edição 40 | 2023 | novembro
Texto: Gabriela Mendonça e Rosiney Bigattão
Depois de vencer o leilão em dezembro de 2022 e assinar o contrato em junho deste ano, a líder em saneamento privado no Brasil reforça sua atuação no Rio Grande do Sul, onde atua desde 2019 com a Ambiental Metrosul, com um amplo programa de parcerias. O plano de investimentos traçado pela Aegea, que está sendo colocado em prática pela Corsan, é investir nos 317 municípios resolvendo questões da falta de cobertura dos serviços de esgoto, enfrentar as faltas de abastecimento de água, regularizar o fornecimento e solucionar problemas crônicos de diversas regiões do estado. Além de combater a escassez hídrica e dar mais segurança para os sistemas da Corsan, a empresa vai possibilitar também o acesso a emprego e renda, cooperando com o estado no processo de desenvolvimento econômico de uma maneira ampla.
A universalização dos serviços para cerca de 6,5 milhões de gaúchos injetará R$ 40,7 bilhões no estado até 2033, segundo um raio X da evolução recente do saneamento, feito pelo Instituto Trata Brasil em parceria com a Ex Ante Consultoria, que projeta impactos econômicos futuros. Desse total, R$ 19,79 bilhões em benefícios diretos e cerca de R$ 20,98 bilhões decorrentes da redução de perdas associadas às externalidades, como internações, redução da produtividade no trabalho, aumento das despesas das famílias, entre outras. Os custos sociais, no período, devem somar aproximadamente R$ 12,84 bilhões, o que significa que os benefícios devem exceder os custos em quase R$ 27,93 bilhões.
Segundo o estudo, cada R$ 1 investido em saneamento nas 317 cidades gaúchas que compõem a área de atendimento da Corsan gera R$ 4,80 em ganhos sociais para a população, incluindo saúde, qualidade de vida e benefícios socioeconômicos diversos. O retorno é bem acima da média nacional, que é de R$ 1,27 na análise realizada até 2021; e de R$ 4,40 na projetada até 2040.
Para Luana Pretto, presidente-executiva do Instituto Trata Brasil, a despoluição dos mananciais, rios, córregos e lagos da região, com ganhos ambientais, será também um grande legado da universalização do saneamento no Rio Grande do Sul. “No Estado do Rio Grande do Sul são despejados, por dia, cerca de 445 piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento nos rios e mares da região. Esta é uma situação que precisa ser enfrentada. Os benefícios econômicos e sociais da universalização do saneamento no estado representam redução de custos com saúde, ganhos ambientais e com turismo e melhor possibilidade de geração de renda e desenvolvimento para o estado”, avalia.
Os investimentos vão representar um impulso especial ao desenvolvimento do turismo em 29 cidades com forte vocação e alta intensidade de atividades do setor. O município de Gramado, um dos destinos mais visitados do país por brasileiros e estrangeiros, tem cerca de 31,4% da força de trabalho voltada para o setor de viagens e, com a expansão dos serviços de água e esgoto, deve contabilizar ganhos de R$ 24,3 milhões.
Já Bento Gonçalves, referência em enoturismo na Região da Uva e Vinho, deve capitalizar R$ 82,2 milhões. Cambará do Sul, conhecida pelos cânions do Parque Nacional da Serra Geral – na divisa com Santa Catarina –, deve se beneficiar com R$ 7,2 milhões; Capão da Canoa, uma das praias mais movimentadas do litoral, deve gerar R$ 7,2 milhões; e São Miguel das Missões, centro da epopeia missioneira, deve ser impactada por aproximadamente R$ 8,5 milhões.
Com investimento de R$ 100 milhões, o programa projetado contempla 356 intervenções com impacto direto na vida de 900 mil gaúchos e benefícios para cerca de 360 mil domicílios atendidos. O objetivo é destravar obras paradas, incrementar a eficiência do sistema e acelerar a ampliação, correção e/ou desobstrução dos serviços de água e esgoto prestados pela Corsan, contribuindo para a redução da falta d’água, a ampliação da cobertura de água e esgoto, a melhoria no atendimento à população, a revitalização dos ativos da Corsan e o avanço em indicadores ambientais e operacionais do serviço.
