ENTREVISTA

edição 38 | 2023 | janeiro a março

Planejamento estratégico

AEGEA PREVÊ NOVAS OPORTUNIDADES PARA 2023 COM GERAÇÃO DE RIQUEZAS

André Medrado,
diretor de Planejamento da Aegea.

Entrevista a Rosiney Bigattão

De que forma a Aegea pretende contribuir na construção de um planeta mais sustentável?

Nós temos uma questão muito forte na Aegea que é a questão da LSO, a licença social para operar. É a permissão para entrar na casa das pessoas, atuar na comunidade, enfim, para estar presente na sociedade, sempre olhando o bem-estar das pessoas. A Aegea assumiu um papel protagonista de cinco anos para cá no setor, então ela tem atuado fortemente para fazer a diferença na redução da mortalidade infantil, na redução de gastos com saúde, na geração de mais dignidade para as pessoas e tudo isso por meio dos serviços prestados, que preveem a ampliação da cobertura do abastecimento de água e de coleta e tratamento de esgoto para a sociedade. Um planeta mais sustentável passa, necessariamente, pela universalização do acesso ao saneamento.

Como atender aos que não têm acesso aos serviços pelas condições sociais?

É o aspecto mais importante desta questão da licença social para operar e é uma lição que eu aprendi na Aegea: o setor de saneamento precisa se preocupar e priorizar a inclusão da população vulnerável. É a primeira vez que vejo uma empresa priorizar essa agenda. Aqui é muito forte esta questão do social, de a empresa entender o que cabe no bolso das pessoas para poder pagar a sua conta, para ter acesso aos serviços. Colocamos em prática a Tarifa Social, um benefício que já existia, mas ganhou uma outra proporção. Tanto é que em Manaus (AM), em razão da realidade da cidade, foi criada a Tarifa Manauara, que é voltada para os vulneráveis. Já são mais de 100 mil famílias atendidas. No Rio de Janeiro, em um ano de operação, 15% dos nossos clientes estão na categoria social.

O saneamento pode ser um negócio sustentável, com maior inclusão?

Exatamente, não fazemos por fazer, estamos atendendo à população vulnerável, mas também fazendo um negócio que seja sustentável para todos, inclusive aos seus acionistas, aos bancos, que são os financiadores da empresa. Em resumo, o mundo com que a Aegea, como protagonista do setor, precisa se preocupar é que todos tenham acesso ao saneamento visando cada vez mais reduzir a desigualdade social nos municípios que ela atende. Isso é o mercado sustentável, pois, a partir do momento que a gente faz isso, cria renda dentro da comunidade, desenvolve fornecedores, estimula pequenos empresários… Um exemplo é o que estamos fazendo no Rio de Janeiro, onde a Águas do Rio cria oportunidades de desenvolvimento nas comunidades, gerando riquezas para os moradores locais e, com isso, eles têm recursos para pagar suas próprias contas e movimentar a economia local.

Como é feito o planejamento da Aegea?

A Aegea tem um planejamento orçamentário quinquenal, o qual é revisado a cada três meses, mas também fazemos o estratégico, que é um documento muito mais amplo, feito com apoio de consultorias externas. O primeiro documento é de 2011 e, com o crescimento da companhia, temos a preocupação de revisitar esse planejamento para ver se as metas foram alcançadas, se os desafios das unidades foram atingidos e, caso não tenham sido, analisar o que aconteceu. Nos últimos seis anos, nosso planejamento estratégico foi revisitado três vezes, com consultoria do BCG. No primeiro, em 2017, o market share projetado foi alcançado no ano seguinte, com a aquisição da Unidade de Manaus. Em 2020, houve uma nova atualização, com um olhar voltado para todas as perspectivas de novos projetos, principalmente a partir do novo Marco Legal. Logo na sequência, com a vitória no leilão da Cedae, no Rio de Janeiro, praticamente o que tínhamos projetado para cinco anos mais uma vez foi atingido em um. Com isso, no fim de 2021 fizemos mais uma rodada de atualização. No fim de 2022, o consórcio liderado pela Aegea venceu o leilão de privatização da Corsan. Então, em todos os documentos elaborados a Aegea está sempre preocupada em olhar qual o mercado potencial, qual a propensão do avanço do privado nesse mercado e qual é a possibilidade de ela ocupar esse espaço. Estamos sempre revisitando nosso planejamento estratégico para ter certeza de que vamos entregar o que foi pactuado com acionistas e conselheiros. Temos esta cultura de revisitar esse planejamento amplo, olhando sempre para o setor como um todo, qual a perspectiva de avanço do setor privado e, dentro dele, qual seria o papel da Aegea.

Todas essas conquistas são fruto de planejamento também?

