edição 38 | 2023 | janeiro a março
Entrevista a Rosiney Bigattão
Nós temos uma questão muito forte na Aegea que é a questão da LSO, a licença social para operar. É a permissão para entrar na casa das pessoas, atuar na comunidade, enfim, para estar presente na sociedade, sempre olhando o bem-estar das pessoas. A Aegea assumiu um papel protagonista de cinco anos para cá no setor, então ela tem atuado fortemente para fazer a diferença na redução da mortalidade infantil, na redução de gastos com saúde, na geração de mais dignidade para as pessoas e tudo isso por meio dos serviços prestados, que preveem a ampliação da cobertura do abastecimento de água e de coleta e tratamento de esgoto para a sociedade. Um planeta mais sustentável passa, necessariamente, pela universalização do acesso ao saneamento.
É o aspecto mais importante desta questão da licença social para operar e é uma lição que eu aprendi na Aegea: o setor de saneamento precisa se preocupar e priorizar a inclusão da população vulnerável. É a primeira vez que vejo uma empresa priorizar essa agenda. Aqui é muito forte esta questão do social, de a empresa entender o que cabe no bolso das pessoas para poder pagar a sua conta, para ter acesso aos serviços. Colocamos em prática a Tarifa Social, um benefício que já existia, mas ganhou uma outra proporção. Tanto é que em Manaus (AM), em razão da realidade da cidade, foi criada a Tarifa Manauara, que é voltada para os vulneráveis. Já são mais de 100 mil famílias atendidas. No Rio de Janeiro, em um ano de operação, 15% dos nossos clientes estão na categoria social.
Exatamente, não fazemos por fazer, estamos atendendo à população vulnerável, mas também fazendo um negócio que seja sustentável para todos, inclusive aos seus acionistas, aos bancos, que são os financiadores da empresa. Em resumo, o mundo com que a Aegea, como protagonista do setor, precisa se preocupar é que todos tenham acesso ao saneamento visando cada vez mais reduzir a desigualdade social nos municípios que ela atende. Isso é o mercado sustentável, pois, a partir do momento que a gente faz isso, cria renda dentro da comunidade, desenvolve fornecedores, estimula pequenos empresários… Um exemplo é o que estamos fazendo no Rio de Janeiro, onde a Águas do Rio cria oportunidades de desenvolvimento nas comunidades, gerando riquezas para os moradores locais e, com isso, eles têm recursos para pagar suas próprias contas e movimentar a economia local.
A Aegea tem um planejamento orçamentário quinquenal, o qual é revisado a cada três meses, mas também fazemos o estratégico, que é um documento muito mais amplo, feito com apoio de consultorias externas. O primeiro documento é de 2011 e, com o crescimento da companhia, temos a preocupação de revisitar esse planejamento para ver se as metas foram alcançadas, se os desafios das unidades foram atingidos e, caso não tenham sido, analisar o que aconteceu. Nos últimos seis anos, nosso planejamento estratégico foi revisitado três vezes, com consultoria do BCG. No primeiro, em 2017, o market share projetado foi alcançado no ano seguinte, com a aquisição da Unidade de Manaus. Em 2020, houve uma nova atualização, com um olhar voltado para todas as perspectivas de novos projetos, principalmente a partir do novo Marco Legal. Logo na sequência, com a vitória no leilão da Cedae, no Rio de Janeiro, praticamente o que tínhamos projetado para cinco anos mais uma vez foi atingido em um. Com isso, no fim de 2021 fizemos mais uma rodada de atualização. No fim de 2022, o consórcio liderado pela Aegea venceu o leilão de privatização da Corsan. Então, em todos os documentos elaborados a Aegea está sempre preocupada em olhar qual o mercado potencial, qual a propensão do avanço do privado nesse mercado e qual é a possibilidade de ela ocupar esse espaço. Estamos sempre revisitando nosso planejamento estratégico para ter certeza de que vamos entregar o que foi pactuado com acionistas e conselheiros. Temos esta cultura de revisitar esse planejamento amplo, olhando sempre para o setor como um todo, qual a perspectiva de avanço do setor privado e, dentro dele, qual seria o papel da Aegea.
Não tenha dúvida: a empresa se preparou para o crescimento com estrutura de capital adequada, que é fundamental para este mercado em desenvolvimento. Para o leilão da Cedae, a Aegea conseguiu se estruturar de forma que, com os aportes de recursos dos seus acionistas, fosse dada a oferta para os dois blocos. No da Corsan, foi montada uma nova estrutura, trazendo novos investidores, a Perfin e a Kinea. Todo esse financiamento é fruto de planejamento estratégico, sempre revisitado. Sem ele, dificilmente seria possível montar uma estratégia de estrutura de capital, porque não saberíamos o quanto seria necessário investir para suportar o crescimento. Outro ponto, que também é fundamental no planejamento estratégico da Aegea, são as pessoas. Acelerar a capacitação e o desenvolvimento pessoal e profissional por meio da Academia Aegea, ter um programa de atração e retenção adequado, é o que pode viabilizar as conquistas e trazer a segurança de que vamos conseguir operar os negócios. Neste sentido, é o planejamento que nos possibilita crescer.
