edição 35 | abril 2022
Com mais de 20 anos de atuação em saneamento, o vice-presidente da Regional 3 da Aegea, Renato Medicis, é engenheiro civil graduado pela Universidade Federal de Pernambuco. Tem MBA em Gerenciamento de Projetos pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e pós-graduação em Planejamento e Gestão Organizacional.
Texto: Renato Medicis
Quando consideramos que, a cada R$ 1 investido em saneamento, outros R$ 4 são economizados em saúde, é coerente afirmar que o saneamento é sinônimo de saúde preventiva, mas transformar isso em realidade não é tão simples assim. A universalização do saneamento demanda investimentos da ordem de R$ 700 bilhões para que todo brasileiro tenha acesso a água, coleta e tratamento de esgoto, até 2033, a fim de mudar a realidade de 35 milhões de pessoas que não têm acesso ao recurso potável e 100 milhões que convivem, diariamente, com esgoto a céu aberto.
Em 2020, os investimentos em saneamento no país não chegaram sequer à metade do valor ideal e foram menores do que no ano anterior. No Norte e Nordeste, por exemplo, a carência pelos serviços de saneamento é ainda mais latente. Ainda que em pouco tempo, e com muito a avançar, já possamos comemorar avanços significativos na cobertura de água e de esgoto em Manaus (AM), principal capital do norte brasileiro e localizada na maior bacia hidrográfica do mundo, e Teresina (PI), que impactaram positivamente na saúde da população.
A concessionária Águas de Teresina celebra a conquista da universalização do abastecimento de água já em 2020. Desde então, foi possível perceber uma queda de 68,7% nas internações decorrentes de diarreias no município, passando de 419 casos para 131 ocorrências. Os casos de dengue na cidade também diminuíram, registrando 66% menos casos que no ano anterior e uma queda de 20% das internações pela doença entre 2017 e 2021.
Em Manaus, por sua vez, um estudo realizado pelo Instituto Trata Brasil aponta que regiões vulneráveis da cidade tiveram melhoras nos índices de saúde pública após a chegada de sistemas de abastecimento de água. Segundo o Instituto, foi registrada uma queda de até quatro vezes em doenças de transmissão hídrica.
Nos bairros onde o instituto realizou a pesquisa, a ausência de crianças nas escolas por conta de doenças relacionadas ao saneamento caiu de 46% para 11%, melhorando a qualidade da educação local. Em contrapartida, os idosos também se tornaram mais saudáveis, dado que a quantidade de pessoas que deixaram de realizar as suas atividades caiu de 32% para 6%, aumentando o número de pessoas ativas nas comunidades e ampliando as redes de apoio existentes.
Segundo o Ranking do Saneamento 2022, promovido pelo Instituto Trata Brasil e GO Associados, Manaus é a capital que mais investiu em saneamento no Norte e Nordeste nos últimos anos. Desde que assumiu a responsabilidade pelos serviços de água e esgotamento sanitário, em 2018, a Águas de Manaus investiu, em média, R$ 167,48 milhões por ano. O montante se iguala ao investimento do Recife no mesmo período (2018 a 2020). Ao colocar na ponta do lápis, o retorno para a saúde pública no período é o equivalente a quatro vezes o investimento. Para muito além do discurso, a melhoria da saúde da população, entre outros aspectos socioeconômicos, é consequência direta do desenvolvimento do saneamento básico.