Não tenha dúvida: a empresa se preparou para o crescimento com estrutura de capital adequada, que é fundamental para este mercado em desenvolvimento. Para o leilão da Cedae, a Aegea conseguiu se estruturar de forma que, com os aportes de recursos dos seus acionistas, fosse dada a oferta para os dois blocos. No da Corsan, foi montada uma nova estrutura, trazendo novos investidores, a Perfin e a Kinea. Todo esse financiamento é fruto de planejamento estratégico, sempre revisitado. Sem ele, dificilmente seria possível montar uma estratégia de estrutura de capital, porque não saberíamos o quanto seria necessário investir para suportar o crescimento. Outro ponto, que também é fundamental no planejamento estratégico da Aegea, são as pessoas. Acelerar a capacitação e o desenvolvimento pessoal e profissional por meio da Academia Aegea, ter um programa de atração e retenção adequado, é o que pode viabilizar as conquistas e trazer a segurança de que vamos conseguir operar os negócios. Neste sentido, é o planejamento que nos possibilita crescer.

O que a Aegea tem de atrativo para captar novos investidores?

Primeiro, o histórico de entrega da empresa ao longo dos 12 anos. A eficiência operacional é muito grande. Tem um indicador clássico no saneamento que é o custo por domicílio atendido: Opex por economia. A Aegea opera em suas unidades a R$ 350 por economia. No mercado, a concorrência opera acima de R$ 500. O segundo ponto é a metodologia com que a empresa define a priorização da alocação do capital, a qual é discutida anualmente num evento do Portfolio Day. Então, o histórico de eficiência da companhia é muito forte, se tornando um grande atrativo para investidores internos e externos. Um grande balizador da credibilidade da empresa tem sido o reconhecimento e as premiações. Em 2022, a Aegea ficou em primeiro lugar mundial entre empresas pares de saneamento no ranking do Rating ESG da Sustainalytics, uma organização líder nesse tipo de análise. E também conquistou o primeiro lugar global em Governança Corporativa, Ética nos Negócios e Relacionamento com a Comunidade, o que é um reconhecimento pelo comprometimento da empresa com os pilares ESG e com a entrega de resultados sólidos e consistentes relacionados à sua atividade.

Que fatores pesam nessa eficiência?

São vários fatores. Primeiro, uma estrutura adequada para operar A Aegea também saiu na frente de muitas empresas na migração para o mercado livre, de geração distribuída, então é uma grande vantagem competitiva. Outro ponto é a gestão regulatória, a forma como a Aegea opera por meio do MOA, o Modelo Operacional Aegea. A empresa tem dois diretores em cada unidade, um diretor-presidente, preocupado em gerar valor no contrato, na gestão contratual. E outro, o diretor-executivo, que é mais voltado para a operação, para a manutenção do valor que foi pactuado com o acionista. Então temos um profissional preocupado para dentro, com a operação, e outro, em gerar valor. Por fim, outro aspecto importante é o nosso modelo de atuar, apoiado na licença social para operar, que gera integração com a comunidade. Um exemplo claro é quando os investidores vão para o Rio de Janeiro e sobem para a comunidade. Quem acompanha essas visitas são os próprios moradores, que fazem parte das equipes da Águas do Rio, pessoas que estiveram lá a vida inteira. Nossa licença social para operar é muito forte. Aliada a ela, estamos desenvolvendo uma estrutura de capital para o crescimento, dando oportunidade para esses investidores colocarem recursos para o saneamento.

O exemplo do Rio tem a ver com o talento que vocês chamam de brasicidades; como é isso a partir da visão do planejamento?

Brasicidades é a nossa capacidade de se adaptar às culturas regionais, isto está presente em todas as áreas da Aegea, nossa capacidade de ser flexíveis e de se adaptar aos cenários. A nossa brasicidade é chegar ao Rio de Janeiro, mais uma vez como exemplo, e respeitar o carioca que, entre 5.500 funcionários da Águas do Rio, 3.000 são de comunidades, espalhadas pelo Rio de Janeiro. É você ir para a Águas de Manaus e encontrar manauaras trabalhando nas equipes. Os moradores das palafitas sendo atendidos e atendendo. Esse respeito à cultura local, às diferenças regionais, é que gera o crescimento sustentável. E ele vem do modelo flexível da Aegea. No Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, a mesma coisa, são culturas totalmente diferentes, se não tivermos profissionais regionais, que entendam essas peculiaridades, não conseguiremos ter representatividade nessas localidades.

Como o Modelo Operacional Aegea é colocado em prática nas diversas unidades?

O MOA tem sete pilares: a condicionante do negócio, água, esgoto, regulatório, comercial, planejamento e licença social. Reúne as boas práticas da companhia (leia mais sobre o assunto na seção Em Pauta, com Fernanda Bassanesi). Por meio da Academia Aegea foram criadas trilhas de desenvolvimento, principalmente com os trainees; estamos falando de aproximadamente 30 profissionais – nos 18 meses do programa, eles passam pelas trilhas dos sete pilares, com os líderes fazendo apresentações, com trabalhos e desenvolvimento a partir do MOA. Eles são os futuros líderes, então é importante que eles entendam o nosso modelo, a nossa cultura, para que consigam replicar. Nos últimos anos, a criação de trilhas com os jovens ajudou muito nesse processo.

A Corsan é um novo desafio para o Modelo Operacional Aegea?

