Cidades
MAIS AZUIS

edição 38 | 2023 | janeiro a março

REGIONAL 4

Águas do Rio: o abraço na Baía de Guanabara

TOCANDO O CORAÇÃO DAS PESSOAS

Alexandre Bianchini,
vice-presidente da Regional 4 da Aegea.

Texto: Rosiney Bigattão

Com uma atuação em 27 municípios do Rio de Janeiro, atendendo a 10 milhões de moradores, a Regional 4 da Aegea é a Águas do Rio, formada após o leilão dos dois blocos da Cedae, o 1 e o 4, em uma disputa bastante acirrada. Uma das características mais marcantes da concessionária é o compromisso assumido de recuperar a Baía de Guanabara. “Nós abraçamos a Baía de Guanabara. Todos os municípios do entorno, exceto Niterói e Guapimirim, hoje são de responsabilidade da Águas do Rio. Esse ecossistema é um dos ativos mais importantes no Brasil e um patrimônio reconhecido pela ONU, que tem a seus pés o principal símbolo do país no exterior: o Cristo Redentor, de braços abertos para a baía, acompanhando essa transformação”, afirma o vice-presidente da Regional 4, Alexandre Bianchini.

Outro fator de destaque na área da Regional 4 da Aegea é o retorno da balneabilidade das praias da baía, como Botafogo, Flamengo e Paquetá, e de outras bem famosas. “Copacabana e Ipanema, cantadas em verso e prosa, recebem milhares de turistas o ano inteiro. Esses bairros, como poucos no mundo, são conhecidos pelo nome e o Rio de Janeiro é citado por eles, são vitrines do nosso país. Isso tem muito significado para nós”, diz o vice-presidente.  

Três grandes pilares para enfrentar os desafios

A Águas do Rio dividiu as metas estratégicas da concessão em três grandes pilares: água, esgoto e comunidades. “Começamos a operar em novembro de 2021, em uma comunidade da capital, como forma de demonstrar o nosso compromisso com os mais vulneráveis. Fomos para a quadra da Estação Primeira de Mangueira, onde as equipes operacionais e do Vem Com a Gente, programa da Aegea que está sendo desenvolvido na R4, se reuniram para iniciarmos a nossa caminhada e buscar a licença social, a partir da entrega de serviços com qualidade e da geração de oportunidades”, diz o VP.

Neste sentido, o pilar das comunidades, segundo o VP, é um capítulo à parte. “Dos 8.000 profissionais da Águas do Rio, 4.500 foram contratados em comunidades. Tem um fato bastante curioso que, no início, quando colocamos essa ideia de contratar moradores das localidades em prática, fomos para as quadras das comunidades, montamos estrutura para receber as pessoas, divulgamos que estávamos contratando, não apareceu ninguém para se candidatar. Levamos um susto e fomos tentar entender o que tinha acontecido”, diz ele.

Movimentando vidas: a transformação das comunidades

Descobriram então que as pessoas não acreditavam que a empresa iria de fato contratar pessoas que morassem em comunidades, já que isso sempre foi um entrave para conseguirem emprego. “Achavam que o emprego não era para elas e que não seriam bem tratadas, percebemos então que havia uma questão de autoestima baixa. Fizemos oficinas de capacitação para ensinar a fazer currículos e dicas profissionais, mostramos o nosso objetivo em compor um time com mão de obra local, onde as pessoas iriam trabalhar onde moram. A partir daí, foram milhares de interessados em trabalhar conosco. Para muitos, foi o primeiro emprego, para outros, representou a volta ao mercado de trabalho”, afirma. 

“A nossa festa de fim de ano, quando conseguimos reunir a maioria dos colaboradores, foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida. Eu ouvi depoimentos de pessoas que estavam sem perspectivas e encontraram na Águas do Rio a oportunidade de construir uma nova trajetória para suas vidas e suas famílias”, conta Bianchini. 

“São 632 comunidades atendidas no Rio de Janeiro, lugares onde as notícias mais comuns se referiam a violência, milícia e tráfico. Esse era o cenário. Estamos conseguindo atuar, levando dignidade e emprego. Temos 3.700 líderes comunitários engajados. Ao invés da negativa de vocês não vão entrar aqui, estamos sendo chamados a ir para as comunidades. Eles estão entendendo o que é o nosso trabalho e que estamos levando melhorias e saúde”, pontua. 

Outro ponto forte da atuação é o Vem Com a Gente. “Este é um programa com viés comercial e, ao mesmo tempo, social. Comercial porque estamos regularizando os sistemas e a nossa base de clientes. Muitos moradores nunca tinham recebido uma conta de água e com ela passaram a ter um comprovante de renda. E social porque, além dos serviços, eles estão conquistando mais dignidade e qualidade de vida. Como reflexo desse entendimento, a inadimplência é menor do que a da zona sul do Rio”, diz ele.

Primeiro banho de chuveiro com água tratada em casa aos 62 anos

O segundo pilar de atuação é a água. “Em apenas um ano, conseguimos levar água tratada para 250 mil pessoas que nunca tiveram acesso pela rede de distribuição antes, não tinha um cano passando na frente da casa delas”, observa Bianchini. Foram muitas entregas importantes, segundo o executivo. Histórias marcantes como a da dona Rudi, que mora em uma comunidade a menos de um quilômetro de Ipanema, e que, aos 62 anos, nunca tinha tomado um banho de chuveiro. 

