Secas históricas, enchentes, incêndios florestais de grandes proporções, tempestades… As mudanças climáticas atingem o modo de vida de praticamente todo o planeta. O saneamento é um dos setores mais afetados, pois os eventos extremos impactam diretamente o consumo e a oferta de água na natureza, como mostra estudo recente do Instituto Trata Brasil em parceria com a Way Carbon e apoio da Aegea (o link para a publicação completa está no final desta edição).
O levantamento aponta ainda que as mudanças climáticas devem se acentuar até 2050 e os efeitos negativos delas serão cada vez mais frequentes. Outros dados apontam que o aumento da temperatura média global que estava previsto para 2040 já está acontecendo: os dois maiores picos registrados até agora na história da humanidade aconteceram no ano passado, de 17,09 ºC e 17,15 ºC. Esse tipo de medição é feito desde 1940.
Por outro lado, a demanda por água tende a crescer em torno de 40% até 2050, segundo especialistas, pelo crescimento da população e desenvolvimento industrial.
De acordo com o novo estudo do Trata Brasil, as mudanças climáticas representam uma crescente ameaça para o saneamento brasileiro, intensificando desafios já existentes e criando riscos para a operação de sistemas de água e esgoto. Essas variações climáticas não apenas afetam a infraestrutura física das companhias do setor, mas também evidenciam a necessidade de planejamento estratégico baseado em cenários climáticos futuros.
A publicação aponta ainda que os riscos climáticos intensificam a desigualdade no acesso a serviços de saneamento básico de qualidade, especialmente em locais que já enfrentam dificuldades de infraestrutura. Este contexto reforça a necessidade de políticas de
adaptação que assegurem o acesso à água e saneamento em cenários climáticos extremos, promovendo a resiliência das comunidades mais afetadas (veja ao longo desta edição como a Aegea vem atuando para mitigar os riscos em áreas vulneráveis).
O Brasil, com sua grande extensão territorial e variedade de biomas, que são o conjunto de características de uma determinada região, como clima, relevo, vegetação, hidrografia, solo e fauna, entre outras, tem situações extremas em um mesmo dia, como seca no Norte e enchente no Sul, como aconteceu em 2024 no Amazonas e no Rio Grande do Sul. A Aegea vivenciou os dois momentos.
“Com a capilaridade que a Aegea tem, atuando em todos os biomas brasileiros, ela vem se preparando para realidades distintas das consequências das mudanças climáticas”, diz Édison Carlos, presidente do Instituto Aegea e diretor de Sustentabilidade da empresa.
Segundo ele, poucas empresas têm essa capilaridade e, como as questões climáticas envolvem todo o planeta, principalmente na questão da água, a Aegea vive situações distintas todo dia.
“Praticamente tem um fenômeno relacionado ao clima acontecendo a cada dia em uma das nossas unidades, pois são mais de 500 cidades em regiões distintas e estamos presentes em todos os biomas brasileiros. Mostrar as boas práticas e o preparo como uma empresa como a Aegea tem que ter por estar tão distribuída por todo o território traz aprendizados que podem ser compartilhados com todo mundo”, afirma.
A experiência foi compartilhada durante o Congresso Técnico da Fenasan 2024, em outubro em São Paulo, que teve como tema as mudanças climáticas. Também foi levada para diversos eventos internacionais ao longo do ano que tiveram a participação de Édison Carlos, inclusive a COP29 (leia mais sobre o assunto em Opinião).
“Só em 2024 vivemos os dois opostos, que é o excesso de água, de chuvas, no Sul, e a questão da seca na Amazônia, que é o segundo ano consecutivo de estiagem. E temos estiagem muito forte todo ano no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, por exemplo, são mais de 100 cidades”, diz.
“Estiagem costuma ser um fenômeno mais conhecido por conta das mudanças climáticas, mas agora nós temos também o fenômeno do excesso de chuvas. Para a escassez de água muitas empresas estão preparadas, para as inundações, praticamente nenhuma”, completa Édison.
