado com muito carinho pelo agro, pois ele pode ser transformado em fertilizante. Nossas várias unidades estão trabalhando pilotos com parceiros importantes deste setor, que querem testar compostos usando o lodo das estações”, diz Édison.
Um dos projetos, “Integrando o lodo no conceito de economia circular da unidade Mirante”, desenvolvido na unidade da Aegea em Piracicaba (SP), foi premiado no ano passado com o Prêmio ECO, que se tornou a maior ferramenta de reconhecimento de empresas que adotam práticas ESG no Brasil. O projeto premiado é um exemplo de parceria vencedora entre a Aegea, a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, a Esalq/USP.
“A questão da água e do clima estão muito interligadas. Registros históricos do regime de chuvas num determinado lugar já não conseguem apontar o que virá pela frente com relação ao nível de pluviosidade naquele local. Esta incerteza, que começa no clima, impacta diretamente na quantidade de água nas bacias hidrográficas. Às vezes chove muito, noutras simplesmente não chove e isso para uma empresa como a Aegea, que entrega água 24 horas às pessoas, é determinante”, afirma Édison Carlos. “O que estamos fazendo é tentando, o máximo possível, ter previsibilidade nas bacias onde atuamos. É o caso da parceria com a Climatempo, que tende a se expandir com este aumento da atuação da Aegea no país”, diz ele.
Outro cuidado da Aegea são os estudos de resiliência hídrica nas bacias hidrográficas dos municípios de atuação para analisar a relação entre a água de superfície e a subterrânea. “A subterrânea é como um colchão de água que pode ser utilizado em algumas áreas para melhorar o abastecimento. Isso está sempre sendo avaliado pela Engenharia Hídrica da Aegea, que são os especialistas em recursos hídricos da empresa”, conta o diretor de Sustentabilidade.
Para aumentar a produção de água, a empresa tem várias frentes de trabalho. Uma delas é fazer parte do Floresta Viva, em parceria com o BNDES. É um projeto amplo que tem como objetivo incentivar o reflorestamento de áreas degradadas e, com isso, ampliar a produção de água. “Nossa parceria com o Floresta Viva prevê ações de recuperação ambiental, reflorestamento, contenção de assoreamento e delimitação de áreas para o gado, além da proteção de nascentes em áreas do Estado do Rio de Janeiro e em bacias do Pantanal mato-grossense, nos estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Tem ações em bacias utilizadas pela Águas de Jauru (MT), pela Águas Guariroba (MS) e pela Águas do Rio (RJ). São ações importantes para proteger e dar mais condições de produção de água nessas bacias, mas também contam como créditos de carbono”, explica.
Em 2022, a Aegea e o WWF-Brasil iniciaram uma parceria estratégica visando à restauração e ampliação da resiliência hídrica e conservação do solo de bacias hidrográficas prioritárias na região conhecida como Cabeceiras do Pantanal, que engloba parte dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A parceria prevê a realização de diversos estudos para ampliar o conhecimento socioambiental sobre as Cabeceiras do Pantanal. No projeto estão previstas a realização de modelagens hídricas, identificação de áreas prioritárias para futuras intervenções, definição de atividades a serem implementadas e análise da cadeia da restauração regional, incluindo os atores nela envolvidos.
Uma ação importante também é outra parceria com o WWF-Brasil, um estudo na área da Regional 1 da Aegea. “São estudos na produção hídrica, estão analisando quais os principais impactos que as bacias estão sofrendo hoje e quais metodologias podem ser aplicadas para mitigar esses impactos. Envolve a mobilização dos proprietários rurais, o pagamento por serviços ambientais, soluções baseadas na natureza e no reflorestamento”, afirma.
A Aegea espera, com este trabalho, gerar conhecimento técnico sobre a paisagem e alavancar ações para o desenvolvimento econômico e social da região em alinhamento com a preservação da natureza. Assim, a empresa vai contribuir para o aumento dos recursos hídricos e da melhoria do clima por meio de ações como restauração da vegetação nativa, contenção da degradação do solo, proteção de rios e nascentes, além da possível criação de novas iniciativas entre os parceiros e a integração com projetos já desenvolvidos na região.
“Uma das coisas mais positivas é que, assim como a Aegea, o WWF-Brasil está naquele território há muito tempo. Tudo isso ajuda a ter um poder de soluções maior do que outras empresas que conheçam pouco as propriedades e locais onde é necessário intervir a favor da natureza. Todos temos uma relação boa com os municípios”, argumenta Édison Carlos.
Outro trabalho importante desenvolvido pelas unidades da Aegea na questão da resiliência hídrica é o combate às perdas. “Não adianta fazer um esforço enorme na bacia hidrográfica e perder a maior parte da água já tratada por vazamentos na tubulação ou por furtos, como acontece em muitos municípios brasileiros”, aponta ele. Um estudo do Instituto Trata Brasil, feito em parceria com a Asfamas (Associação Brasileira dos Fabricantes de Materiais para Saneamento) e Water.org, com elaboração da consultoria GO Associados, em 2022 (ano-base 2020), aponta que o volume de água perdido nos sistemas de distribuição no Brasil equivale a 7,8 mil piscinas olímpicas de água tratada diariamente. É mais de sete vezes o volume total do Sistema Cantareira – maior conjunto de reservatórios para abastecimento do Estado de São Paulo. A quantidade é suficiente para abastecer mais de 66 milhões de brasileiros em um ano, equivalente a um pouco mais de 30% da população brasileira em 2020.
Entre as unidades da Aegea que se destacam em combate às perdas está a Águas Guariroba (MS), sendo Campo Grande várias vezes citada em estudos e premiada como uma das capitais com a menor redução em perdas de água. Com ações como eficiência operacional, implantação de um dos mais modernos Centros de Controle Operacional do país, setorização da cidade, modernização do parque de hidrômetros, a concessionária conseguiu sair de 56% de perdas para os atuais 19%. Outras medidas importantes foram as que ajudam a reduzir rompimentos nas tubulações, com a instalação de válvulas e sensores, a partir do CCO, que é dotado de um software israelense que faz o monitoramento da rede em tempo real, o TaKaDu.
Além das parcerias firmadas com o BNDES e outras instituições, várias unidades realizam, sozinhas ou em parceria com prefeituras, ONGs e escolas, ações de plantio para recuperar a paisagem, o solo, as matas ciliares. Exemplos de plantios vêm da Águas de Manaus (AM), da Prolagos (RJ) e da MS Pantanal. Algumas concessionárias têm viveiros, sendo o maior deles o da Águas Guariroba, com capacidade para produzir 50 mil mudas por ano. Esses plantios, mesmo pequenos, contribuem com o todo. “Em meio ambiente não tem ação pequena, tudo colabora. Mesmo plantios em pequena escala que sejam feitos pelas unidades são importantes para reduzir o nível de degradação do solo naqueles locais. Tudo faz parte de uma estratégia global da Aegea em ser representativa nestas ações ambientais que ajudam na resiliência hídrica, na biodiversidade e em termos um ambiente adequado à vida”, aponta Édison Carlos.
Saiba mais sobre os projetos mencionados na seção Cidades Mais Azuis, sobre as quatro regionais da Aegea.