Todos os 317 municípios da área de abrangência da companhia serão contemplados com benfeitorias definidas de forma customizada de acordo com a realidade de cada cidade. Ao fim dos primeiros 100 dias de operação, a estimativa total de expansão do sistema será de 56,3 km a mais de rede de esgoto, 57,2 km de rede de água e 37,8 km de adutoras. Entre os resultados projetados está um relevante ganho ambiental: com as mudanças promovidas, cerca de 192 piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento deixarão de ser despejadas em rios, córregos, solo e mares gaúchos todos os dias, o que representa uma redução de 43% do total do esgoto dispersado diariamente no meio ambiente do Estado. As entregas programadas contribuem para o cumprimento das metas de universalização dos serviços de água e esgoto estabelecidas pelo Marco Legal do Saneamento, obrigatórias por lei.
O plano de investimentos prevê obras para todas as regiões de atuação da Corsan, as Superintendências Regionais: Fronteira terá sete intervenções, Pampa 16 intervenções, Central 30, Missões 71, Planalto 69, Nordeste 54, Sinos 29, Metropolitana 9, Litoral 18 e Sul 22 intervenções.
ALPESTRE
Construção de adutora Planalto/Alpestre com 10 km de extensão
PASSO FUNDO
Conclusão da duplicação da adutora do Rice aos reservatórios na Vila Matos (total: 2 km)
LAGOA VERMELHA
Execução de adutora de 5 km de outro manancial e implantação de nova captação alternativa de água bruta para uso em períodos de estiagem na região
FONTOURA XAVIER
3 km de adutora de água bruta/eficiência energética
BENTO GONÇALVES
Instalação de nova adutora do booster São Roque até o reservatório 6 e 7 (1,3 km)
ALEGRETE
Substituição e setorização de 3 km de redes na região central
CAMPO BOM
Substituição de 3 km de adutora da Avenida Brasil
GRAVATAÍ
Execução de 1 km de rede de água em local que apresenta problemas frequentes de recuperação de abastecimento em razão da dificuldade de recuperação do nível do reservatório
VIAMÃO
Execução de 400 metros de rede de água para o sistema de abastecimento de Águas Claras
CANOAS
Execução de 2,07 km de extensão de rede de água
O Plano Litoral foi desenvolvido para atacar um dos casos mais emblemáticos de insuficiência da cobertura dos serviços de esgoto no estado, problema que, há anos, ameaça o bem-estar de moradores e o veraneio dos turistas em cerca de 50 municípios. O índice de acesso a esgoto da região, de acordo com o Plano Estadual de Saneamento (Planesan), é de 26%, cenário agravado com o aumento da população flutuante durante o período de férias de verão (que chega a aumentar em 500% em algumas praias), trazendo risco real ao deságue de volumes não tratados que podem pôr em xeque a balneabilidade das praias e a saúde dos banhistas.
O trabalho da Aegea consistirá em novos investimentos e melhorias operacionais nos sistemas de água e esgotamento sanitário, além de substituir a utilização das bacias de infiltração da região, que apresentam baixa capacidade operacional, pelo lançamento de efluentes tratados nos rios Tramandaí (dejetos de Capão da Canoa, Xangri-lá e Atlântida Sul) e Mampituba (Ponto 3 – dejetos de Torres, Arroio do Sal e Arroio Teixeira; Ponto 4 – dejetos de Imbé e Tramandaí). As ações prioritárias do programa incluem a adequação e construção de estações de tratamento de esgoto (ETEs); execução de elevatória de esgoto tratado; construção de emissário da ETE e desativação de ETEs.
O Plano de Resiliência Hídrica foi criado para eliminar a falta d’água na Corsan até o fim de 2025 e acabar com o uso estrutural de caminhão pipa para abastecimento, prática que onerou o sistema de saneamento básico do estado com gastos de R$ 12,5 milhões em 2022. Os cinco municípios que mais utilizaram caminhão pipa no ano passado foram Fontoura Xavier, São Valentim, Pinto Bandeira, São João da Urtiga e Derrubadas. O trabalho atende a um dos valores inegociáveis da Aegea: que nenhuma residência abastecida pela empresa sofra com estiagem e consequente falta de água.