“Na Aegea, temos monitoramento 24 horas por dia dos nossos sistemas por meio do Centro de Operação Integrada, que existem ou estão sendo implantados em praticamente todas as unidades. Temos também uma parceria com a Climatempo e recebemos informações sobre estiagem e grandes chuvas, mas quão intensos serão os fenômenos, os climatologistas ainda não conseguem prever”, diz.
As mudanças climáticas estão afetando significativamente todos os biomas brasileiros. Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Pantanal, Pampa e Caatinga reagem de maneira diferente, mas a resiliência de cada um foi modificada. O desmatamento, o aumento de temperatura e as mudanças no regime de precipitação alteram as funções metabólicas que sustentam o funcionamento dos ecossistemas.
A Aegea atua em várias cidades do bioma Amazônia. Está em Manaus (AM), no norte do Mato Grosso, em Rondônia, no Pará, em Timon (MA) e Teresina (PI).
Tudo é grandioso no maior bioma brasileiro: abriga a maior floresta tropical do mundo. A maior bacia hidrográfica do mundo, a Bacia Amazônica, que detém 20% da água doce do planeta. O Rio Amazonas é o principal e o maior em volume de água do mundo. Ocupa cerca de 40% do território do país. A fauna e a flora são ricas em biodiversidade.
Com uma grande área desmatada e degradação florestal, já se tem aumento de temperatura e redução da precipitação. Com isso, um dos lugares com índice pluviométrico mais elevado do planeta e conhecido pelas chuvas tropicais, tem sofrido com as secas extremas. Bancos de areia surgiram em longas extensões nos grandes rios amazônicos.
Segundo o estudo citado anteriormente, “As mudanças climáticas no setor de saneamento: como tempestades, secas e ondas de calor impactam o consumo de água”, o Amazonas é um dos estados com maior risco de ter o abastecimento de água afetado por ondas de calor.
Como abastecer sem ter água na natureza para fazer a captação?
A pergunta vem sendo respondida pela Águas de Manaus. Pelo segundo ano consecutivo, o Rio Negro, principal manancial para o abastecimento da cidade, está em situação crítica. Em alguns pontos de captação de água, que tinham oito metros de profundidade, hoje só tem dois metros.
Além disso, a população de Manaus cresce – segundo o último censo do IBGE, foi a capital com maior crescimento em 10 anos, principalmente nas áreas mais vulneráveis. Para abastecer os mais de 2,2 milhões de moradores, a Águas de Manaus implantou sistemas alternativos de captação de água. A concessionária distribuiu galões de água para as pessoas mais afetadas pela seca extrema, inclusive moradores que vivem fora da área de concessão. Leia mais sobre a atuação na página 9 desta edição.
A Aegea também está presente no segundo maior bioma do Brasil e da América Latina: atua em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Conhecido como savana brasileira, apresenta grande biodiversidade e compreende uma área de elevado potencial aquífero. Abriga nascentes dos principais rios brasileiros. Segundo o IBGE, tem 9 das 12 bacias hidrográficas do Brasil.
As duas estações – invernos secos e verões chuvosos – já não são tão definidas assim. Tem tido secas extremas nos últimos anos, principalmente em função do desmatamento para abertura de novas fronteiras agrícolas. É um dos biomas mais ameaçados, com fortes alterações no regime hidrológico.
Segundo o estudo do Trata Brasil em parceria com a Way Carbon, o Mato Grosso do Sul é um dos estados mais propensos a ter o abastecimento de água afetado por ondas de calor. Elas impactam o volume dos corpos hídricos, aumentam a contaminação e a demanda por energia para o tratamento da água, além de ampliarem a necessidade da população por mais abastecimento.
Como vem sendo feito o abastecimento na estiagem nas cidades do Cerrado você confere na matéria da página 15.