Primeiro, o histórico de entrega da empresa ao longo dos 12 anos. A eficiência operacional é muito grande. Tem um indicador clássico no saneamento que é o custo por domicílio atendido: Opex por economia. A Aegea opera em suas unidades a R$ 350 por economia. No mercado, a concorrência opera acima de R$ 500. O segundo ponto é a metodologia com que a empresa define a priorização da alocação do capital, a qual é discutida anualmente num evento do Portfolio Day. Então, o histórico de eficiência da companhia é muito forte, se tornando um grande atrativo para investidores internos e externos. Um grande balizador da credibilidade da empresa tem sido o reconhecimento e as premiações. Em 2022, a Aegea ficou em primeiro lugar mundial entre empresas pares de saneamento no ranking do Rating ESG da Sustainalytics, uma organização líder nesse tipo de análise. E também conquistou o primeiro lugar global em Governança Corporativa, Ética nos Negócios e Relacionamento com a Comunidade, o que é um reconhecimento pelo comprometimento da empresa com os pilares ESG e com a entrega de resultados sólidos e consistentes relacionados à sua atividade.
São vários fatores. Primeiro, uma estrutura adequada para operar A Aegea também saiu na frente de muitas empresas na migração para o mercado livre, de geração distribuída, então é uma grande vantagem competitiva. Outro ponto é a gestão regulatória, a forma como a Aegea opera por meio do MOA, o Modelo Operacional Aegea. A empresa tem dois diretores em cada unidade, um diretor-presidente, preocupado em gerar valor no contrato, na gestão contratual. E outro, o diretor-executivo, que é mais voltado para a operação, para a manutenção do valor que foi pactuado com o acionista. Então temos um profissional preocupado para dentro, com a operação, e outro, em gerar valor. Por fim, outro aspecto importante é o nosso modelo de atuar, apoiado na licença social para operar, que gera integração com a comunidade. Um exemplo claro é quando os investidores vão para o Rio de Janeiro e sobem para a comunidade. Quem acompanha essas visitas são os próprios moradores, que fazem parte das equipes da Águas do Rio, pessoas que estiveram lá a vida inteira. Nossa licença social para operar é muito forte. Aliada a ela, estamos desenvolvendo uma estrutura de capital para o crescimento, dando oportunidade para esses investidores colocarem recursos para o saneamento.
Brasicidades é a nossa capacidade de se adaptar às culturas regionais, isto está presente em todas as áreas da Aegea, nossa capacidade de ser flexíveis e de se adaptar aos cenários. A nossa brasicidade é chegar ao Rio de Janeiro, mais uma vez como exemplo, e respeitar o carioca que, entre 5.500 funcionários da Águas do Rio, 3.000 são de comunidades, espalhadas pelo Rio de Janeiro. É você ir para a Águas de Manaus e encontrar manauaras trabalhando nas equipes. Os moradores das palafitas sendo atendidos e atendendo. Esse respeito à cultura local, às diferenças regionais, é que gera o crescimento sustentável. E ele vem do modelo flexível da Aegea. No Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, a mesma coisa, são culturas totalmente diferentes, se não tivermos profissionais regionais, que entendam essas peculiaridades, não conseguiremos ter representatividade nessas localidades.
O MOA tem sete pilares: a condicionante do negócio, água, esgoto, regulatório, comercial, planejamento e licença social. Reúne as boas práticas da companhia (leia mais sobre o assunto na seção Em Pauta, com Fernanda Bassanesi). Por meio da Academia Aegea foram criadas trilhas de desenvolvimento, principalmente com os trainees; estamos falando de aproximadamente 30 profissionais – nos 18 meses do programa, eles passam pelas trilhas dos sete pilares, com os líderes fazendo apresentações, com trabalhos e desenvolvimento a partir do MOA. Eles são os futuros líderes, então é importante que eles entendam o nosso modelo, a nossa cultura, para que consigam replicar. Nos últimos anos, a criação de trilhas com os jovens ajudou muito nesse processo.
