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edição 38 | 2023 | janeiro a março

REGIONAL 3

O olhar inclusivo que faz o saneamento avançar

MOVIMENTANDO TALENTOS

Renato Medicis,
vice-presidente da Regional 3 da Aegea.

Texto: Rosiney Bigattão

Para o vice-presidente da Regional 3 da Aegea, Renato Medicis, não adianta ter uma estrutura sólida de capital, ter grandes engenheiros da ordem para poder executar tudo o que está previsto para poder expandir os serviços, se a empresa não estiver próxima da comunidade, entendendo o funcionamento de cada cidade. “De que maneira as pessoas valorizam aquele ambiente onde elas estão? De que maneira vão valorizar a nossa prestação de serviços? De que maneira a gente vai, junto com a sociedade organizada, encontrar formas para que as pessoas possam ter acesso aos serviços?”, questiona ele, apontando para os grandes desafios que a regional enfrenta.

Licença social para operar

Nas regiões Norte e Nordeste, além do déficit do saneamento, existem indicadores sociais relevantes. “Se não tivermos esse papel social exercido em nível pleno, seja na saúde, com a própria prestação dos serviços, seja na educação, para fazer com que as pessoas entendam o valor do saneamento, ou na geração de renda, de movimentar a economia naquele entorno para que as pessoas melhorem a inclusão delas na sociedade e consigam ter acesso aos serviços, nosso trabalho não vai ter os resultados esperados. Por isso falamos tanto na licença social para operar, que é esta permissão para operar que conquistamos junto à população das cidades onde estamos”, afirma Renato.

Segundo o executivo, as pessoas que vivem à margem ou são esquecidas de uma maneira geral, a partir do momento em que passam a ser tratadas de maneira respeitosa, mostrando o valor daquilo que está sendo proposto para a vida delas no futuro, para as gerações que vão vir, e se faça com que isso se torne algo acessível ao bolso deles, é possível encontrar um equilíbrio para avançar. “Como você faz com uma pessoa que viveu uma vida inteira em uma palafita que ela precisa de água tratada? Não tem como fazer isso se não for trabalhando os pilares da educação para elas entenderem o valor, criando condições de acesso por meio de uma tarifa diferenciada e, acima de tudo, com um relacionamento próximo”, conta o VP.

Olhar inclusivo para resolver problemas históricos

É por meio desse olhar inclusivo, fazendo com que as pessoas se sintam cidadãs de fato, que a Aegea tem atuado na região. “É desafiador, não é simples, mas é possível de ser enfrentado em um trabalho de médio e longo prazos, praticamente uma vida toda. Não adianta a gente pensar que vai passar a rede de água e de esgoto na frente da casa das pessoas e achar que o problema está resolvido. Elas não tinham isso, a avó delas, a mãe, não falaram nada sobre isso e chega uma empresa estranha e diz que é bom, mas para isso elas vão ter de pagar. Então precisam ser conscientizadas por meio de um diálogo constante, transparente, para que elas percebam o valor. Não podemos tentar resolver um problema histórico em pouco tempo”, argumenta Renato Medicis. 

Talentos em movimento

O Vem Com a Gente, programa de relacionamento, está baseado nos talentos da Aegea, condensa aquilo que a empresa é como um todo. É como um cartão de visitas, uma marca para mostrar o que a Aegea faz. “É como um convite – vem com a gente ver o que estamos trazendo para vocês. Por meio dele, chegamos a lugares desordenados, com situações de irregularidades e, com o engenheiros da ordem, colocamos ordem naquela situação; somos mestres em brasicidades porque atuamos nas mais diversas localidades; também somos embaixadores da saúde porque implantamos água e esgoto e melhoramos a vida das pessoas; agentes da dignidade porque os moradores passam a ter um comprovante de endereço, se sentem parte, se sentem incluídos; somos profissionais além da conta, porque, além de fazer o serviço, criamos um relacionamento com as pessoas, priorizamos o que podemos deixar a mais para aquela comunidade”, conta o VP.

Redução de doenças em Manaus com água e esgoto tratados até nas palafitas

Em Manaus, os resultados estão aparecendo. “Quando damos um emprego formal que a pessoa não teve até hoje, fazemos o trabalho com as lideranças comunitárias e falamos sobre saneamento para as pessoas perceberem o valor da água tratada, e os filhos passam a adoecer menos em função dos investimentos feitos, é sinal de que o nosso trabalho está tendo resultados. Desde que começamos a atuar em Manaus, as doenças de veiculação hídrica caíram em 40%. O nosso grande legado para essas pessoas é mostrar o valor daquilo que a gente faz, pois não é uma equação meramente financeira. É uma equação de saúde, qualidade de vida, desenvolvimento, valorização pessoal e do habitat de onde elas estão. Graças a empresas como a Aegea, e outras do setor, estamos conseguindo avançar”, diz.

