edição 39 | 2023 | abril a junho
Ana Paula Carracedo, diretora de Integridade da Aegea, durante Encontro de Lideranças Aegea 2023.
Texto: Rosiney Bigattão
Para responder à pergunta que ela mesma fez durante o Encontro de Lideranças Aegea 2023, a diretora de Integridade Ana Paula Carracedo explicou os dois modelos de abordagens para promover a integridade. “O semáforo é aquele que o tempo todo as pessoas aguardam uma aprovação, seguem as regras de maneira automática, sem reflexão, a área de Integridade precisa dar justificativas sobre o que pode e o que não pode ser feito”, disse ela. “O do rotatório significa que nós vamos entender juntos os riscos da companhia, avaliar como lidamos com eles e trazer esse aprendizado de forma nivelada. E assim não fica a sensação desgastante de que tem alguém barrando o que o outro quer fazer”, completou.
Um ou outro modelo depende da maturidade da empresa. No de semáforo, se assume que as pessoas não conseguem dar conta de lidar com as interseções por conta própria. A rotatória parte do pressuposto de que as pessoas têm condições de fazer os julgamentos necessários para uma boa escolha. Os semáforos são estáticos, as rotatórias, dinâmicas. Estudos mostram que a melhor alternativa para segurança, fluidez e custos envolvidos são as rotatórias. “Só que isso é um processo de evolução. Para chegar lá, precisa ter conversa madura, ser transparente, colocar o compliance na hora certa no processo para não se atrapalhar”, afirma a diretora.
Na Aegea, empresa com contratos de longa duração, comprometida com o futuro dos recursos naturais e com o legado que constrói nas comunidades onde atua, é grande a atenção dada ao compliance. “O Programa de Compliance da Aegea é sustentado pelo comprometimento da alta administração com o tema. Além disso, a empresa tem um código de conduta, canal de ética e uma área de Integridade bem robusta, com políticas, controles, muita comunicação e treinamento. Parte do nosso trabalho agora é fazer com que tudo isso que foi construído esteja no dia a dia de todas as unidades, entre todos os colaboradores”, diz Ana Paula.
Segundo ela, se a Aegea está na casa das pessoas, levando água, deve levar também ética e integridade. “Trazer essa perspectiva para todo lugar que a gente for atuar. Tem um estudo global que mostra que todos nós somos influenciados pelo outro, pelo meio em que vivemos e que ética é vivência, é aprendizagem, que se faz com empatia. As respostas nem sempre são simples, precisamos ter a humildade de que não temos todas as respostas e, para apoiar as unidades e todos os setores da Aegea, a empresa tem uma área de Integridade muito bem estruturada”, afirma a diretora Ana Paula Carracedo.
“A partir do momento em que a empresa investiu energia em determinar, escrever e aprovar suas políticas, significa que ela se propôs a fazer, elas são legítimas, o mercado e os acionistas esperam que ela faça. Quando um colaborador ou executivo passa por cima das políticas da empresa, vai ter de passar pelo processo de consertar aquilo que foi burlado. Quando os processos da companhia são feitos da forma como foram pensados, há economia com advogados e trâmites pelos quais ela não precisaria passar”, explica.
Uma pesquisa sobre assédio feita pela KPMG mostra que 80% dos respondentes já sofreram algum tipo de assédio. Mais da metade das vítimas, 55%, optam por não denunciar por medo de retaliação. Do total de casos, 33% aconteceram no mundo corporativo, nos escritórios, e 0,73% em estádios de futebol. “O resultado mostra que está mais perigoso ir trabalhar do que ir a um jogo de futebol. Isso fala sobre a nossa forma de conduta e como interagimos com as pessoas que estão ao nosso redor. Temos de nos pautar sempre pelo respeito, entender que o que é mimimi para mim pode ser uma dor para o outro e existe uma série de gatilhos”, diz ela.
“Compliance parece simples, parece óbvio, e é, mas, se não estivermos atentos, podemos nos envolver em situações bem complexas”, diz ela. E cita alguns exemplos do compliance na prática. “Sobre brindes e hospitalidades – a Aegea tem uma política clara quanto a isso. Imagine um fornecedor em fase de cotação que oferece passagem e hospedagem em um resort justamente para a responsável pela aprovação da cotação do serviço, com a justificativa de que ela precisa conhecer as operações locais. Se é importante ir, quem deve pagar os custos é a Aegea”, afirma.
Outro: chega um pedido de doação que seria uma exigência para renovação de uma licença ambiental. “Vale ressaltar que, se essa doação fosse concluída e não fosse barrada pela área de Integridade, se configuraria prática de corrupção no CPF de quem fez a doação”, diz Ana Paula. “Outra prática importante que devemos ter no dia a dia é analisar os prestadores de serviços, para que não sejam feitos contratos com fornecedores que tenham sido condenados por corrupção ativa ou estejam envolvidos em processos de improbidade administrativa”, afirma.
“Esses exemplos mostram que é preciso maturidade sobre o que não dá para fazer e o que é possível fazer. Para sair do semáforo e ir para o modelo do compliance rotatório, precisamos ter certeza de que está todo mundo atento”, diz. E complementa: “Queremos plantar uma sementinha em cada colaborador da Aegea para que atuem de forma mais segura, não só protegendo o CNPJ, mas também o CPF. Não queremos que compliance seja uma área de asseguração, senão o controle fica mais caro que a operação e estamos aqui para atender bem aos nossos clientes, não vamos inverter os papéis”, finaliza.