edição 32 | julho 2021

COMPROMISSO AMBIENTAL

O cuidado que transforma vidas

A Estação de Tratamento de Esgoto Bonito, localizada na cidade de mesmo nome, devolve ao meio ambiente uma água tão cristalina quanto a dos rios da região. E reflete o cuidado da Ambiental MS Pantanal (MS) com o meio ambiente.

Texto: Rosiney Bigattão

Quando se pensa em meio ambiente geralmente a imagem que se forma é a de um lugar distante, com um modo de vida completamente diferente do nosso. É claro que ainda existem locais assim, mas o distanciamento acaba nos afastando da responsabilidade por ele. Por isso é importante lembrar que meio ambiente é também urbano, o local onde vivemos, seja ele conhecido pela proteção ambiental, como Fernando de Noronha (PE), ou pela urbanização, caso de São Paulo (SP).

Um dado curioso entre as duas localidades é que no arquipélago tem menos Mata Atlântica que na capital paulista. A informação é do Aqui Tem Mata, da Fundação SOS Mata Atlântica, que mostra que as ilhas não têm mais nada da mata original, desmatada na construção de um presídio, ao passo que a capital paulista tem 17,45%. Esse recurso bem interessante do hotsite vai fazendo um mapeamento do processo de urbanização brasileiro, que aconteceu desmatando a mata original, principalmente ao longo dos rios e córregos.

PLANTANDO ÁGUA

Fernando Garayo, gerente de Meio Ambiente e Qualidade da Regional 1 da Aegea, em entrevista no viveiro da Águas Guariroba (MS).

Percorrer o caminho inverso e plantar árvores é urgente e muitas ações têm sido feitas neste sentido pela Aegea em vários municípios. Datas comemorativas e outros eventos são marcados por plantios e doações de mudas nas unidades. A Águas Guariroba (MS) tem um viveiro próprio que já é responsável por 350 mil novas árvores, que ajudam a fazer de Campo Grande uma das cidades mais verdes do mundo (prêmio Tree Cities of the World, da Arbor Day Foundation).

Recuperação de áreas degradadas

O viveiro também serve de fonte para a recuperação de áreas degradadas, entre elas a da captação do Córrego Guariroba, que dá nome à concessionária. “É uma área bem complexa, pois na época da construção da barragem o solo foi praticamente todo retirado, está na camada de pedras. Mas nós temos tido sucesso neste trabalho, a cobertura vegetal voltou a aparecer nas imagens de satélite e os processos erosivos foram contidos”, conta Fernando Garayo, gerente de Meio Ambiente e Qualidade da Regional 1 da Aegea.

As duas captações da concessionária estão no Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (Prada), que inclui também a Bacia do Guariroba, onde a concessionária atua junto com produtores rurais. “Recuperar uma área envolve um custo muito alto, pois o plantio em si é apenas 10% dos investimentos. Para produzir mudas mais resistentes, mudamos a tecnologia de produção no viveiro. Tem ainda os cuidados com o solo, irrigação e manutenção”, diz.

Esgoto que gera produtividade

Fertilizante produzido a partir do subproduto do esgoto pela Mirante, em Piracicaba (SP), que já está sendo usado na agricultura.

Texto: Ude Valentini

O solo lá na Bacia do Guariroba (MS) pode ficar mais rico com o fertilizante que está sendo produzido em Piracicaba (SP), feito com produtos que seriam descartados. Ele é um dos resultados do compromisso ambiental da Mirante (SP) que, desde que assumiu o serviço de esgoto da cidade, em 2012, não só universalizou esse serviço como busca novas tecnologias para minimizar os impactos ao meio ambiente.

“Ao buscar alternativas para a redução de custo e disposição do lodo – o subproduto do esgoto – optamos pelo secador solar, tecnologia que consiste em estufas agrícolas com piso de concreto e maquinário para o manejo”, explica o diretor-executivo da Mirante, Ozanan Pessoa. O secador de lodo a luz solar foi construído na ETE Bela Vista e os resultados logo apareceram, reduzindo em um terço o volume do material que iria para os aterros sanitários.