No bioma exclusivo do Brasil, com uma vegetação que não existe em nenhum outro lugar do mundo, a Aegea atua por meio das unidades Ambiental Crato e Ambiental Ceará, Parcerias Público-Privadas de esgotamento sanitário, e da Regenera Cariri, de resíduos sólidos.
Considerado o bioma mais seco entre todos e, como tal, apresenta baixos índices pluviométricos. Tem rios intermitentes, isto é, que secam durante determinado período do ano. O lençol freático possui baixo nível de água em virtude da escassez de chuvas e do solo pouco permeável – é arenoso e pedregoso, em sua maioria, retendo pouca água.
Nossa caatinga está mais seca e mais quente. O estudo do Trata Brasil aponta que o Ceará é um dos locais no país com maior vulnerabilidade a secas meteorológicas. Um dos riscos é que elas podem afetar o abastecimento dos mananciais, reduzindo a disponibilidade de água.
A grande contribuição da Aegea com a atuação no bioma em relação às mudanças climáticas é a preservação da natureza com o tratamento de esgoto. No primeiro ano de atuação da Ambiental Crato, de agosto de 2022 para 2023, o índice de coleta e tratamento de esgoto avançou de 3% para 25%.
Ao tratar o esgoto e só depois devolver à natureza o efluente tratado, as nascentes que contribuem para o abastecimento das cidades são preservadas também.
É praticamente sinônimo de litoral, pois ocupa a região costeira do Brasil, indo do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul.
Apesar de ter uma biodiversidade semelhante à da Amazônia, hoje resta menos de 10% da mata original devido ao desmatamento constante. Sete bacias hidrográficas estão localizadas neste bioma e as águas desses rios abastecem cerca de 110 milhões de brasileiros. O clima apresenta temperaturas elevadas, altos índices pluviométricos e elevada umidade do ar.
São muitas as unidades da Aegea presentes no bioma: Águas de Valadares (MG); Ambiental Serra, Vila Velha e Cariacica (ES), Águas do Rio (RJ); Prolagos (RJ); Mirante, Águas de Holambra e de Matão (SP); Ambiental Paraná (PS); Águas de Penha, Camboriú, Bombinhas e São Francisco do Sul (SC), e Metrosul (RS).
Em diversas matérias ao longo desta edição mostramos a contribuição delas na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.
Considerado uma das maiores planícies alagáveis do planeta, no Brasil abrange o Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Mas é o menor bioma em extensão, ocupando apenas 2% do território.
Sofre influência da Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica, o que impacta na diversidade da vegetação. Possui uma grande amplitude térmica, com temperaturas que podem alcançar máximas de 40º C e mínimas próximas a 0º C. O Pantanal tem sofrido, nos últimos anos, queimadas intensas que impactam a fauna e a flora de modo significativo.
A Aegea atua nos dois estados e a maior unidade da empresa no bioma é a Ambiental MS Pantanal. Confira as soluções para o enfrentamento das mudanças do clima em Cidades Mais Azuis e o projeto de restauração de nascentes em áreas degradadas, uma parceria com o WWF-Brasil, em Meio Ambiente.
O Pampa ocupa em torno de 2% do território brasileiro, como o Pantanal, e pode ser chamado de Campos Sulinos. Formado principalmente pelo Rio Grande do Sul, o bioma está sofrendo inundações recorrentes.
Segundo o estudo do Trata Brasil, é o estado com maior risco de ter o abastecimento de água afetado por tempestades. Elas podem colaborar com o aumento de sedimentos nos mananciais, sobrecarregar os sistemas de drenagem e de tratamento de esgoto, provocando alagamentos, rompimento de tubulações e contaminação de fontes de água potável.
Presente no bioma com a atuação da Corsan, no Rio Grande do Sul, a Aegea colocou em prática uma força-tarefa e uma estratégia semelhante à uma operação de guerra no enfrentamento das inundações. Confira na matéria a seguir.
Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/brasil/biomas-brasileiros.htm