“O mais interessante é que nossa equipe ficou tão sensibilizada com a história dela que comprou um chuveiro para ela. O que mais me toca é a decisão daqueles profissionais que foram contratados em comunidade, entenderam o real propósito do saneamento e compraram o chuveiro do próprio bolso, porque dentro do caminhãozinho com que eles trabalham não tem chuveiro, torneira, nada disso. Eles foram em uma lojinha da comunidade e compraram com o dinheiro deles. Isso é ser profissionais além da conta”, afirma Bianchini.

Trabalho feito com o coração

“Investimentos, estratégias, relação comercial, todos esses processos que estamos acostumados a fazer são importantes, executamos com sucesso, mas tem uma coisa que está acontecendo aqui no Rio que faz toda a diferença: as pessoas estão trabalhando com o coração, este tem sido o grande ponto da virada da transformação. É olhar para essas pessoas e ver que, quando você toca o coração delas, o poder de mudança é infinito. Quando as pessoas trabalham com o coração, tudo é possível. Esta empresa mudou a vida deles e eles estão mudando a vida de outras pessoas. Então, estamos adicionando um ingrediente novo na história do saneamento: estamos colocando amor no negócio”, afirma.

Para Bianchini, tudo que se faz em saneamento é importante – investimento, operação, manutenção –, mas tem de ter respeito, dignidade, considerar o trabalho importante para a vida de cada um, para a comunidade, para a humanidade. Segundo ele, com a diversidade do grupo, a troca de experiências e o aprendizado contínuo, um dos resultados é que 67% dos colaboradores são declarados pretos ou pardos. 

O combate ao etarismo é outra marca da empresa. “Na loja de Copacabana, por exemplo, bairro com alto índice de idosos, todos os profissionais têm mais de 50 anos. A atendente Carminha, uma senhora de 84 anos, é motivo de elogios dos clientes pela simpatia e pelo profissionalismo. Mais uma vez é oportunidade, reconhecimento e respeito. É algo que toca muito, é transformador”, diz o VP. 

Recuperação dos ativos

Os investimentos estão por toda parte. “Avançamos muito na recuperação das estruturas existentes. Tinha uma série de reservatórios ociosos, grandes adutoras prontas, enterradas, sem funcionar. Na Baixada Fluminense, recuperamos cinco reservatórios e adutoras de seis quilômetros, com 1.200 milímetros de diâmetro; estruturas caras para implantar, que estavam secas, e que agora estão em operação”, explica Bianchini. 

O sistema de esgoto da zona sul da capital também não funcionava com toda a capacidade. “Um exemplo é o Interceptador Oceânico, um grande túnel, com 9 km de extensão e 5 metros de diâmetro em alguns trechos, que estava operando com apenas 35% de sua capacidade, o restante estava obstruído de lixo. Ele recebe contribuições de esgoto de vários bairros e direciona para um emissário submarino, evitando que deságue na Baía de Guanabara, sem tratamento. A falta de grades no sistema de coleta permitiu a entrada de grande quantidade de lixo na rede. Nós iniciamos a desobstrução, o que não ocorria há mais de 50 anos, e já retiramos em torno de 3 mil toneladas de resíduos”, conta Bianchini.

Retorno da biodiversidade em um dos cartões-postais do estado

Um outro exemplo que está atraindo a atenção dos ambientalistas, visitantes e moradores é a recuperação da qualidade da água na Lagoa Rodrigo de Freitas. Um ponto turístico que estava se tornando um depósito de lixo, com mortandade de peixes e que agora tem a água translúcida, com a vida aquática e dos animais do entorno retornando. Pássaros, capivaras, peixes e caranguejos passaram a ser vistos novamente. “Dois fatores foram importantes para essa melhora: a recuperação das estações elevatórias de esgoto da região, que bombeiam o resíduo para o sistema de coleta, evitando o deságue sem tratamento na lagoa, e o apoio pioneiro ao Projeto Manguezal da Lagoa, do biólogo Mário Moscatelli, para a proteção e cuidados contínuos aos 3,5 km de manguezal às margens da lagoa”, diz.

Uma série de rios que cortam a cidade, todos com menos de 10 km de extensão, também estão sendo recuperados. “Temos feito um trabalho de identificação de lançamentos de esgoto clandestinos, utilizamos a tecnologia de robozinhos para ver a tubulação, eliminando esses pontos. Isso está resultando na limpeza dos rios da cidade, como o do Canal do Paulo Machado, do Jardim Botânico, que era superpoluído”, afirma o vice-presidente da Regional 4. 

Contribuição para um planeta mais sustentável

Alexandre Bianchini conta que a Aegea, por meio da Águas do Rio, está promovendo uma transformação ambiental, social e econômica no Estado do Rio. “Eu tenho falado muito que o mundo hoje tem oito bilhões de pessoas, nós somos aqui oito mil. Temos a oportunidade de fazer um trabalho que pode deixar uma marca para a humanidade”, diz ele. 

Segundo o VP, o último ano – que pareceu durar dez, tal a quantidade de coisas que foram feitas, os desafios vencidos, tantas realidades e vidas transformadas – foi apenas o início de um longo caminho a ser percorrido. “Como simbolismo de que estamos no caminho certo, em janeiro deste ano, um grupo de uns 600 golfinhos passou pela Baía de Guanabara. Não acontecia há muito tempo.  Temos uma parceria com o Instituto Mar Urbano, que tem um trabalho de mergulho há 30 anos na baía e, segundo os ambientalistas, tem sido registrada uma quantidade maior de pequenos peixes. Os golfinhos vieram atrás de comida e a expectativa é de que alguns deles fiquem nesse ecossistema. É um exemplo claro de que o trabalho está sendo conduzido da maneira correta e nós vamos, sim, chegar aos objetivos esperados”, finaliza.