Ganhos para o meio ambiente

Mas, para a Mirante, o descarte do lodo ainda não era o ideal. Em parceria com a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) e a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), a concessionária encontrou uma saída ecológica: misturado com restos da poda de áreas verdes na cidade e nitrogênio, o lodo se transformou em fertilizante agrícola.

Em fase experimental, o produto está sendo usado em culturas de cana-de-açúcar e tomate. “Em Piracicaba, todo o esgoto coletado, ou seja, 3 milhões de metros cúbicos por mês, é tratado nas 25 ETEs. O processo gera 1.200 toneladas de lodo mensalmente. Ao invés do aterro, agora ele é misturado ao material estruturante (1.800 toneladas), que também seria descartado. O resultado são 3.000 toneladas de compostagem orgânica destinadas à agricultura”, afirma a coordenadora de Operações e Serviços da Mirante, Laís Fonseca Gomes.

Os resultados da tecnologia foram bem avaliados por quem acompanha o plantio agrícola de perto. “A compostagem é o processo mais adaptado para tratar resíduos orgânicos. Com ela, é possível estimular a decomposição de materiais orgânicos e a redução de contaminantes como metais pesados. Ao fim, se tem um material estável, rico em matéria orgânica humificada e nutrientes minerais”, explica a pesquisadora da APTA Edna Ivani Bertoncini.

“Esse projeto é motivo de orgulho para a Mirante, pois vem ao encontro de nossa filosofia, que é a de atuar de forma integral, sendo o mais sustentável possível em todas as instâncias. Algumas unidades da Aegea já utilizavam o subproduto para plantio em áreas públicas, mas não em culturas agrícolas. É um impacto positivo muito grande, um ganho enorme para o meio ambiente”, disse a nova diretora-presidente da Mirante, Silvia Letícia Tesseroli.

Reúso: poupando água tratada

Compostagem feita pela Ambiental Metrosul (RS), que também reutiliza a água para serviços de limpeza.

Com outra tecnologia, a unidade da Aegea no Rio Grande do Sul (RS) também dá novos usos ao subproduto do tratamento do esgoto. E de lá vem mais uma demonstração de cuidado com o meio ambiente. Ao assumir o serviço de esgoto em nove municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre (RS), a Ambiental Metrosul (RS) se deparou com uma situação que precisava ser revista. A limpeza e a desobstrução da rede de esgoto eram feitas com água tratada.

A prática, feita por meio de caminhões hidrojato, usa uma grande quantidade de água. “Mas não há necessidade de ser água tratada, pois, depois de usada, ela voltará para o tratamento na ETE”, explica Fernanda Cenci Silveira, coordenadora de Meio Ambiente da unidade. A empresa passou então a utilizar água de reúso.

Ao invés de despejar na natureza, o efluente já tratado é usado na limpeza das redes de esgoto. Uma estação de tratamento gera, diariamente, cerca de 40 mil litros de água de reúso. A redução chega a um milhão de litros de água tratada por mês. A ação, que começou pela ETE Alvorada, em Viamão (RS), será ampliada.

Efluente cristalino

O cuidado integral com o ciclo produtivo da água, cuidando da água desde a captação até o lançamento do efluente na natureza, demonstra o maior compromisso ambiental da Aegea.

Reportagem: Matheus Maderal

Cartão-postal de Mato Grosso do Sul – e considerada a capital nacional do ecoturismo –, Bonito (MS) é referência não apenas de preservação ambiental, mas também exemplo do nível de excelência e qualidade que se pode atingir em termos de saneamento básico.  

Além das belezas naturais e da fauna exuberante, o turista que chega em busca das atrações internacionalmente conhecidas encontra uma infraestrutura modelo no tratamento da água e do esgoto. Bonito (MS) foi a primeira cidade do estado a universalizar o saneamento básico.