Corsan tem uma situação mais parecida com Manaus do que com o Rio de Janeiro, pois a Cedae continua existindo. Após o leilão foi criada uma nova empresa que começou do zero. Vieram profissionais da Cedae para a Águas do Rio, mas são poucos, a maior parte ficou na empresa. A Águas do Rio contratou muitos funcionários e continua contratando. No caso da Corsan, o CNPJ da empresa agora é da Aegea, com os seus 5.700 funcionários. A empresa já opera, vai continuar existindo, no nosso planejamento foi feito o mapeamento dos profissionais para entendermos como poderá ser feito, no momento adequado, o turn round de forma mais rápida e eficiente para todos os envolvidos. Mas em todos os locais onde atuamos sempre buscamos mesclar com colaboradores da Aegea que já conhecem a cultura da empresa. Temos exemplos de funcionários que eram de outras empresas e se adaptaram à cultura da Aegea: o Leonardo Menna, diretor-executivo de Mato Grosso, era do grupo Solví; Eduardo Lana era de planejamento da Águas de Manaus, agora é diretor-presidente de Rondônia, e vai assumir área comercial do Rio de Janeiro, e daí em diante. É um processo que requer liderança, formação e gestão de pessoas; sempre foi um ponto muito forte aqui dentro. Nossos líderes estão sempre preocupados em formar outros, são pessoas que investem tempo na formação de outras.
Vai estar na meta de todos os diretores e vice-presidentes, enfim, acima de gerentes, a questão da sucessão por meio de gestão de pessoas. Isso já vem acontecendo, temos tido muitas promoções, pois se tem uma base dentro da Aegea que incentiva e ajuda nesse processo.
Estamos prontos para estudar os projetos, as oportunidades, sempre com disciplina financeira, com estrutura e time formado para estar estudando um bom negócio para a companhia. Se for um bom negócio, se couber dentro da disciplina financeira da empresa, estaremos aptos a esse crescimento. Nós estudamos muito os nossos projetos, o da Corsan, por exemplo, há mais de dez anos, ainda na época da Proposta de Manifestação de Interesse. Quando o Governo do Estado do Rio Grande do Sul pediu para que o mercado estudasse propostas para a companhia, a Aegea foi uma das que apresentaram, tanto é que vencemos a PPP em 2019, na Região Metropolitana de Porto Alegre, os nove municípios que a Ambiental Metrosul atende. Então o time tem um conhecimento muito forte desse projeto e isso nos dá um conforto que vai gerar uma riqueza muito grande para o estado e para todos os stakeholders. A disciplina de estudar e a de montar uma estrutura de capital adequada permitiram fazer a oferta que nós fizemos.
Será um ano bastante difícil, o cenário macroeconômico é bastante desafiador, vai exigir que todos na Aegea priorizem a alocação de capital – alocar corretamente dentro dos seus negócios, onde gere riqueza. Mas é também um ano de uma oportunidade enorme pela frente, as pessoas têm de estar preparadas para sentarem em novas cadeiras, ocupar novos cargos e enfrentarem desafios diferentes. É um momento muito importante para a Aegea, pois é o segundo ano do Rio de Janeiro, com um primeiro ano muito bom, então precisamos continuar entregando resultados, desenvolvendo pessoas das comunidades, avançando no plano de investimento. Teremos uma mobilização a ser feita no Ceará. Tem ainda o Rio Grande do Sul, então, será um ano de bastante trabalho. E muitas oportunidades, as pessoas precisam estar preparadas.
Não tenha dúvida de que a Aegea tem um papel muito forte nisso, é uma empresa que se preocupa com a água de reúso, estamos desenvolvendo esse protagonismo no Rio de Janeiro. É uma cidade com abastecimento crítico em alguns pontos, algumas indústrias estão junto com a gente para tentar desenvolver o negócio, de água de reúso, para deixar mais água para o consumo humano. Mas a grande contribuição neste sentido, da Aegea nos próximos anos, é a despoluição da Baía de Guanabara. Nós temos uma experiência muito clara, em uma proporção menor, que foi a despoluição da Lagoa de Araruama na região dos Lagos, que hoje tem cavalos-marinhos, então é uma grande preocupação da empresa, a despoluição da baía, de rios e córregos nas cidades onde atuamos.
É se capacitar, procurar estar sempre focado e antenado, extrair o máximo possível de seus gestores. Quando estagiário, sempre procurei ouvir muito, mais do que falar, para aprender com quem tem o que agregar. Às vezes o jovem fica preocupado em crescimento, promoção de cargos, mas é mais importante absorver conhecimento, aprender com as pessoas que têm uma vivência maior, do que efetivamente estar pensando em assumir um novo cargo. O desafio, por vezes, é mais importante que o cargo. Eu sou um eterno aprendiz e na Aegea todos temos oportunidades enormes para nosso desenvolvimento.