edição 34 | janeiro 2022

Saneamento como alavanca de transformação social

Alexandre Bianchini, diretor-presidente da Águas do Rio, fala dos desafios da maior empresa privada de saneamento do país.

Por: Yolanda Carnevale

Como foi a trajetória até chegar à concessão no Rio de Janeiro?

Foi uma caminhada marcada por um sonho. Também pela visão estratégica da Aegea, muito estudo técnico e pela organização da estrutura de capital para sustentar uma disputa que sabíamos que seria acirrada. Tivemos o engajamento de uma companhia inteira. Afinal, era um dos maiores e mais importantes leilões de infraestrutura do país nos últimos tempos, pela relevância de ter a capital do Rio de Janeiro, pelas cifras elevadas, com outorga que ultrapassou os R$ 22 bilhões – somente a Aegea arcou com R$ 15,4 bilhões – e pelos desafios ambientais e sociais.

Por que priorizar os blocos 1 e 4 do leilão?

As cidades que estão nesses blocos são as que contornam a Baía de Guanabara.  É a porta de entrada do Rio para quem chega à capital fluminense e um símbolo nacional, reconhecido pela ONU como patrimônio da humanidade. Mas, apesar disso, convive com o despejo diário de milhões de litros de esgoto sem tratamento em suas águas. A estratégia foi “abraçar” a baía e atuar na recuperação desse importante ecossistema, indo ao encontro do nosso firme propósito de deixar um legado ambiental para esta e as futuras gerações.

E como a Águas do Rio vai construir esse legado?

Nos próximos cinco anos vamos investir R$ 2,7 bilhões na construção de coletores de esgoto no entorno da Baía de Guanabara. Vamos formar um cinturão, que vai levar o resíduo gerado em oito municípios, incluindo bairros da capital, para as estações de tratamento, que estão passando por melhorias para ampliar a capacidade e modernizar os processos. Com esse cinturão vamos interromper o despejo in natura do esgoto que chega pelas galerias pluviais. Esse modelo de esgotamento sanitário, chamado Coleta em Tempo Seco, é o mesmo implantado com sucesso nas baías de Tóquio e Sydney. Também, em menor escala, na Lagoa Rodrigo de Freitas, na zona sul do Rio, e na Lagoa de Araruama, na Região dos Lagos do estado, onde a Aegea também atua.

A recuperação é um projeto possível?

Temos convicção de que, com uma boa governança, é possível recuperar a baía. Mas tem de ser um trabalho em conjunto com os agentes públicos, municipais, estaduais e federais, iniciativa privada e o cidadão. É preciso planejamento urbano e políticas ambientais, principalmente para evitar o despejo de resíduos industriais, o vazamento de óleo e o descarte do lixo urbano, que, somados ao esgoto doméstico, são os maiores responsáveis pela degradação desse patrimônio.

Como é a atuação da Águas do Rio?

Somos responsáveis pelo saneamento básico em 27 municípios, incluindo 124 bairros nas zonas norte, sul e central da capital. Na maior parte da Região Metropolitana, estamos encarregados pela distribuição da água e pelo esgotamento sanitário, onde a antiga prestadora dos serviços, Cedae, continua captando e tratando a água. Em outros municípios, especialmente no interior do estado, a concessionária responde pelo ciclo integral da água, ou seja, captação, tratamento e distribuição da água, além da coleta e do tratamento do esgoto. Dividimos nosso território em seis superintendências para que todos os clientes tenham uma gestão mais próxima, além de investimentos e planejamentos específicos. Uma dessas superintendências é exclusiva para as comunidades que atendemos na capital.

A atuação em comunidades é o grande diferencial na prestação dos serviços da Águas do Rio?

Em toda nossa área de concessão existem cerca de 700 comunidades, das quais 525 na cidade do Rio, onde vive mais de um milhão de pessoas. A maioria sem serviço adequado de água e esgoto. Uma população à margem dos benefícios do saneamento. Estamos promovendo uma transformação social. E falo no presente porque estamos priorizando a contratação de quem mora em comunidades. Existem muitos talentos e pessoas que estão tendo a primeira oportunidade de emprego e que não vislumbravam até então uma carreira profissional. Gente que conhece os desafios que teremos pela frente e que quer ajudar a mudar esse cenário. A previsão é de gerar 5 mil empregos diretos, sendo a metade selecionada em comunidades, e 15 mil indiretos. Vamos movimentar a economia local, com a realização de obras de infraestrutura e levar dignidade, saúde e qualidade de vida para as pessoas, por meio do saneamento básico. E temos certeza de que é o início de um círculo virtuoso para o estado, que terá melhores condições para atrair novas empresas, de diferentes áreas, e gerar mais emprego e renda para a sua população.

