O termo racismo ambiental foi cunhado por Benjamin Chavis, ativista dos direitos civis nos Estados Unidos. De acordo com ele, racismo ambiental é:
“A discriminação racial na formulação de políticas ambientais. É a discriminação racial na aplicação de regulamentos e leis. É a discriminação racial na escolha deliberada de comunidades de cor para a disposição de resíduos tóxicos e a localização de indústrias poluentes. É a discriminação racial na autorização oficial da presença de venenos e poluentes que ameaçam a vida em comunidades. É a discriminação racial na história da exclusão de pessoas de cor de grupos ambientais tradicionais, conselhos de decisão, comissões e órgãos reguladores.”
No Brasil, a população negra não é uma minoria numérica, mas permanece marginalizada nos espaços de poder e liderança. Essa falta de representatividade resulta em decisões que ignoram os interesses e direitos dessas comunidades.
Segundo Gustavo Loiola, gerente de Projetos Educacionais da ONU, professor, consultor e especialista em ESG e Sustentabilidade, os grupos marginalizados são os que mais sofrem com os efeitos extremos do clima.
“As pessoas menos responsáveis pelos problemas das mudanças climáticas são as que mais sofrem. Elas são as primeiras a sentir os impactos e as últimas a se recuperar”.
Esse dado reforça a urgência de repensarmos:
de quem é a responsabilidade de resolver os problemas ambientais?
Reconhecer a existência do racismo ambiental é o primeiro passo para construir ações individuais e organizacionais que pressionem empresas, instituições e governos a dar protagonismo a comunidades historicamente marginalizadas, ou seja, respeitar e valorizar as diversas culturas e tradições como as de populações negras, indígenas e vulneráveis.
Importante também engajar esses grupos nos processos de discussão e tomadas de decisão; criar soluções cooperativas que mitiguem impactos e promovam adaptação e garantir voz e espaço para essas comunidades.
A falta de saneamento básico é uma das expressões mais evidentes do racismo ambiental. Como organização, a Aegea tem uma missão direta de combater essa desigualdade.
O objetivo da Companhia, de levar saúde e dignidade à população, é reforçado por políticas afirmativas para mulheres e, principalmente, pessoas negras. O programa pioneiro Respeito Dá o Tom promove há mais de sete anos uma sociedade mais justa e igualitária, com ações concretas e metas factíveis dentro da Aegea.
Contudo, é essencial que as organizações evitem cair na armadilha do white savior (“salvador branco”), que presume resolver os problemas dessas comunidades sem reconhecer sua autonomia.
“Essas comunidades já são pujantes, têm ideias e sabem o que precisam para potencializar essas soluções”, pontua Gustavo Loiola.
Dar voz, compreender, cocriar e construir um futuro ambiental equilibrado são aspectos fundamentais da justiça climática, que inclui: transição para alternativas sustentáveis que mitiguem os efeitos das mudanças climáticas de forma justa; justiça social, racial e ambienta; ação climática indígena; e educação e engajamento climático.
Esses pilares, desenvolvidos pelo Centro de Justiça Climática da Universidade da Califórnia, evidenciam a complexidade do tema, que exige uma abordagem multidimensional.
Alguns exemplos:
Para as organizações, atuar no pilar da educação climática é essencial. “Apoiar o desenvolvimento do conhecimento para que as pessoas compreendam as mudanças climáticas e seus impactos é fundamental. Aplicar a justiça climática é abrir-se para as diferenças, ir além dos muros institucionais e criar uma visão colaborativa”, afirma Loiola.
A justiça climática vai além de uma meta: é um compromisso inadiável, que une responsabilidade e ação é essencial para construir um futuro sustentável, equitativo e livre de racismo ambiental. O desafio é imenso, mas os benefícios de enfrentá-lo serão ainda maiores – para as pessoas, o planeta e as próximas gerações.
Gustavo Loiola palestrou para a Ambiental Paraná na Semana da Diversidade Racial da Aegea. Além da palestra, outras atividades vêm sendo realizadas pela unidade para fortalecer a conscientização de todos os colaboradores em criar um ambiente mais justo e igualitário.
“São momentos enriquecedores de aprendizado e troca que reforçam nosso compromisso com a construção de uma cultura organizacional mais inclusiva e diversa”, afirma Suani Lima, especialista em Engenharia da Ambiental Paraná que já foi coordenadora do Respeito Dá o Tom em outra unidade da Aegea e agora ajuda no letramento dos colaboradores.
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