edição 36 | julho 2022
Limpeza é uma operação complexa e vai aumentar a capacidade de absorção de efluentes, resgatando a qualidade dos banhos de mar.
Texto: Aline Magno
Até março de 2023, equipes da Águas do Rio (RJ) irão percorrer os 2,4 km do túnel construído sob a famosa orla de Copacabana para a limpeza inédita. Vão retirar sedimentos acumulados nas paredes de 5,5 m de diâmetro do Interceptor Oceânico, responsável pela captação de esgoto e água pluvial da zona sul da cidade. Para se ter uma ideia do tamanho da galeria subterrânea, ali cabem dois carros, um do lado do outro, e foi a maior obra de saneamento básico do Rio de Janeiro nos anos de 1970, quando foi construído.
A magnitude do interceptor faz com que a sua limpeza seja uma das intervenções mais importantes da Águas do Rio desde que assumiu os serviços de água e esgoto de parte da capital fluminense em novembro passado. O investimento na operação será de R$ 3,4 milhões. Segundo o diretor-presidente da Águas do Rio, a previsão é de retirar mais de 2 mil toneladas de resíduos do túnel.
“O interceptor já foi limpo outras vezes, mas o trecho de Copacabana, nunca. Esta ação preventiva irá aumentar a capacidade de absorção de efluentes na zona sul, o que vai reduzir fenômenos como línguas negras, as faixas escuras que se formam quando há esgoto nas praias. Estamos falando de uma operação complexa, que exige o uso de equipamentos de ponta, logística e nove meses de trabalho”, conta o diretor-presidente da Águas do Rio, Alexandre Bianchini.
Para realizar a limpeza, a concessionária utiliza um jato d’água de alta potência que desloca os sedimentos depositados nas paredes do interceptor. Caminhões coletam o que é resíduo sólido e bombeiam o que é líquido para as estações elevatórias. Toda a água utilizada é reciclada na própria operação e o lixo é levado para um aterro sanitário.
Sob o calçadão de Copacabana estão 2,4 km de túnel.
Equipe trabalha na limpeza do Interceptor Oceânico.
Enquanto as equipes trabalham no calçadão de Copacabana, a aposentada Lúcia Tabach, de 71 anos, observa. Moradora do bairro desde que nasceu, ela lembra da época da instalação do interceptor, que demandou o alargamento da Avenida Atlântica, em frente do mar, e o aterramento de parte da praia para acomodar tudo.
“Eu era bem jovem ainda quando vi todas as obras que foram feitas aqui na frente de nossas casas, há 50 anos. Sei que foi muito importante na época, mas o bairro foi crescendo e hoje vemos problemas que antes não existiam, como línguas negras. Por isso não sou de entrar no mar. Mas, vendo esse trabalho sendo feito agora, acredito que, em breve, me sentirei segura para um dia agradável na praia”, conta dona Lúcia.
A estrutura de saneamento não se resume à Praia de Copacabana. Ao todo, o Interceptor Oceânico tem 9 km de extensão, passando pela orla dos bairros da Glória, do Flamengo e Botafogo, transportando o esgoto de oito bairros da zona sul do Rio para o Emissário Submarino de Ipanema.
Inaugurado em 1971, o Interceptor Oceânico foi uma das principais obras de saneamento básico no Rio de Janeiro realizadas até então e fez parte do projeto de alargamento e urbanização da Praia de Copacabana, hoje um dos maiores ícones do turismo mundial.