Os cerca de 500 km que separam as regiões metropolitanas de Fortaleza e do Cariri, no Ceará, definem peculiaridades geográficas muito específicas e fazem com que, para atender as 24 cidades, a maior PPP de esgotamento sanitário do Brasil coloque em prática um jeito único de atuar, uma cultura baseada no que as unidades da Aegea chamam de talentos.
Um dos talentos que a Ambiental Ceará coloca em prática é o mestre em brasicidades: a capacidade de compreender os diversos “Brasis”, respeitando e atuando de acordo com as diferenças de cada região.
“Dentro da PPP temos cidades litorâneas, cidades criadas sobre regiões rochosas e áreas de difícil acesso para o maquinário, por exemplo. Mas, em cada um desse casos, lançamos mão de soluções tecnológicas, unimos métodos convencionais a técnicas inovadoras, identificando particularidades de cada cidade, desde o solo até logística, tudo isso para garantir a eficiência da operação e atingir a meta de levar o esgotamento sanitário para 4,3 milhões de cearenses até 2033”, pontua o diretor de Operações da Ambiental Ceará, Fernando Lima.
Um dos exemplos está na cidade de Santana do Cariri, fundada há 138 anos e que não possui sistema de esgotamento sanitário. Na região central do município estão sendo implantados 400 metros de rede aérea de esgoto nas proximidades do Canal de São Pedro, solução utilizada pelas equipes da empresa para atender cerca de 300 imóveis instalados ao longo do córrego, uma vez que a tubulação subterrânea era inviável naquele local.
Além de contribuir para a despoluição do curso de água que passa por ali, a chegada da rede de esgoto vai realizar um sonho antigo do agricultor José Cardoso da Silva, 60, que espera há quatro décadas por uma transformação no cenário de esgoto correndo a céu aberto.
“Quando eu vi o pessoal instalando esses canos, achei diferente, mas vi que agora vai dar certo. Tirando esse esgoto, vai diminuir as muriçocas, o cheiro ruim, e eu vou poder, finalmente, construir minha garagem aqui.”
No outro extremo do estado, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), as frentes de obras na cidade de Maranguape encontraram muitas rochas nos trechos delimitados para escavação. Nesse caso, foi dispensado o uso de explosivos, que traz riscos à operação, e a abertura dos caminhos do esgotamento sanitário tem sido feita com o auxílio de massa plástica.
“Com a britadeira, fazemos furos na pedra que precisa ser quebrada. Depois, injetamos massa plástica que vai inchando e quebrando a rocha, de dentro para fora”, detalha o gerente de Operações da Ambiental Ceará, Marco Aurélio Assoni. O rompedor hidráulico, maquinário de alta potência de perfuração, também é utilizado pela Ambiental Ceará em municípios de solo rochoso.
Não muito distante dali, na cidade de Horizonte, dentro do perímetro da Região Metropolitana de Fortaleza, as frentes de obras para implantação de 48 km de novas redes coletoras de esgoto lidam, ao mesmo tempo, com o trabalho de rebaixamento de lençol freático. Essa operação utiliza ponteiras filtrantes, que direcionam a água para outra bacia.
Assim, o abastecimento da população é mantido e se abre espaço para a chegada do serviço básico e essencial de esgotamento sanitário. Somente nesse município, a Ambiental Ceará vai beneficiar mais de 30 mil pessoas, até maio de 2024, com acesso a todos os ganhos associados à coleta e ao tratamento de esgoto.
Ao pé da serra, também na RMF, o pequeno município de Guaiúba abriga pouco mais de 26 mil habitantes que estão presenciando transformações históricas. O agricultor José Almir da Silva, 70, reside no bairro Pinheiro há mais de cinco décadas e recebeu com alívio e satisfação as equipes que implantaram 1,5 km de redes no local.
“Quando cheguei aqui, era só mato. O esgoto caía na rua, o cheiro era muito ruim e os meninos viviam cheios de doenças. Para acabar com isso, a gente puxou um cano pra jogar o esgoto ali longe, e não ficar aqui na rua”, diz ele, que divide a casa com dois filhos e dois netos pequenos.
“Quando essa obra chegou aqui, eu já vi o pessoal fazendo o serviço bem-feito, e fiquei feliz, porque a gente tava precisando mesmo”, celebra ele, que diz estar pronto para conectar a própria casa na rede recém-implantada.
Para traçar a rota da tubulação nas ruas estreitas da cidade, as equipes tiveram de escavar do modo convencional, sem uso de maquinário motorizado. Esse mesmo formato de execução tem sido utilizado em algumas ruas do bairro Vila Velha 4, em Fortaleza, onde 2,3 km de rede vão beneficiar cerca de 3 mil moradores, entre eles a microempreendedora Cheila Nogueira, 51.
“Glória a Deus! Foi muita promessa, mas finalmente o dia chegou. Todos os dias, eu tinha de limpar o lixo da porta de casa e ainda me sujar de lama. Vale a pena essa poeira, porque um dia acaba e fica a limpeza na frente da nossa casa.”
A meta da Parceria Público-Privada (PPP) firmada entre a Aegea e a Cagece é promover o avanço do esgotamento sanitário para 90% da população até o ano de 2033, avançando para 95% em 2040. Para isso, a Ambiental Ceará prevê R$ 6,2 bilhões de investimentos em obras nos 24 municípios que atende.
O trabalho já avançou. Ao longo de 2023, antes mesmo de completar um ano de operação plena, a Ambiental Ceará implantou quase 50 km de novas redes de coleta de esgoto, disponibilizando infraestrutura para que 32,7 mil imóveis possam se conectar ao sistema de esgotamento sanitário.
Mais de 1.500 poços de visita (PVs), popularmente conhecidos como tampas de esgoto, já foram nivelados nas cidades atendidas pela PPP. A medida traz mais segurança ao fluxo de pedestres e veículos nas vias das cidades. Além disso, a Ambiental Ceará faz o monitoramento em tempo real de algumas dessas estruturas, prevenindo contra extravasamentos.
Fotos: Esdras Nogueira