edição 35 | abril 2022
Texto: Adan Garantizado
A ocorrência de diarreia aguda, uma das principais doenças de veiculação hídrica – quando a água contaminada é o principal meio de transmissão –, vem se reduzindo nos últimos anos em Manaus. Entre 2019 e 2021, a queda de casos foi de 39%, passando de 99.974 para 60.958 registros na cidade. Os dados são da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – Drª Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP). Um fator apontado por especialistas como essencial para a melhoria nos índices de saúde da cidade: Manaus foi a capital brasileira que mais ampliou o acesso à água tratada de qualidade nos últimos três anos.
Geani Souza, coordenadora estadual do Programa Nacional de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Vigiagua), setor vinculado à FVS-RCP, ressalta que o maior acesso à água tratada tem uma relação direta com as melhorias dos índices de saúde. “Quando a população tem acesso a uma água de qualidade, dentro dos parâmetros recomendados na legislação, o número de casos de doenças relacionadas à água consegue ser reduzido. Consequentemente, as pessoas têm impactos positivos no bem-estar e na qualidade de vida”, disse.
O médico sanitarista Homero de Miranda Leão explica que vírus, bactérias, protozoários e outros parasitas presentes em uma água de má qualidade são os causadores das doenças de veiculação hídrica. No Amazonas, diz ele, a hepatite A, febre tifoide, diarreia e amebíase são as que apresentam maior incidência. Com 40 anos de atuação como médico sanitarista, Homero afirma que vem observando a redução de casos das doenças de transmissão hídrica como consequência dos investimentos realizados na melhoria da qualidade da água, considerada o principal alimento da população. “A melhoria da qualidade de nossa água é indiscutível, se traduzindo em milhares de vidas salvas, especialmente das crianças, que têm a diarreia infecciosa como uma das principais causas de morte”, pontuou.
A moradora do Redenção, Jeane Maria, passou a receber água tratada em casa com os investimentos da Águas de Manaus.
A ampliação da rede de abastecimento está diretamente ligada à melhoria nos índices de saúde.
Quem teve acesso à água tratada pela primeira vez nos últimos anos também reconhece a melhoria nos índices de saúde na cidade. No ano passado, o Instituto Trata Brasil, principal referência no país em estudos sobre saneamento, realizou a pesquisa “Os benefícios da água potável em comunidades vulneráveis em Manaus”, que ouviu moradores de áreas de becos, palafitas e rip-rap localizados na Compensa, Redenção e Cachoeirinha. Todas essas regiões receberam estrutura de abastecimento de água tratada com a atuação da Águas de Manaus.
Na percepção dos próprios moradores, o impacto das doenças de veiculação hídrica foi reduzido em até quatro vezes. Mais de 80% dos entrevistados apontaram que a saúde e a qualidade de vida mudaram para melhor depois da chegada da água potável. Já a confiança na qualidade da água entregue às moradias avançou de 45% para 81%. O número de ligações clandestinas de água, que representavam risco à saúde dos moradores dessas regiões vulneráveis, caiu para índices próximos a zero.
Jeane Maria, que reside no bairro Redenção, foi uma das impactadas pela chegada do abastecimento regular de água há pouco mais de um ano. “Além da facilidade de ter água em casa e não precisar recorrer a outros meios, o abastecimento trouxe mais saúde. Hoje, podemos usar a água para beber e cozinhar confiantes de que não há risco de contrair doenças”, destacou.
Manaus foi a capital que mais investiu em saneamento no Norte e Nordeste nos últimos anos. Desde 2018, foram em média R$ 167,48 milhões por ano. O montante se iguala ao investimento do Recife no mesmo período (2018 a 2020). Os dados são do Ranking do Saneamento 2022, promovido pelo Instituto Trata Brasil e GO Associados.
Atuando na capital amazonense há três anos e meio, a concessionária Águas de Manaus é responsável pelos investimentos no saneamento da capital. A empresa tem feito um trabalho focado na melhoria do abastecimento de água e na regularização em áreas de vulnerabilidade. Mais de 150 mil metros de redes de água foram implantados em becos e áreas de palafita da cidade no período, beneficiando uma população aproximada de 130 mil moradores.
Segundo o diretor-presidente da Águas de Manaus, Thiago Terada, as melhorias nos índices de saúde da cidade já são reflexo do trabalho realizado pela empresa. “Já superamos os R$ 500 milhões de investimentos em saneamento e somos a cidade que mais melhorou seus índices de abastecimento de água e tratamento de esgoto no Norte do país neste período. Ainda há muito trabalho a ser feito, mas estamos no caminho certo. E já estamos colhendo os frutos, que já são perceptíveis principalmente nas áreas vulneráveis, que não possuíam acesso a água tratada de qualidade”, explicou.
A previsão é de que a empresa invista R$ 1 bilhão nos próximos anos, para chegar até 2025 com o percentual de 45% de cobertura de esgotamento sanitário (atualmente, 26% da cidade conta com o serviço) e que o percentual de atendimento de água se mantenha universalizado, acompanhando o ritmo de crescimento da cidade. A empresa também mantém um rigoroso controle da qualidade da água que chega às residências. Por mês, são feitos mais de 25 mil testes, para avaliar se a água atende aos padrões estabelecidos pelo Ministério da Saúde e a presença de microbiológicos. No ano passado, mais de 300 mil testes de qualidade da água foram realizados na água produzida na capital.