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edição 38 | 2023 | janeiro a março

REGIONAL 2

O desafio da universalização

EQUILÍBRIO ENTRE INFRAESTRUTURA E CONDIÇÕES DE ACESSO

Leandro Marin,
vice-presidente da Regional 2 da Aegea.

Texto: Rosiney Bigattão

Um ponto importante para atingir a universalização é o equilíbrio entre a infraestrutura adequada a um preço que todos possam pagar, segundo o vice-presidente da Regional 2 da Aegea, Leandro Marin. “Propiciar o acesso para todos é a grande ambição do setor, o que já é um desafio enorme, pois implica ampliar as coberturas, as estações de tratamento de água e esgoto, fazer com que cada casa tenha acesso. Qualidade e universalização da infraestrutura são os dois grandes pilares e desafios enormes que a gente tem aí. Esse conjunto de coisas, no estágio em que estamos no país, ainda leva uns dez anos para resolver. Tem outras questões que já estão sendo levantadas, como a economia circular; é um esforço conjunto e amplo, estamos lançando olhares sobre a circularidade desse sistema que vai proporcionar sustentabilidade de uma forma mais ampla, mas o grande foco ainda é a universalização, em todos os sentidos”, afirma ele.

“Todas as rotas tecnológicas que a gente pode desenvolver no caminho da universalização podem trazer também essa pegada de circularidade total no manejo do ciclo da água. É preciso mudar um pouco o ângulo, pois os prestadores de saneamento são uma ferramenta. É permanente o trabalho de conscientização, as empresas precisam mobilizar as autoridades e a sociedade para gerar esse interesse e esse envolvimento pelo saneamento. As pessoas precisam querer ter acesso, se conectar, pagar a conta, usarem o serviço e cobrar as metas das autoridades competentes. Isso tudo vem junto, à medida que os resultados vão surgindo, o saneamento vai avançando, gerando um círculo virtuoso de mobilização que vai gerar o resultado esperado”, enfatiza Leandro Marin.

As brasicidades na Regional 2

É muito diferente você fazer uma obra na Região dos Lagos, onde está a Prolagos, a maior concessionária da Regional 2, que deve migrar para a Regional 4, ou na Região Metropolitana de Porto Alegre, área da Ambiental Metrosul, segundo o vice-presidente. “São outros hábitos, outras culturas, outras prioridades. Uma região está mais preocupada com a questão ambiental por causa do turismo, outra quer tirar o atraso do saneamento, levar a infraestrutura, então é um apelo maior em ver as obras caminhando, em ver o movimento de execução. Tem também uma questão ambiental forte por conta da poluição dos rios da região metropolitana”, conta Leandro.

Na Prolagos o aspecto ambiental também é muito relevante por conta da Lagoa de Araruama. “A despoluição já aconteceu, que é uma mini-Baía de Guanabara – o que a gente fez na Região dos Lagos vai ser feito em uma escala maior no Rio de Janeiro. Na Região dos Lagos os resultados dos investimentos em saneamento são visíveis, avançaram muito. Em contrapartida, a Prolagos tem uma característica parecida com o que acontece em Santa Catarina, que é a temporada do verão: a população aumenta três vezes em relação à população residente e tem toda essa demanda de abastecer, que vem com o verão, com os feriados, é uma questão bem peculiar em função da sazonalidade”, explica Marin.

Turismo e saneamento

“Bombinhas, um dos maiores polos turísticos do país, deixou de lado o esgotamento sanitário; nosso desafio, além de abastecer a população flutuante, é implantar as redes. Havia muitos entraves nos contratos, conseguimos resolver e estamos avançando. São Francisco do Sul já tem estação de tratamento, estamos fazendo a rede, em Bombinhas já tem uma estação operando, vamos começar uma nova e a rede. Obra de esgoto interfere demais com a vida da cidade, pois gera um transtorno. Outra é o valor, que aumenta à medida que o esgoto é disponibilizado e cobrado. São questões que exigem sintonia fina com o Poder Público, é preciso planejar as intervenções, cobrar as empresas prestadoras de serviço para que executem a obra da melhor forma, com o menor transtorno e sempre ouvindo a população”, afirma o VP.

