ENTREVISTA

edição 40 | 2023 | novembro

Corsan

A EXPERIÊNCIA DE DUAS GRANDES EMPRESAS DE SANEAMENTO

Leandro Marin,
vice-presidente de Operações e da Regional 2 da Aegea.

Como foram os primeiros meses de atuação entre a parceria Aegea e Corsan?

É uma honra participar desse processo, pois o Rio Grande do Sul sai na frente no Marco Legal com a primeira desestatização de uma companhia estadual de saneamento básico no Brasil e tenho certeza de que será um marco para todo o setor. De um lado, temos o protagonismo gaúcho e o entusiasmo rio-grandense em abrir caminhos. De outro, a Aegea, que é líder do consórcio do qual participam a Perfin e Kinea, chega tendo como um dos seus talentos a brasicidade, que é essa forma de trabalhar valorizando a cultura das comunidades onde atua e respeitando as particularidades e os desafios próprios de cada município, seja ele pequeno, médio ou grande. Então, a Aegea venceu o leilão em dezembro de 2022 e assinou o contrato em 7 de julho, e está vestindo a camisa da Corsan com muito orgulho. Podemos dizer: “somos Corsan”, e é só o início de uma trajetória com um investimento de R$ 15 bilhões em uma década, com 6,5 milhões de vidas impactadas por mais saúde e bem-estar.

Houve uma certa apreensão por ser o primeiro processo de desestatização; como tem sido a receptividade?

Tem sido de momentos com muito diálogo, muita interação com receptividade e aprendizado para todos os envolvidos, tanto empresa quanto a população. Dos 317 contratos com os municípios, 116 já foram devidamente atualizados e assinados pelos gestores municipais, cerca de 80 estão em negociação e os demais seguem nos procurando para buscar entender a segurança jurídica no novo contexto de prestação de serviços e a importância da decisão de renegociar com a Corsan e se adequar para realizar e entregar as metas do saneamento à população. Fatores importantes para que a parceria avance são o nosso plano de trabalho e os números – além dos benefícios em relação ao saneamento, cerca de 66 mil empregos serão gerados anualmente.

O investimento de R$ 15 bilhões em uma década é um projeto ousado?

É um projeto complexo, mas que torna realidade algo “básico” à dignidade humana: o acesso universal de água e esgoto à população. Vale frisar que o “básico”, no entanto, está longe de ser “simples”. O novo momento da empresa se divide entre a responsabilidade de entregar um projeto de futuro, cumprindo com as metas inadiáveis da universalização até 2033, e o compromisso de mobilização pela continuidade da prestação de serviços imediatos, o que por si já compreende um gigantesco desafio de integração para uma equipe com aproximadamente 5 mil colaboradores. O programa de relacionamento comunitário da Corsan também começa a absorver um dos mais fortes pilares da Aegea. Estamos construindo, juntamente com as agências gaúchas de regulação do serviço, um plano de ação com uma visão cuidadosa às famílias socialmente mais vulneráveis, para que se possa garantir amplo acesso aos serviços de saneamento no estado não só levando infraestrutura, mas também implantando uma tarifa social financeiramente viável para a população mais carente.

Quais são as prioridades?

Estamos com times imersos, 24 horas por dia, em projetos que vão da modernização de parques de equipamentos obsoletos a novas implantações na infraestrutura de ativos, sustentando o nosso plano dos primeiros 100 dias de operação em realizar intervenções de impacto relevante e imediato à população. Outra frente de trabalho é formada por equipes focadas em concluir todas as obras que a Corsan já havia começado, incluindo aquelas paralisadas por questões contratuais, transformando essas melhorias em pronta resposta de estruturas que começarão a funcionar o mais rapidamente possível. Além disso, já inauguramos também aquele que é o principal eixo do programa de investimentos do Rio Grande do Sul rumo à universalização da cobertura da rede e do sistema de tratamento do esgotamento sanitário. Elevar dos atuais 20% o acesso ao serviço aos 90% exigidos pela lei até 2033 é factível porque o trabalho já iniciado deve ganhar cadência a partir de agora. É o famoso trocar a roda com o carro andando, só que em um ritmo acelerado que faça frente aos compromissos socioambientais e contratuais assumidos.

São 317 municípios com realidades e necessidades distintas; existem planos regionalizados para atender as diferenças?

A Aegea tem esta expertise de atuar em municípios grandes, médios ou pequenos. No Rio Grande do Sul, o plano de trabalho está dividido em 10 Superintendências Regionais: Fronteira, Pampa, Central, Missões, Planalto, Nordeste, Sinos, Metropolitana, Litoral e Sul. Um foco importante do nosso trabalho está no litoral gaúcho, região que temporariamente abreviou sua economia e toda a indústria da construção civil por falta de saneamento e agora já colhe os primeiros resultados da nossa chegada. Destravamos, na Justiça, as autorizações para novas construções na região de Capão da Canoa após apresentarmos nosso plano intensivo de investimentos em infraestrutura de água e esgoto. Todo o litoral precisa urgentemente desse olhar, não apenas pela imprescindível questão ambiental, mas também para salvar empreendimentos imobiliários que são a locomotiva econômica da região.

Perdas de água, regularidade no abastecimento e resiliência hídrica são focos de atenção no programa da Corsan?

Resiliência hídrica é um dos eixos de atenção do nosso programa de médio e longo prazo. O Rio Grande do Sul sofre muito com estiagens e, lamentavelmente, com fenômenos climáticos extremos como ciclones, que costumam causar enchentes com grande poder destruidor de vidas, cidades e atividades econômicas. A indisponibilidade hídrica nesses períodos costuma castigar a população. Olhar para esse problema e planejar ações de ampliação da oferta hídrica para os sistemas de abastecimento é outra prioridade que já começou a sair do papel dentro do nosso pacote inicial de investimentos. Vamos atuar também no combate às perdas, pois chegamos para contribuir amplamente no campo de performance e inovação da companhia, unindo nossa eficiência a preocupações com redução de perdas hídricas e modernização de políticas de pessoal, compliance e suprimentos, só para citar exemplos.

A experiência com a Ambiental Metrosul contribui de alguma forma para a operação da Corsan?

Todo aprendizado e experiência são sempre válidos e estamos em solos gaúchos desde 2019, quando vencemos o primeiro leilão com a Corsan para a Parceria Público-Privada e iniciamos a operação da ampliação do esgotamento sanitário de nove cidades da Região Metropolitana de Porto Alegre por meio da Ambiental Metrosul. Todo o marco contratual vem sendo cumprido e disponibilizamos rede de esgoto para 240 mil pessoas desde a nossa entrada. O governo tem demonstrado aprovação ao trabalho que vem sendo feito pela PPP. Acreditamos que o sucesso dela contribuiu favoravelmente para a decisão em privatizar a companhia como um todo. Estamos muito otimistas e vibrando, junto com os gaúchos, por realizarmos uma boa gestão e alavancarmos o desenvolvimento de todo o estado por meio dos investimentos em saneamento.