edição 35 | abril 2022
Texto: Yolanda Carnevale
Reduzir em dois meses o período da operação assistida, quando as equipes da Águas do Rio (RJ) acompanharam o trabalho realizado pela companhia estadual que administrava os sistemas de água e esgoto, e decolar rumo à universalização do saneamento básico no Estado do Rio de Janeiro, exigiu um plano de voo muito seguro. A base desse planejamento foi o Modelo de Operação Aegea (MOA), capaz de garantir a técnica, os recursos e os talentos necessários.
No primeiro dia de operação plena, 1º de novembro, a Águas do Rio iniciou simultaneamente mais de 100 obras, de pequeno e médio portes, e o MOA começou a se espalhar pelas 27 cidades atendidas, transformando a vida de milhares de pessoas e resgatando a esperança de cidadãos, que, em pleno século 21, não possuem água tratada nas torneiras. São famílias como a da Cristiane Vilela, moradora da Vila Urussai, no município de Duque de Caxias.
“Moro aqui há 22 anos. Para ter água limpa em casa eu pegava minha bicicleta e ia buscar os galões de água. Pela primeira vez, conseguimos tomar banho e lavar os cabelos debaixo do chuveiro e não com baldes. Uma coisa tão simples, mas que a gente não podia fazer, porque não tinha água. Isso é respeito”, relata Cristiane.
A mudança de vida dessa família da Baixada Fluminense, por meio do acesso à água tratada, se repetiu em várias regiões, onde os serviços da Águas do Rio já chegaram, muitos com o apoio dos três mil líderes comunitários, engajados no programa corporativo Afluentes.
Essas lideranças contribuem para a identificação de problemas históricos em suas localidades. Somente nas comunidades da capital, nos primeiros meses de operação, foram realizados em torno de 25 mil serviços de água e de esgoto, como o da comunidade do Jacarezinho, na zona norte do Rio.
O vazamento em uma adutora, que segundo os moradores existia há dois anos, representou o desperdício de 100 piscinas olímpicas de água tratada, superando outro grande vazamento resolvido dias antes no Complexo da Maré, onde 220 mil litros eram jogados fora por dia.
A recuperação dos sistemas existentes é a estratégia neste primeiro ano, como explica o diretor-presidente da Águas do Rio, Alexandre Bianchini. “Estamos focados em fazer com que a infraestrutura existente funcione com plena capacidade. Por isso, nessas obras iniciais, além de atuar para a redução das perdas de água na rede de distribuição, há um intenso trabalho nas áreas de captação de água bruta no interior do estado, onde somos responsáveis pelo tratamento da água”, explica ele.
Outras obras são a reforma das estações de bombeamento, a troca de registros danificados e a modernização das ETEs. “Todas as estações estão operando abaixo do potencial, a exemplo da principal delas, a ETE Alegria, no Rio, que não atinge 50% da sua capacidade. Precisamos recuperar essas unidades, inserir no Centro de Operações Integradas (COI) para que sejam monitoradas e avançar com obras de grande porte como a construção dos coletores de esgoto ao redor da Baía de Guanabara”, afirma Bianchini.
Além da engenharia e da área operacional, o planejamento conta com outra premissa fundamental do MOA, a tecnologia. Presente no COI, a gestão dos sistemas em tempo real, 24 horas por dia, é possível com os recursos de inteligência artificial (IA) e analytics, entre outros. O COI dispõe de 1.500 dataloggers instalados para o monitoramento das pressões nas redes e variáveis, como vazão, níveis de reservatórios e parâmetros elétricos.
E quando falamos em tecnologia a serviço do saneamento, a Águas do Rio realizou nesses três meses um dos maiores mapeamentos digitais de sistemas de água e esgoto do país. Com a metodologia do programa Infra Inteligente, o apoio de drones georreferenciados e equipes em campo, 1.317 plantas operacionais foram digitalizadas e quase 29 mil equipamentos catalogados. Os modelos 3D vão apoiar a gestão dessas unidades a distância.
Até atingir a altitude de cruzeiro ainda há um longo trajeto. Mas o jeito Aegea de servir já está sendo percebido pela população, seja pelo diálogo, pela técnica, transparência, comprometimento ou pela identificação dos talentos. Os profissionais além da conta, um dos talentos da Aegea, por meio da campanha Fluxo do Bem, levaram solidariedade aos moradores das regiões Serrana e Noroeste, afetados por temporais que atingiram essas regiões, inclusive na cidade de Petrópolis.
Os agentes da dignidade, outro talento, estão dando visibilidade a milhares de pessoas que sequer apareciam nas estatísticas do Censo, como nas comunidades da Barreira do Vasco e da Mangueira, onde os agentes do programa de atendimento itinerante Vem Com a Gente cadastraram o dobro dos domicílios previstos. Um deles foi a família de Clayton da Silva, morador da comunidade da Mangueira, contratado pela Águas do Rio.
“Vi minha avó e minha mãe carregarem baldes d’água na cabeça. Hoje eu vejo a felicidade da minha família e dos meus vizinhos em ter água na torneira pela primeira vez. E eu ainda estou contribuindo para essa mudança”, comemora o líder de extensão de rede do programa.
Dos empregos que estão sendo gerados – previsão de 5 mil diretos e 15 mil indiretos –, pelo menos a metade está sendo selecionada em comunidades. No grupo do Vem Com a Gente, representam 60% dos contratados, em alinhamento aos princípios ESG, as boas práticas ambientais, sociais e de governança.
“Temos um olhar especial para manter a diversidade e representatividade étnica, de gênero, crença, idade, orientações e cultura. Nesse ambiente múltiplo que está se formando reforçamos nosso processo de inclusão, onde passamos a compreender, aceitar e valorizar as diferenças. Com essa diversidade temos um grande aprendizado diário”, avalia Bianchini.
Com seleção, recrutamento e capacitação em tempo recorde, com mais de 40 mil horas de treinamento em apenas 3 meses, a concessionária contabiliza 3,1 mil colaboradores diretos. Desses, 76 estão no Programa Jovem Aprendiz, todos moradores em comunidades (veja mais sobre o assunto na Matéria de Capa desta edição).
É dessa forma, de portas abertas aos jovens, criando novas oportunidades e reconhecendo talentos que a Águas do Rio está seguindo a rota, que vem sendo observada no Brasil e no exterior. Os primeiros resultados mostram que a companhia está na trajetória certa para se tornar referência em saneamento básico no Brasil.