Quando vai ocorrer a universalização do saneamento no Estado do Rio?

A universalização da água, com 99% da população com acesso a água tratada, será alcançada em dez anos. Dois anos depois será o acesso ao esgotamento sanitário que estará disponível para 90% das pessoas nas 27 cidades atendidas. Para atingir essas metas serão investidos R$ 24,4 bilhões, sendo R$ 7,4 bilhões nos primeiros cinco anos. Um reflexo da confiança que temos na capacidade do povo fluminense.

Qual o balanço desses primeiros meses?

Assumimos a operação em 1º de novembro do ano passado. Marcamos esse início com 100 obras de infraestrutura nas ruas, pelo menos uma em cada cidade. Obras de pequeno e médio portes como reformas nas estações elevatórias de esgoto, a exemplo de Copacabana, e a substituição de diversos trechos das redes de água e de esgoto na Rocinha, uma das maiores comunidades do país, com cerca de 122 mil habitantes.

Quais as prioridades neste início?

Nossa prioridade neste começo é recuperar a infraestrutura existente nos municípios. Por isso as reformas estão ocorrendo também na Baixada Fluminense, onde vivem mais de três milhões de pessoas, e nas cidades do interior. Na segunda maior cidade do estado, São Gonçalo, já executamos mais de quatro mil serviços no primeiro mês, entre reparos de vazamentos, desobstruções de redes e alterações cadastrais. Todo trabalho é monitorado pelo nosso Centro de Operações Integradas (COI), em tempo real, 24h por dia. Este é o maior centro de controle do grupo Aegea, com 115 operadores em turnos, detém tecnologia avançada, com inteligência artificial e IoT (internet das coisas) para a gestão de dados. E R$ 10 milhões já foram investidos com a aquisição de equipamentos e softwares, que irão impactar na eficiência operacional, na transparência das informações e na regularidade dos serviços prestados, transmitindo confiabilidade na operação e credibilidade aos clientes.

Qual a estrutura para o atendimento aos clientes?

São 38 lojas e uma equipe formada por 733 pessoas, sendo 250 diretamente no SAC e WhatsApp. As redes sociais estão ativas, bem como o aplicativo Águas App. Há uma média de 4.200 atendimentos por dia, boa parte para atualização cadastral. A opção via WhatsApp, que não existia antes, é o canal preferencial dos usuários, por intermédio do qual é possível acessar praticamente todos os serviços disponíveis, alguns até sem a intervenção de um(a) atendente, como a emissão da segunda via da conta. Além de todos esses canais, temos ainda o atendimento itinerante acompanhando o programa Vem com a Gente. Os grandes clientes, como a Fundação Oswaldo Cruz e o Aeroporto Tom Jobim (Galeão), entre outros, também possuem um suporte personalizado com o acompanhamento do consumo.

E o que a Águas do Rio espera daqui para a frente?

Estamos no início de uma longa jornada de melhorias na vida das pessoas. Investindo em equipamentos, tecnologias e, principalmente, em profissionais experientes para ampliar cada vez mais nossa capacidade de apresentar soluções. Estamos ampliando nossas parcerias com as lideranças comunitárias, pessoas imprescindíveis para o amadurecimento de nossa gestão. Precisamos conhecer a fundo as diferentes realidades e particularidades de cada região onde atuamos. Hoje, só nas comunidades do Rio, são mais de 300 lideranças conectadas ao Programa Afluentes.

É um grande desafio?

O desafio, sem dúvida, é gigante. Mas, ao mesmo tempo, é uma oportunidade única de fazer história e contribuir ativamente para a retomada socioeconômica do Rio de Janeiro. Queremos garantir o direito fundamental à dignidade da pessoa humana, especialmente para aquelas que, geração após geração, sonham com o simples gesto de abrir a torneira e ter água potável para consumir. Este é o propósito que nos move.