Inovação e
TECNOLOGIA

edição 40 | 2023 | novembro

Economia circular

UNIÃO DE ESFORÇOS TRANSFORMA RESÍDUOS EM ENERGIA

Texto: Francine Rosa e Thais Tomie

Com uma solução inteligente e eficiente para a destinação do lodo resultante da estação de tratamento de esgoto, a Águas de Primavera (MT), além de melhorar a questão ambiental, foi premiada. O Projeto Geosteel, desenvolvido pelo setor de Operações da concessionária, conquistou o 3º lugar no Prêmio Sustentabilidade da Abcon Sindcon, na categoria Inovação Técnica. A 5ª edição do Prêmio Sustentabilidade teve como tema “Saneamento como vetor de inclusão e sustentabilidade” e recebeu 87 projetos e iniciativas, todos em busca de um futuro mais sustentável. A premiação aconteceu no teatro da Unibes Cultural, em São Paulo, em 28 de agosto.

O Geosteel é um sistema móvel para retirada do lodo das lagoas de tratamento, que possui fácil instalação (plug and play), o que permite a movimentação de estrutura entre as unidades da empresa, assim como a melhoria da eficiência do tratamento. “A eficiência para secagem do lodo é maior, uma vez que todo o tecido de deságue é permeável, ganhando assim as laterais para aumentar o deságue de lodo quando comparado ao leito de secagem. Considerando que o solo é um recurso natural, não renovável, este mecanismo tem grande importância, pois promove o uso sustentável e a redução de consumo dos recursos naturais e materiais”, explica o coordenador de Qualidade da Águas de Primavera, Fabrício Gonçalves Gusmão.

Para o diretor-executivo da Águas de Primavera, Marcos Vinicius Antunes, o prêmio é resultado da atuação que a concessionária vem apresentando no setor de saneamento, fruto do trabalho das equipes e gestão na busca constante por soluções inovadoras, com o objetivo de obter uma melhoria contínua e sustentável dos seus processos. “Inovação e tecnologia são fundamentais para a empresa, pois é por meio delas que podemos melhorar os serviços ofertados à população e manter a nossa eficiência operacional, resultando no equilíbrio entre recursos hídricos, meio ambiente e saúde pública”, pontua.

Projeto Retransformar

O projeto, uma unidade de tratamento de resíduos (UTR), está transformando o lodo resultante do tratamento do esgoto doméstico, material que geralmente é descartado em aterro sanitário, em uma substância que pode ser tratada e reutilizada como gás biocombustível ou em um tipo de carvão vegetal, chamado biochar, elemento útil para aplicação na agricultura, a fim de recuperar solos degradados e para o sequestro de carbono.

Além de movimentar a economia circular, a tecnologia inovadora e sustentável é interessante por resultar da soma de esforços entre várias empresas e instituições. Foi implantada na unidade operacional da Prolagos, financiada pela Águas do Rio e Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação, em parceria com Agenersa, Universidade Federal Fluminense (UFF) e Prefeitura de Arraial do Cabo.

Tecnologia não poluidora

A unidade terá capacidade para tratar todo o lodo produzido na ETE, ou seja, cerca de 2 toneladas por dia, e o projeto terá duração de 3 anos. O equipamento utiliza a “pirólise lenta a tambor rotativo”, ou seja, um processo de decomposição termoquímico da matéria. O gás produzido é filtrado e enviado para queimadores e para geração de energia. Uma parcela do gás retorna a fim de alimentar o processo e, com isso, não são produzidos gases poluentes ou tóxicos.

“Os testes realizados estão produzindo resultados inovadores no país. Estamos analisando quais são as melhores formas de reaproveitamento do lodo e quais têm melhor custo-benefício, impactando não só empresas voltadas para o saneamento como também outras indústrias. Também estamos estudando formas de aumentar a capacidade da planta para atendermos estações de tratamento ainda maiores. Por meio de softwares, criaremos gêmeos digitais da unidade e faremos testes simulando a expansão da produtividade”, explica Rodolfo Cardoso, doutor em Engenharia de Produção, da Universidade Federal Fluminense, responsável pelo projeto.

Menos de 5% do lodo é reaproveitado no Brasil

No Brasil, existem muitas formas de tratamento e reaproveitamento do lodo, mas dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE – 2017) indicam que menos de 5% do lodo sanitário é reaproveitado; a maioria é aplicada como compostagem, na incineração e em outras formas de gaseificação. “Nossa intenção é construir modelos de aplicação para as diferentes condições das estações de tratamento de esgoto no Estado do Rio de Janeiro. Esse investimento vai permitir transformar o lodo, um passivo ambiental de alto impacto, que atualmente é descartado em aterro sanitário, em benefícios para a natureza e a sociedade, promovendo uma operação mais sustentável”, ressalta Pedro Freitas, diretor-presidente da Prolagos.

Projeto autossuficiente

“O Retransformar é um projeto que é autossuficiente, pois, além de dar uma destinação para o que antes era um resíduo, ele também utiliza a própria energia para que a unidade possa funcionar. Nesse processo não se perde nada. Isso está relacionado com as nossas metas de desenvolvimento sustentável, economia circular e com nosso objetivo final, que é melhorar a vida das pessoas. A intenção é construir modelos de aplicação para as diferentes condições das estações de tratamento de esgoto no Estado do Rio de Janeiro”, explica o diretor-executivo da concessionária, José Carlos Almeida.

Outras parcerias

Outras parcerias em unidades da Aegea também dão um destino mais sustentável para o lodo, como as da Ambiental Metrosul (RS) e da Mirante (SP). Esta última já recebeu o Prêmio Eco pelo projeto “Integrando o lodo no conceito de economia circular na Unidade Mirante de Piracicaba”, promovido pela Amcham e Época Negócios, uma das premiações mais tradicionais ligadas à proteção ambiental no país. O projeto foi analisado por um time de 50 jurados e especialistas e competiu com 108 iniciativas. É um exemplo de parceria vencedora, envolvendo a empresa, a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, a Esalq/USP.