Corsan tem uma situação mais parecida com Manaus do que com o Rio de Janeiro, pois a Cedae continua existindo. Após o leilão foi criada uma nova empresa que começou do zero. Vieram profissionais da Cedae para a Águas do Rio, mas são poucos, a maior parte ficou na empresa. A Águas do Rio contratou muitos funcionários e continua contratando. No caso da Corsan, o CNPJ da empresa agora é da Aegea, com os seus 5.700 funcionários. A empresa já opera, vai continuar existindo, no nosso planejamento foi feito o mapeamento dos profissionais para entendermos como poderá ser feito, no momento adequado, o turn round de forma mais rápida e eficiente para todos os envolvidos. Mas em todos os locais onde atuamos sempre buscamos mesclar com colaboradores da Aegea que já conhecem a cultura da empresa. Temos exemplos de funcionários que eram de outras empresas e se adaptaram à cultura da Aegea: o Leonardo Menna, diretor-executivo de Mato Grosso, era do grupo Solví; Eduardo Lana era de planejamento da Águas de Manaus, agora é diretor-presidente de Rondônia, e vai assumir área comercial do Rio de Janeiro, e daí em diante. É um processo que requer liderança, formação e gestão de pessoas; sempre foi um ponto muito forte aqui dentro. Nossos líderes estão sempre preocupados em formar outros, são pessoas que investem tempo na formação de outras.

Como sustentar a manutenção da cultura por meio do planejamento?

Vai estar na meta de todos os diretores e vice-presidentes, enfim, acima de gerentes, a questão da sucessão por meio de gestão de pessoas. Isso já vem acontecendo, temos tido muitas promoções, pois se tem uma base dentro da Aegea que incentiva e ajuda nesse processo.

A Aegea está pronta para mais crescimento?

Estamos prontos para estudar os projetos, as oportunidades, sempre com disciplina financeira, com estrutura e time formado para estar estudando um bom negócio para a companhia. Se for um bom negócio, se couber dentro da disciplina financeira da empresa, estaremos aptos a esse crescimento. Nós estudamos muito os nossos projetos, o da Corsan, por exemplo, há mais de dez anos, ainda na época da Proposta de Manifestação de Interesse. Quando o Governo do Estado do Rio Grande do Sul pediu para que o mercado estudasse propostas para a companhia, a Aegea foi uma das que apresentaram, tanto é que vencemos a PPP em 2019, na Região Metropolitana de Porto Alegre, os nove municípios que a Ambiental Metrosul atende. Então o time tem um conhecimento muito forte desse projeto e isso nos dá um conforto que vai gerar uma riqueza muito grande para o estado e para todos os stakeholders. A disciplina de estudar e a de montar uma estrutura de capital adequada permitiram fazer a oferta que nós fizemos.

O que os colaboradores podem esperar de 2023?

Será um ano bastante difícil, o cenário macroeconômico é bastante desafiador, vai exigir que todos na Aegea priorizem a alocação de capital – alocar corretamente dentro dos seus negócios, onde gere riqueza. Mas é também um ano de uma oportunidade enorme pela frente, as pessoas têm de estar preparadas para sentarem em novas cadeiras, ocupar novos cargos e enfrentarem desafios diferentes. É um momento muito importante para a Aegea, pois é o segundo ano do Rio de Janeiro, com um primeiro ano muito bom, então precisamos continuar entregando resultados, desenvolvendo pessoas das comunidades, avançando no plano de investimento. Teremos uma mobilização a ser feita no Ceará. Tem ainda o Rio Grande do Sul, então, será um ano de bastante trabalho. E muitas oportunidades, as pessoas precisam estar preparadas.

Você é otimista em relação ao planeta sustentável que a Aegea quer ajudar a construir?

Não tenha dúvida de que a Aegea tem um papel muito forte nisso, é uma empresa que se preocupa com a água de reúso, estamos desenvolvendo esse protagonismo no Rio de Janeiro. É uma cidade com abastecimento crítico em alguns pontos, algumas indústrias estão junto com a gente para tentar desenvolver o negócio, de água de reúso, para deixar mais água para o consumo humano. Mas a grande contribuição neste sentido, da Aegea nos próximos anos, é a despoluição da Baía de Guanabara. Nós temos uma experiência muito clara, em uma proporção menor, que foi a despoluição da Lagoa de Araruama na região dos Lagos, que hoje tem cavalos-marinhos, então é uma grande preocupação da empresa, a despoluição da baía, de rios e córregos nas cidades onde atuamos.

A partir da sua trajetória, qual a dica para quem está iniciando a carreira em saneamento?

É se capacitar, procurar estar sempre focado e antenado, extrair o máximo possível de seus gestores. Quando estagiário, sempre procurei ouvir muito, mais do que falar, para aprender com quem tem o que agregar. Às vezes o jovem fica preocupado em crescimento, promoção de cargos, mas é mais importante absorver conhecimento, aprender com as pessoas que têm uma vivência maior, do que efetivamente estar pensando em assumir um novo cargo. O desafio, por vezes, é mais importante que o cargo. Eu sou um eterno aprendiz e na Aegea todos temos oportunidades enormes para nosso desenvolvimento.