Rios poluídos porque os imóveis não estão conectados à rede

“Nas cidades onde atuamos no Espírito Santo tem uma defasagem enorme na infraestrutura, mas existem outras questões que contribuem para que a percepção sobre o serviço não seja tão rápida quanto a expansão da rede. O resultado são muitos imóveis não conectados à rede – 25 mil, em Serra, por exemplo –, que é uma cidade de 100 mil habitantes. Existe a rede de coleta, uma cobertura alta, mas as pessoas não se conectam na velocidade que deveriam. Então os córregos, os corpos hídricos, estão poluídos e a conta volta sempre para a concessionária. Na percepção leiga, é a concessionária que não está fazendo o serviço dela adequadamente. Temos muitos problemas também com o uso inadequado da rede, então, se tem obstruções e entupimentos, são questões locais que a gente vai trabalhando com conscientização para conseguir avançar”, afirma ele.

Preservação dos mananciais

Uma das principais ações que a Aegea realiza, em parceria com instituições, é de preservação dos mananciais. “Temos muitos rios nas cidades brasileiras completamente poluídos, não só na ponta do consumo, mas na disponibilidade hídrica. Temos de atuar muito fortemente, senão a água vai ficando cada vez mais distante e mais cara para todo mundo. Trazer água de muito longe não é bom para ninguém. Então a preservação, junto com campanhas de uso consciente, é fundamental para que o sistema se equilibre. Temos projetos de preservação de nascentes, programas ambientais, de reflorestamento, são várias iniciativas no sentido de cuidar dos mananciais”, diz Leandro Marin.

Economia circular: o exemplo da Mirante

A Aegea investe continuamente em soluções voltadas à economia circular, especialmente com ações que envolvem o manuseio e a reutilização do lodo em suas operações. O primeiro passo dessas ações é caracterizar as diferentes composições do lodo das estações de tratamento, assim como pesquisar o potencial de uso local, da recuperação química e energética do material. Um exemplo desse trabalho é o realizado na Mirante, uma das unidades da Regional 2 em São Paulo. A parceria envolvendo a empresa, a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/USP) foi a vencedora do Prêmio ECO 2022.

Silvia Letícia Tesseroli, diretora-presidente da Parceria Público-Privada Mirante, destaca que o projeto é parte de um seleto grupo de iniciativas inovadoras e inspiradoras em sustentabilidade desenvolvidas pela unidade. “O projeto do lodo integrado à economia circular contribui para inspirar o desenvolvimento de práticas sustentáveis no saneamento, além de deixar um legado positivo para a população. Ele foi desenvolvido por colaboradores da empresa, a comunidade e pesquisadores locais”, disse a diretora-presidente da Mirante. Desde 2020, a PPP realiza a secagem do lodo à luz solar, iniciativa que reduz o volume total de lodo gerado nas quatro maiores estações de esgoto de Piracicaba. São aproximadamente 1,2 mil toneladas por mês que deixam de ir para os aterros sanitários.

Agenda do saneamento deve ser de toda a sociedade

Para Leandro Marin, esse conjunto de iniciativas vai ajudar com que o planeta tenha um futuro mais sustentável, com foco no meio ambiente e nas pessoas, com mais oportunidades para todos, com um sistema equilibrado e avançando.

“Sou bastante otimista porque os resultados já estão vindo, os desafios estão muito bem formulados e as ações estão sendo feitas. Independente do governo, da orientação política, ninguém discorda que a universalização é necessária, que precisa incluir as pessoas, trazer desenvolvimento e educação. É uma pauta que se sobrepõe a qualquer outra. É fundamental que a sociedade se aproprie dessa agenda – ela não é da empresa, é muito maior do que isso –; é de todos nós. A Aegea e seus acionistas estão o tempo todo reafirmando que acreditam nisso, nessa jornada de crescimento no país. Continuamos todos vigilantes para que a nossa missão e a ambição de universalizar prosperem de fato”, finaliza.