Universalização da água em Timon

Timon é outro marco da Regional 3. “Começamos a operar em 2015, uma cidade que tinha uma irregularidade no abastecimento tremenda, em um ano a gente universalizou a água. Desde então trabalhamos nas melhorias e em 2022 inauguramos a primeira parte dos investimentos em esgoto. Tem sido um desafio, porque muitos moradores viveram a vida inteira com esgoto correndo na sarjeta, na guia. Fazer com que eles se conectem porque entendem o valor do serviço exige um diálogo aberto com a prefeitura, com a agência reguladora, com o Ministério Público, para encontrar medidas que os incentivem a fazer a conexão à rede de esgoto”, conta.

“É uma cidade com um IDH baixíssimo, então tem sido um desafio. Mas se torna um piloto para refletir a nossa forma de atuação, a história da cidade e da Regional 3. E também para contribuir com toda a Aegea – como atuar em cidades pequenas, sem renda nenhuma, como você vai encontrar soluções? O que fica de legado é a coragem da companhia em discutir metodologias, sejam elas em programas como o Vem Com a Gente ou o Afluentes, e outras medidas que incentivam as pessoas a estarem incluídas nesse serviço que é o grande motivo de todo o nosso trabalho”, afirma Renato.

Crato: um novo modelo de contrato

Ao vencer o leilão em Crato, no Ceará, a Aegea assinou um novo modelo de contrato: um contrato de concessão de esgoto. “Fazemos a parte do avanço do esgotamento sanitário e também a gestão comercial com o cliente; é um modelo pioneiro dentro da Aegea e está sendo muito bom do ponto de vista de gestão. Já conseguimos triplicar a cobertura de esgoto em quatro meses, saímos de 3% para 16%. Isso mostra a capacidade da companhia de avançar rapidamente na execução dos marcos contratuais. Depois do Crato, vencemos o leilão dos dois blocos para 24 municípios do Ceará, da Região Metropolitana de Fortaleza e do Cariri. São 4 milhões e 300 mil pessoas que a gente vai atender, fora o Crato. É um avanço muito grande”, afirma Medicis.

O estado, que vem se desenvolvendo muito, principalmente nas questões de energias alternativas e do turismo, ganha mais uma contribuição da Aegea, para implantar e operar aterros sanitários. “Vencemos a primeira licitação do consórcio do Comares (Consórcio Intermunicipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos), responsável pela região do Cariri, de implantar e operar aterros sanitários. A Aegea, como empresa de saneamento, viu nesse projeto estruturado, feito pela prefeitura, com o governo federal, a oportunidade de iniciar uma nova fase e ampliar a sua atuação na cadeia completa do saneamento”, afirma o executivo. Leia mais sobre o assunto na seção Em Pauta, desta edição.

O olhar coletivo que o saneamento exige

Para 2023, o executivo prevê um ano de muito trabalho na Regional 3. “Queremos avançar nos serviços de esgoto em Rondônia, no Pará, no Piauí, no Amazonas, no Maranhão e agora no Ceará, é o grande desafio do saneamento, porque a água, todo mundo sabe o valor dela, mas o esgoto, como foi negligenciado durante tanto tempo, ainda não é valorizado. Vamos precisar de muito diálogo, muito investimento e projetos agregados para melhorar a condição de vida dessas pessoas. Para isso, o valor precisa ser entendido por todos, porque muitas vezes se olha o saneamento de maneira individual – a minha água, o meu esgoto –, mas o mal que a falta deles provoca é coletivo, o dano é coletivo. É preciso olhar o saneamento de maneira coletiva”, argumenta.

“Cada vez mais temos de ser mais presentes, mais transparentes, dar treinamentos operacionais, para transformar e manter as pessoas engajadas em torno do nosso propósito. Mostrar que o nosso negócio tem um propósito muito bacana, que a nossa empresa tem uma forma de ver o saneamento muito bacana, que talvez seja o grande ativo que a Aegea tem, é a forma como ela enxerga o saneamento. O que a gente quer deixar para os nossos filhos, para os mais próximos, é algo melhor do que o que está aí, deixar o Brasil saneado é uma obrigação legal, mas em dez anos, se a gente não tiver a capacidade de mostrar para as pessoas que o propósito do que a gente faz é muito maior do que somente executar rede de água e esgoto, se a gente não tiver capacidade de educar essas pessoas para o valor que tem água e esgoto, a gente não vai ter feito o trabalho”, finaliza Renato Medicis.