A cidade que se tornou conhecida por seus rios de águas cristalinas, que remetem a um aquário, recebe também um tratamento de esgoto especial. Ele acontece na Estação de Tratamento de Esgoto Bonito e faz com que o produto que é devolvido à natureza seja tão cristalino quanto a água dos rios da região.

Letícia Yule, coordenadora regional da Ambiental MS Pantanal, explica o processo de tratamento do esgoto que garante uma água cristalina como efluente.

“Como a maioria das estações, a ETE Bonito possui dois reatores UASB – uma tecnologia de tratamento biológico de esgoto baseada na decomposição anaeróbia da matéria orgânica. A diferença é que depois, quando o esgoto já está tratado, o efluente, que já está pronto para ser lançado na natureza, passa por mais um processo”, conta a coordenadora regional da Ambiental MS Pantanal, Letícia Yule. 

O segundo processo, de tratamento físico-químico, acontece em uma ETA. Isso mesmo, em uma estação de tratamento de água. “É uma ETA completa, com três floculadores em série, decantador, quatro filtros de areia recíproca e câmara de contato para desinfecção. Quer dizer, não devolvemos ao receptor um efluente, mas uma água tão cristalina quanto a dos rios da região”, explica Letícia.

A ETA devolve a água ao Rio Bonito, que logo depois se junta ao Rio Marambaia, onde existe um dos pontos turísticos da região. Pela manutenção da água cristalina, o meio ambiente agradece. Os moradores e turistas também. Afinal, tratar o esgoto coletado para a Aegea é o fechamento de um ciclo todo de cuidados que incluem investimentos, tecnologia e capacitação profissional.

“Tratar esgoto é fechar um ciclo produtivo – essa água devolvida foi coletada, tratada e distribuída. Uma vez entregue aos moradores, o esgoto foi gerado, coletado, tratado e devolvido ao corpo hídrico. Este é o maior compromisso ambiental das unidades da Aegea, pois o cuidado é feito de forma integral, no ciclo completo, mantendo assim os estoques de água que vão ser usados não só agora, mas pelas próximas gerações”, afirma Clayton Bezerra, diretor-executivo da Ambiental MS Pantanal.

Condomínios desconectados

Poliana Leite e Ary Laydner, da equipe da Águas de Manaus (AM), que atuam para ampliar a rede de esgoto em grandes condomínios e, assim, aumentar a conservação ambiental na cidade.

É preciso um olhar mais atento para lembrar que a cidade de Manaus (AM) cresceu em um dos maiores paraísos ecológicos do mundo, a Floresta Amazônica. Porções da flora exuberante ainda resistem à forte urbanização da maior cidade do Norte do país, mas grande parte dos igarapés e outros corpos hídricos da cidade foram transformados em esgoto a céu aberto.

Ajudar a recuperar os igarapés ampliando a rede de esgoto da cidade é um dos desafios da Águas de Manaus (AM). A concessionária, que já foi premiada por levar saneamento para populações de becos, palafitas e áreas de ocupações consolidadas, que antes viviam praticamente invisíveis, agora trabalha a fim de ampliar a rede de esgoto para os condomínios residenciais.

A cidade de Manaus cresceu em um dos maiores símbolos da biodiversidade mundial, a Floresta Amazônica. Melhorar os serviços de esgoto, como vem sendo feito pela Águas de Manaus (AM), é um dos caminhos para recuperar as áreas degradadas pela urbanização.

“Manaus tem uma situação peculiar, com condomínios que têm a sua própria ETE. A coleta, o tratamento e o controle de qualidade dos efluentes são feitos por empresas terceirizadas, contratadas por eles”, afirma Tannia Mattos, analista de engenharia da Águas de Manaus. A estimativa é a de que, em alguns casos, o efluente seja lançado em áreas de preservação ambiental.

Em uma reportagem do veículo de comunicação independente InfoAmazonia, o pesquisador do Inpe Sérgio Bringel demonstra a preocupação com a falta de controle do tratamento feito pelos condomínios privados. “Ninguém conhece os resultados: se há tratamento adequado, se há manutenção regular, se os regulamentos são cumpridos”, informa o texto.

