edição 33 | outubro 2021
Texto: Matheus Maderal
A Organização Caianas, que atua para a preservação dos costumes da tribo terena, recebeu centenas de mudas de espécies típicas do Pantanal e do Cerrado para a revitalização de nascentes na região da Bacia do Rio Paraguai.
A doação foi feita pela Ambiental MS Pantanal (PPP entre a Aegea e a Sanesul) em comemoração ao Dia Internacional dos Povos Indígenas, celebrado em 9 agosto. São mudas de cerca de 20 espécies como jacarandá, cagaita (uma espécie de goiaba do Cerrado), ipê, pitanga, araribá, pacupari e xaixaru, e muitas delas são frutíferas. A ação foi realizada em parceria com a ONG Comitiva Esperança, de Campo Grande (MS).
Parte das mudas foi plantada na Aldeia Babaçu, terra indígena do povo terena no distrito de Cachoeirinha (MS), onde as atividades agrícolas foram duramente afetadas pelas queimadas recordes no Pantanal no ano passado. Os incêndios resultaram em chuvas ácidas e de fuligem que prejudicaram a colheita de frutas e verduras que seriam destinadas ao sustendo das famílias. Outra parte foi entregue aos aldeões.
“O plantio dessas espécies é muito importante para nós, porque as queimadas do ano passado afetaram bastante nossa colheita”, conta seu Sebastião, morador da Aldeia Babaçu. “As mexericas, melancias e verduras que plantamos para nosso sustento ficaram queimadas, perdemos muito”, lamenta. Segundo ele, o plantio de mudas também deve beneficiar a fauna local, uma vez que a devastação ocasionada pelas queimadas dificulta a alimentação dos animais.
Na cultura terena, acredita-se que as nascentes dos rios são protegidas por uma figura sagrada chamada Voropi, descrita como uma serpente multicolorida. Anciões e moradores locais contam que ela era avistada antes de as atividades de monocultura afetarem o sistema hídrico da região e espantá-la dali.
“Quando o equilíbrio é afetado pela ação predatória dos homens, acredita-se que a Voropi abandona o local em busca de regiões com melhores condições e matas preservadas”, relata o coordenador da Organização Caianas, Leosmar Antonio, morador da Aldeia Babaçu.
Desde 2005, a Organização Caianas luta pela revitalização das áreas de nascentes, com o objetivo de recuperar áreas verdes depredadas pela ação humana.
Celebrada no dia 9 de agosto, a data foi instituída pela Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em 1994, com o intuito de lembrar sobre os séculos de exploração sofridos por povos indígenas de todo o planeta.
Um dos principais objetivos é garantir a autodeterminação dos povos indígenas, sem que sejam forçados a tomar qualquer atitude contra sua vontade, buscando livremente seu desenvolvimento econômico, social e cultural.
Criada em 2005, a Organização Caianas nasceu com a missão de resgatar e manter vivos os costumes e as tradições do povo terena, por meio de seminários, ações ambientais, projetos educativos, ampliação de áreas agroflorestais e mapeamento de árvores nativas no território indígena.
Durante a pandemia da COVID-19, a Organização Caianas busca fortalecer os processos de produção de alimentos saudáveis e locais para a garantia da soberania alimentar das famílias.
O nome Caianas é uma referência aos “Kayanás”, estrutura da organização tradicional composta por sábios e intelectuais do grupo. Kayá significa cérebro na língua terena. O nome também é um acrônimo para Coletivo Ambientalista Indígena de Ação para Natureza, Agroecologia e Sustentabilidade.