Com a ativação desta força-tarefa, a Corsan dá início ao desenvolvimento de planos de curto, médio e longo prazos e de um plano de contingência para combater a falta de água nos municípios atendidos pela companhia. Ações de redução de perda d’água e soluções de caráter preventivo serão prioritárias. Entre os municípios com mananciais em nível mais crítico na área Corsan estão, nesta ordem: Morro Redondo, Cerro Grande do Sul, Viamão, Gravataí, Mariana Pimentel, Sertão Santana, Barão do Triunfo, Glorinha, Dom Feliciano e Santo Antônio da Patrulha.
De acordo com estudo da Aegea, o número de horas planejadas de intermitência no abastecimento de água nas dez regiões atendidas pela Corsan é de apenas 24% do total de horas de serviço intermitente, o que significa que 76% das horas registradas de serviço intermitente não foram planejadas. As regiões com maior intermitência são, nesta ordem: Planalto (69h não planejadas por economia, ao ano), Metropolitana (68h/ano) e Nordeste (64h/ano). Os três principais causadores de intermitência do abastecimento são manutenções do sistema, rompimentos de rede/adutora/ramal e falta de energia elétrica, seguidos por indisponibilidade hídrica.
Tecnologia avançada em gestão e inteligência de dados é uma das aliadas da Aegea no desafio de realizar um trabalho de alta eficiência operacional, com transparência das informações e regularidade dos serviços prestados para mais de 6,5 milhões de gaúchos. Esta será a principal função do Centro de Operações Integradas (COI) que vai monitorar ocorrências na infraestrutura de saneamento básico em tempo real, com ajuda de inteligência artificial e IoT (Internet das Coisas), analisando o funcionamento dos ativos, dados e alterações do sistema nos 317 municípios atendidos pela Corsan.
O COI contará com softwares e equipamentos automatizados capazes de analisar inúmeras variáveis, como pressão, vazão, temperatura, energia e produtos químicos, otimizando a gestão das redes de água e esgoto, facilitando a criação de soluções rápidas e ações preventivas para evitar desabastecimentos ou interrupções no fornecimento do serviço.
Outro recurso empregado pela empresa será o sensoriamento remoto por satélite para escanear com precisão o subsolo e encontrar vazamentos e perdas na rede de abastecimento de água. O equipamento, de origem israelense, já utilizado pela concessionária Águas do Rio, conta com softwares inteligentes para identificar o que é água tratada por meio do cloro dissolvido na água, utilizado nas estações de tratamento, diferenciando, assim, do que é água bruta – lençol freático, rios subterrâneos ou poços artesianos. Como resultado, as equipes profissionais poderão tomar decisões mais assertivas e agilizar reparos, evitando perdas e otimizando a distribuição de água.
O Rio Grande do Sul também passará a contar com projeto da Aegea que foi apontado como um dos três mais avançados programas de digitalização do mundo na categoria “Surveying and Monitoring”, do Year in Infrastructure Awards, maior premiação de infraestrutura do mundo. O Programa Infra Inteligente produz um inventário de ativos da empresa e cria gêmeos digitais, ambientes virtuais idênticos à realidade da infraestrutura da operação. Isso significa que as equipes podem realizar visitas virtuais às instalações, avaliando em tempo real estações de tratamento de água e de esgoto, reservatórios, poços, tubulações, etc.
O mapeamento é realizado com a ajuda de drones, câmeras esféricas 360 e GPS, que permitem identificar com riqueza de detalhes o quê, onde e em que condição se encontram os bens e ativos físicos de cada unidade Aegea. O foco é a prevenção de manutenções e o aprimoramento do processo de modernização da infraestrutura de saneamento. Essas ações resultam em maior disponibilidade dos serviços para a população, além de trazer assertividade nas operações, com uma visão em tempo real das estruturas, em qualquer lugar do mundo, pela equipe de especialistas da Aegea.