A Águas de Manaus fez um levantamento que tem mais de 100 condomínios e trabalha para mostrar os benefícios de eles se conectarem à rede de esgoto da cidade. Cinco fizeram a conexão. “É um trabalho de formiguinha, cada um tem de fazer a sua parte. A empresa está bem empenhada em despoluir e conservar os igarapés”, diz Tannia Mattos, da Águas de Manaus.

A lagoa que renasceu

Construção de estacões de tratamento de esgoto, ampliação da rede e investimentos em todo o sistema fizeram com que a Lagoa de Araruama (RJ) tivesse água de qualidade e até os peixes voltaram.

Um “trabalho de formiguinha” foi feito pela Prolagos (RJ) e resultou na recuperação da Lagoa de Araruama (RJ). É possível falar em renascimento, pois a lagoa estava praticamente morta no início dos anos 2000. “Não tinha mais pescado, não era possível usar para o esporte e o lazer, nem mesmo chegar perto”, afirma Pedro Freitas, o novo diretor-presidente da Prolagos.

Mineiro, ele passava as férias na Região dos Lagos (RJ) e conta que era preciso fechar o vidro do carro ao passar pela lagoa que dá nome à região – na verdade, não é uma lagoa, nem são lagos, mas uma laguna hipersalina, a maior do mundo. Hoje, Pedro Freitas se orgulha do que vê no caminho do trabalho. “Olhando para a lagoa hoje, fica muito visível o poder transformador que os investimentos em saneamento têm”, diz ele.

O colapso

Para entender o processo transformador, é preciso voltar a 1998, época da assinatura do contrato com a Prolagos. A região tinha 30% de rede de água e zero de esgoto. Seguindo a meta contratual, a concessionária ampliou rapidamente o acesso à água tratada. Com isso, aumentou muito a geração de esgoto que acabava na lagoa, sem nenhum tratamento.

“Quando eu cheguei a água era cristalina, depois foi piorando, muita construção, cinco cidades em volta dela, cada vez vindo mais gente. A lagoa foi sofrendo degradação, os peixes sumiram e ela foi considerada morta”, conta o nordestino Cícero Vanderley Neto, que chegou à Região dos Lagos em 1990 e hoje é presidente da Colônia Z29, de Iguaba Grande (RJ).

Cícero Vanderley Neto comemora a fartura de peixes depois da recuperação da lagoa.

A transformação: investimentos antecipados

Com o colapso da lagoa, houve uma ampla discussão na sociedade. A concessionária envolveu as prefeituras, governo do estado, agente regulador, ministério público, entidades ambientais e a população. “A decisão foi a de antecipar os investimentos em esgoto. A meta contratual, de 80% de coleta e tratamento, foi atingida. A lagoa está viva novamente”, afirma Pedro Freitas.

Missão cumprida? “Ainda não”, responde o diretor-presidente da Prolagos. “Temos investimentos relevantes a fazer que podem melhorar ainda mais a qualidade da água da lagoa. Mas dá pra falar do orgulho que temos por chegar aonde chegamos. Foi um dos motivos que me fizeram aceitar o convite para ser o diretor-presidente e que nos incentivam a seguir para fazer mais”, diz.

Para ele, a Lagoa de Araruama serve de inspiração para o próximo passo da Aegea. “Dá para olhar para a Baía de Guanabara e dizer: é possível!”, pontua. A recuperação da baía é um dos desafios da Aegea ao assumir a nova concessão no Rio de Janeiro (RJ), a Águas do Rio.

Pedro Freitas, diretor-presidente da Prolagos (RJ), comemora os avanços na recuperação do ecossistema e espera fazer ainda mais pelo meio ambiente na Região dos Lagos (RJ).

*Colaboração de Ana Paula Barros, Kamila Macedo, Matheus Maderal, Roberta Moraes e Ude Valentini.