EDIÇÃO 43 - 4º TRIMESTRE - 2024

Matéria
DE CAPA

Mudanças climáticas

O impacto do maior evento climático no Rio Grande do Sul

COMPARTILHE

Texto: Gabriela Mendonça

O alerta vermelho emitido pela Defesa Civil antecipou o que viria nos dias subsequentes: enchentes de grandes proporções, municípios completamente isolados, mais de uma centena de bloqueios em rodovias estaduais e federais; deslizamentos de terra, rompimento de barragem e incontáveis resgates de moradores por terra, água e ar.

A participação do Governo Federal, em especial das Forças Armadas, somada aos esforços da Defesa Civil gaúcha, do Corpo de Bombeiros, da Brigada Militar além de voluntários de todas as partes do RS foi muito importante nas ações de resgate e apoio à população atingida

“Eram três horas da madrugada, minha esposa me chamou dizendo – acorda todo mundo que a água está entrando. Eu saí de casa só com a roupa que deu para pegar. Vai ser difícil o retorno. Muita gente perdeu tudo. Mas a gente não pode desistir, vamos recomeçar”, conta Marcelo Rodrigues, engenheiro civil, colaborador da Corsan, que perdeu tudo com a enchente e atuou ativamente para restabelecer os serviços.

Sem o retorno do abastecimento a catástrofe seria uma crise humanitária

A combinação de chuva intensa, com ventos de até 80 quilômetros por hora, persistiu por cinco dias, ininterruptamente, numa grande faixa do estado. A cota de inundação ultrapassou rapidamente o limite máximo em praticamente todas as cidades cortadas pelos rios dos Sinos, Gravataí e Caí, causando inundações e desabrigando milhares de famílias.

 

Em pouco tempo a água atingiu as regiões mais baixas, chegou ao Guaíba e invadiu a Capital e a região Metropolitana, onde há maior adensamento populacional. O nível do rio chegou aos 5,35 metros, superando a marca atingida pela enchente histórica de 1941, fazendo com que as autoridades municipais e a Defesa Civil recomendassem que a população deixasse a capital e fosse para o litoral gaúcho.

“Nós tivemos uma catástrofe com a enchente, sem água seria uma crise humanitária. Água é essencial para que a gente possa retomar a cidade, limpar as nossas casas e reconstruir as nossas vidas. Esse esforço que a Corsan e seus colaboradores fizeram, trabalhando dia e noite, vai ficar na nossa história, na nossa memória para sempre.” – Jairo Borges, prefeito de Canoas.

A evolução dos impactos da maior tragédia climática do Estado

  • 475 municípios afetados;
  • 81 mil pessoas em abrigos;
  • 581 mil desalojados;
  • 2,3 milhões de pessoas diretamente atingidas;
  • 172 óbitos confirmados até 23/5;
  • 42 desaparecidos e 806 feridos;
  • 110 hospitais atingidos e 10 hospitais de campanha construídos;
  • 906 mil residências sem água na área da Corsan;
  • 570 mil residências sem energia elétrica;
  • 170 pontos de bloqueio em rodovias;
  • Aeroporto Internacional de Porto Alegre paralisado até dezembro/24.

“As pessoas foram desalojadas, perderam os seus pertences, estão desacreditadas. O serviço não se faz somente ao abrir a torneira. O deslocamento dos caminhões-pipa, toda a assistência, as visitas aos abrigos, estivemos muito próximos das pessoas, temos um vínculo de confiança e é nesse momento que eles se fortalecem.” – Samanta Takimi, diretora-presidente da Corsan.

Os principais desafios para recompor os sistemas

Os principais desafios enfrentados pelas equipes da força-tarefa da Corsan foram o alagamento das estruturas operacionais nas regiões mais baixas; a falta de energia elétrica; a grande quantidade de vegetação e os destroços nas redes de captação; o rompimento de adutoras e a dificuldade de acesso a várias localidades para a realização de reparos importantes e instalação de geradores.

 

Para retomar o abastecimento nas localidades atingidas, a Companhia acionou o Plano de Contingência, envolveu aproximadamente 5 mil colaboradores diretos e indiretos e adotou medidas e procedimentos para recuperar, o quanto antes, os 67 sistemas severamente danificados.

“Nós fizemos um planejamento, nos mobilizamos, e estamos executando exatamente aquilo que planejamos.” – José João Fonseca, diretor de Operações.

Mobilização contou com mergulhadores e técnicos de rapel

A operação mobilizou mergulhadores, técnicos de rapel e recursos como embarcações, helicópteros, tratores, guindastes e veículos-anfíbios. Tudo isso para movimentar máquinas, suprimentos e deslocar colaboradores para e realizar reparos em áreas inacessíveis, e apoiar o resgate de famílias em todo o Estado.

 

Entre os equipamentos extraordinários emergencialmente empregados pela Companhia, podemos citar estações flutuantes, tubulações suspensas, bombas submersíveis, reservatórios móveis comunitários, além de cerca de uma centena de geradores e carros-pipa, entre outros.

“Estamos mergulhando, trabalhando embaixo da água, mas com toda a segurança, para tentar vedar o prédio, para ele secar para que eles consigam colocar os equipamentos, as bombas de água, para funcionar.” – Alison dos Santos, mergulhador. 

Medidas emergenciais

Ações para a retomada dos sistemas:

 

▪ 140 caminhões-pipa;

▪ 85 reservatórios provisórios (fixos e móveis);

▪ Mobilização de 120 geradores;

▪ Conserto e reconstrução de 12 km de adutoras;

▪ 5 Equipes de mergulhadores;

▪ Perfuração de 30 poços nas regiões mais afetadas;

▪ Instalação de captações flutuantes;

▪ Mobilização de 5 estações móveis de tratamento de água.

 

Estrutura logística:

 

 ▪ 3 helicópteros, 1 avião, 2 veículos anfíbios, embarcações e tratores – levando equipamentos e equipes;

▪ 19 equipamentos essenciais entregues via aérea a cidades isoladas e gravemente afetadas.

“Nós acompanhamos no dia a dia essa grande mobilização, esse esforço conjunto, difícil que é montar uma nova operação praticamente do zero, mas tenho convicção de que se está conseguindo justamente porque há uma cooperação grande entre todos.” – Leonardo Pascoal, prefeito de Esteio.

Auxílio a cidades não atendidas pela concessionária

A Corsan coordenou um grupo de trabalho envolvendo empresas de saneamento de outros estados que auxiliaram no reparo das estruturas de captação e distribuição de água e de tratamento de esgoto dessas outras cidades atingidas pelas cheias.

 

Orientou os trabalhos que envolveram a Copasa (Minas Gerais) e a Sabesp (São Paulo). Especialistas da Casan (Santa Catarina) reforçaram as equipes de Porto Alegre. Ao todo, foram 53 profissionais que também receberam apoio logístico (hotel, transporte e alimentação), equipamentos, veículos e EPIs para o trabalho.

 

Ainda, para garantir a saúde desses profissionais, a companhia ofereceu atendimento médico e psicológico, e remédios preventivos às doenças causadas pelos efeitos das cheias.

“Nós pegamos as saveiros, colocamos os reservatórios em cima e fomos levar água para as pessoas, era o que a gente tinha, não dava para ficar parado.”  Isabella Haddad, trainee.


“O trabalho foi incessante e todos estavam sensibilizados e motivados para permitir que as pessoas pudessem voltar às suas casas com dignidade.” – completa Samanta Takimi.