edição 37 | 2022 outubro a dezembro
Texto: Rosiney Bigattão
É difícil imaginar o vice-presidente da Regional 4 da Aegea e diretor-presidente da Águas do Rio, Alexandre Bianchini, mergulhando em uma adutora para tentar descobrir onde estava o problema que deixava milhões de pessoas sem abastecimento. A situação foi relatada por ele para lembrar a importância da segurança do trabalho e causou bastante impacto durante a Sipat 2022 da Aegea, realizada em setembro. Foram muitas vivências para amadurecer um conceito que para ele é vital: o cuidado com a segurança.
“Temos de tomar cuidado com a síndrome do super-herói. Até pelo carinho, pelo amor que temos pelo nosso trabalho, a gente acaba querendo superar nossos limites, acreditamos que damos conta de fazer tudo, mas somos feitos de carne e osso – a gente se machuca, morre, afinal, nosso corpo não é indestrutível como o do Super-Homem ou da Mulher Maravilha. A única coisa que pode nos salvar, e o mundo à nossa volta, é o cuidado, que começa com a gente, vai para quem está ao nosso lado e o meio que nos cerca”, afirmou. “Temos de nos lembrar ainda que o cérebro não é uma máquina, ele também tem seus limites. Você sofre por pressão, por estresse, por angústia. Tudo isso influencia muito durante a sua jornada de trabalho. As questões mentais têm de ser analisadas”, disse Bianchini.
A palestrante Graziela Araújo trouxe alguns conceitos que contextualizam o depoimento do VP Alexandre Bianchini. A síndrome do super-herói, segundo ela, é um dos cinco comportamentos que mais causam acidentes – a autoconfiança, que forma um exército de acidentados no Brasil. “A melhor definição para autoconfiança é quando a voz que fala mais forte dentro da gente é a da experiência. Ela evita ações como ‘eu paro, eu cuido, eu verifico’, que devem ser feitas sempre”, destacou Graziela Araújo, ao abordar os comportamentos que podem ou não ajudar a construir acidentes. Um outro comportamento muito importante também, segundo ela, é a pressa. É muito diferente de eficiência, é a busca por atalhos e os números mostram como eles são perigosos. O terceiro é o improviso. “Quantas vezes aceitamos fazer um trabalho que nunca fizemos ou que não sabemos fazer? Também costumamos olhar para a atividade e pensar: é simples demais, rápido demais, conhecido demais, óbvio demais, qualquer pessoa pode fazer. Não existe isso! É fundamental parar de improvisar sua integridade física, sua vida”, disse.
Existe uma terceira natureza muito presente nos acidentes: a exceção. “Só hoje, só dessa vez, só agora, só para terminar, é o último. Quantas vezes damos desculpas pelo comportamento inseguro”, lembrou. Além da exceção, do improviso e da pressa, os acidentes contam com a ajuda do presumir. “É o famoso ‘eu acho’. Eu quero te convidar a desligar o achômetro e ligar o confirmômetro – a verificação. É preciso verificar, confirmar e checar antes de realizar qualquer atividade”, afirmou Graziela. Ela mostrou que os acidentes são construídos e que cada um de nós pode ajudar a interromper seu ciclo. “Nenhum acidente nasce fatal, catastrófico, são as nossas atitudes que nos colocam cada dia mais perto deles”, falou a palestrante. Segundo ela, é preciso interromper a rota do acidente e, para isso, precisamos colocar o cuidado na frente dele – “eu cuido de mim”, “eu cuido de você”, “eu vou interromper a rota porque estou enxergando esse acidente que está vindo em sua direção”. O fato de um acidente nunca ter acontecido não quer dizer que ele não vai acontecer.
Graziella Sanchez, psicóloga da PathMind, empresa especialista em ajudar outras corporações a cuidarem de forma preventiva da saúde mental dos seus times, trouxe para os colaboradores da Aegea durante a Sipat contribuições importantes. Dicas para serem anotadas e levadas para a vida inteira. “Depois da palestra, virei uma chave interna sobre o estresse, pois descobri que eu não sou o meu estresse, eu consigo viver melhor apesar de qualquer situação”, disse Roberta Moraes, coordenadora de Comunicação da Prolagos e dos municípios do interior da Águas do Rio, que fez a mediação do evento. O “apesar de” a que ela se refere foi um dos pontos da palestra “Estresse: conhecer para conviver e prevenir contra transtornos mentais”. Graziella mostrou que o estresse faz parte da natureza humana, pode ser negativo ou positivo, depende de como lidamos com ele. O bom é que nos coloca em estado de alerta, de atenção e ajuda a liberar ocitocina, conhecido como o hormônio do amor, que nos aproxima das pessoas.
“Sabendo gerenciar e lidar com o estresse, ele pode ser um grande aliado para nós. É simples: é saber o momento de parar. Ter a capacidade de nos relacionar, de nos conectar com quem está ao nosso lado e, aproveitando esse hormônio que é liberado nos momentos de estresse, conseguimos mudar um ao outro, enxergar os limites de cada situação. Assim, conseguimos fazer as pazes com o que foi colocado como negativo e transformamos aquilo em algo bom”, disse Graziella Sanchez. A psicóloga lembra que a vida real, fora das telas das redes sociais, nos bastidores, é cheia de desafios. Como podemos fazer as pazes com o estresse? “Um estudo feito com mais de 3.000 adultos mostra que 52% das pessoas aliviam o estresse conversando com familiares, meditando e orando. A espiritualidade é um ponto importante como um fator de proteção da saúde mental, segundo a OMS. Outros 36% buscavam alívio por meio da comida, 16% nas compras e em bebidas alcoólicas”, responde Graziella.
“Precisa colocar na agenda os cuidados com a saúde mental. O autocuidado deve ser diário, pois é assim que criamos ferramentas para lidar com o estresse ruim. E não é muito tempo: 15 minutos de atividades diárias são suficientes para prevenir contra transtornos mentais. É o que chamamos de higiene mental. Podem ser cinco minutos de manhã, outros cinco à tarde e o restante antes de dormir”, aponta ela. Buscar o equilíbrio entre as várias áreas da nossa vida é outra dica importante para saber lidar com o estresse. Podemos então buscar outras prioridades, outras formas de pensar e agir. Tem alguns sinais de atenção que apontam que é preciso buscar ajuda profissional. “Não podemos nos acomodar com o que incomoda, o sintoma é um anúncio de que alguma coisa não está legal e precisa ser modificada. Normalizar um sintoma não é bom, tipo eu sou ansiosa ou não dormi bem. Não está certo, não é da nossa natureza, o que começou como um estresse bom vira crônico e pode abrir quadros para transtornos”, diz a palestrante.
É simples, mas nos esquecemos de coisas básicas no dia a dia que são transformadoras, como uma alimentação adequada e atividades físicas. Vale desde caminhada com o cachorro, futebol entre amigos e passeio no parque com a namorada ou a mulher. É importante que sejam frequentes – os costumes que fazem bem devem ser rotineiros. “O sedentarismo, aliado às práticas alimentares não saudáveis, resulta em obesidade, deixa o organismo predisposto a doenças. É preciso lembrar ainda que uma alimentação saudável não vai restringir alimentos, mas sim encontrar o equilíbrio, dentro da realidade de cada um”, afirmou Luciana Rocha em sua palestra. Por onde começar? “Pelo básico”, disse ela. “Existe um guia alimentar para a população brasileira, disponível na internet, que traz dicas muito práticas e acessíveis para todos”, afirmou.
“Foi um momento muito importante para mim, gerou muita reflexão tanto pessoal quanto profissional, como eu estava conduzindo a minha rotina de alimentação, de exercícios físicos, como eu estava deixando os problemas me impactarem, e a questão do eu me cuido ficou muito forte para mim. Passei a entender como eu funciono para fazer pequenos ajustes a fim de poder melhorar. Passei a fazer atividade física com maior frequência, sempre pensando que eu preciso ter um momento só para mim, em que eu não esteja olhando nem as demandas pessoais nem as profissionais, para eu me cuidar”, contou a jornalista. Para Roberta, um dos momentos mais marcantes foram os relatos de pessoas que se envolveram em acidentes de trânsito e tiveram suas vidas impactadas por isso. “Na Sipat vimos ainda como podemos fazer para ficarmos mais atentos, mais presentes e conscientes do que estamos fazendo, sem ligar o automático, para mitigar riscos. É isso que estou tentando fazer: tenho ficado mais atenta no trânsito, na alimentação, na atividade física e sempre tentando entender o que está acontecendo. Foi uma virada de chave”, disse.
Leandro Marin, vice-presidente da Regional 2 da Aegea, também lembrou, na abertura da Sipat, do papel que cada um tem para que toda a empresa tenha segurança. “É como um ciclo: você cuida de você, cuida do outro, deixa que cuidem de você e, no fim, todo o ambiente ao redor se torna seguro. Mente Sã + Corpo Saudável = Trabalho Seguro, o mote da Sipat da Aegea, tem tudo a ver com a nossa missão. Depende de nós implementarmos essa filosofia, essa cultura que precisa ser incorporada, cumprindo as diretrizes, não executando tarefas com dúvidas, temos todo o time de EHS para esclarecer, mas a reflexão e o cuidado são de cada um”, disse ele.
Realizada por meio de eventos on-line, com transmissão ao vivo, as palestras da Sipat da Aegea tiveram mais de 17.000 participações, com 4.929 colaboradores distintos, além de 2.075 participantes no game de segurança. Com a duração de uma semana, o evento manteve o foco no cuidado ativo – a maneira eficaz de se evitar acidentes de trabalho que consiste em cuidar de si mesmo, cuidar do outro e se deixar cuidar. Uma ferramenta de prevenção que tem o diálogo como princípio de propagação. Além dos temas citados acima, foram abordadas nas palestras a comunicação não violenta nas práticas de segurança, e os cuidados no trânsito e mobilidade urbana. Outro assunto de grande interesse foi como a gestão do tempo contribui para processos mais seguros por envolver planejamento e execução das atividades que resultam em maior produtividade e eficiência.